terça-feira, 6 de junho de 2017

Mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015, aponta pesquisa


Entre 2005 e 2015, mais de 318 mil jovens foram assassinados no País, de acordo com pesquisa "Atlas da Violência" divulgada nesta segunda-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No intervalo desses anos, observou-se um aumento de 17,2% na taxa de homicídio de indivíduos entre 15 e 29 anos. Somente em 2015, as mortes de jovens corresponderam a 47,8% do total de óbitos. O estudo analisa o perfil das vítimas de violência no Brasil e traz dados por Estados. O número de homicídios no Brasil se manteve estável em 2015, em proporção semelhante dos dois anos anteriores. Segundo o Ministério da Saúde, nesse ano houve 59.080 mortes. Mas, se considerarmos o período de 2005 a 2015, houve um aumento de 10,6%. “Tal índice revela, além da naturalização do fenômeno, um descompromisso por parte de autoridades nos níveis federal, estadual e municipal com a complexa agenda da segurança pública”, afirmam os pesquisadores. Embora tenha se mantido estável, o dado é exorbitante, de acordo com a análise dos pesquisadores. Para dimensionar esse volume, o estudo traz uma comparação: em apenas três semanas o total de assassinatos no País supera a quantidade de pessoas mortas em todos os ataques terroristas no mundo, nos cinco primeiros meses de 2017, incluindo o que ocorreu no show da cantora Ariana Grande, em Manchester. Desde o início do ano, foram 498 atentados que resultaram em 3.314 mortos. 


A pesquisa aponta que o perfil típico das vítimas fatais permanece o mesmo: homens, jovens, negros e com baixa escolaridade. Mas, na última década, o viés de violência contra jovens e negros aumentou ainda mais. Entre 2005 e 2015, enquanto houve um crescimento de 18,2% na taxa de homicídio de negros, a mortalidade de indivíduos não negros diminuiu 12,2%. Com relação ao gênero, 4.621 mulheres foram assassinadas no Brasil em 2015, o que corresponde a uma taxa de 4,5 mortes para cada 100 mil mulheres. E, mais uma vez, as diferenças raciais ficaram evidenciadas: enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras diminuiu 7,4%, entre 2005 e 2015, o indicador equivalente para as mulheres negras aumentou 22%. “Ainda que, em termos de letalidade violenta, as mulheres sejam menos afligidas, este número representa uma pequena ponta do iceberg das centenas de milhares de violências (físicas, psicológicas e materiais) que afligem a população feminina, que são motivadas por uma cultura patriarcal e que passam invisíveis aos olhos da sociedade”, pontua a pesquisa. De acordo com o estudo, 41.817 pessoas foram mortas por armas de fogo, o que correspondeu a 71,9% do total de homicídios no País. “Depois de uma redução nas mortes por armas de fogo que se seguiu após o Estatuto do Desarmamento até 2007, observou-se um incremento nas mortes por esse tipo de instrumento nos últimos anos, sobretudo, no Norte e Nordeste do País. Conforme indicam as pesquisas científicas, a difusão das armas de fogo é um elemento crucial que faz aumentar os homicídios. Portanto, há a necessidade de se aprimorar o controle de armas no País, não apenas no que diz respeito à operacionalização acerca do que está previsto na Lei, mas ainda pelo desenvolvimento de um trabalho integrado de inteligência policial que envolva os vários níveis governamentais, de modo a restringir os canais que permitem que a arma entre ilegalmente no País, ao mesmo tempo que possibilite a apreensão e destruição das armas que se encontram em circulação no mercado ilícito”, afirma o estudo. Em 2015, apenas 111 municípios (2% do total de municípios) responderam por metade dos homicídios no Brasil. Em relação aos municípios mais violentos, em 2015, com mais de 100 mil habitantes, Altamira, no Pará, lidera a lista, que tem representantes de Unidades Federativas das cinco regiões brasileiras. Enquanto o Norte e Nordeste possuíam 22 municípios neste ranking, o estado de Goiás participou com quatro municípios.  

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