segunda-feira, 26 de junho de 2017

Estados Unidos suspendem importação de carne "in natura" do Brasil


Os Estados Unidos suspenderam na quinta-feira todas as importações de carne bovina “in natura” do Brasil devido a recorrentes preocupações com a segurança sanitária dos produtos, informou em comunicado o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A suspensão deve continuar até que o Ministério da Agricultura do Brasil tome “medidas corretivas” que o departamento considere satisfatórias, informou o órgão. 

O USDA informou também que, desde março, quando foi deflagrada a operação Carne Fraca no Brasil, o Serviço de Inspeção e Segurança de Alimentos dos Estados Unidos (FSIS) recusou 11% dos produtos de carne fresca brasileira que tentaram entrar no país. Com a operação, o FSIS passou a inspecionar toda a carne nacional que chegava em solo americano. 

“Esse valor é substancialmente superior à taxa de rejeição de 1% das remessas do resto do mundo. Desde a implementação do aumento da inspeção, o FSIS recusou a entrada para 106 lotes (aproximadamente 1,9 milhões de libras esterlinas) de produtos bovinos brasileiros devido a problemas de saúde pública, condições sanitárias e problemas de saúde animal”, afirmou o USDA. 

Segundo o departamento, o governo brasileiro se comprometeu a resolver essas questões, “inclusive pela autossuspensão de cinco instalações de transporte de carne para os Estados Unidos”. O mercado de carne bovina brasileira nos Estados Unidos havia sido fechado em 2003 e só foi reaberto no ano passado. De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), os EUA importaram 18,9 milhões de reais em carne “in natura” do Brasil de janeiro a maio deste ano. 

O volume ainda é pequeno, se comparado ao total que o país embarca, mas a suspensão americana é representativa, porque os critérios dos países da América do Norte costumam ser observados por outras nações. Quando obteve autorização para a entrada nos EUA, por exemplo, o setor privado brasileiro viu o processo como uma possibilidade de ganhar outros mercados importantes, como o do Japão e Coreia do Sul. 

Na semana passada, o Ministério da Agricultura brasileiro suspendeu as exportações de cinco frigoríficos para os Estados Unidos, depois de as autoridades sanitárias americanas identificarem irregularidades provocadas pela reação à vacina de febre aftosa. 

De acordo com técnicos do Ministério da Agricultura, o mecanismo de “autossuspensão” permitiria que as exportações fossem retomadas de forma mais acelerada. Em nota, eles disseram que “trabalham para prestar todos os esclarecimentos e correções no sentido de normalizar a situação”. O Ministério da Agricultura brasileiro ainda não se manifestou sobre a nova suspensão. 

Os EUA foram um dos poucos países que não interromperam a compra de carne do Brasil depois de a Operação Carne Fraca, lançada em março, identificar problemas sanitários em várias plantas exportadoras. A primeira fase visou a atuação de Daniel Gonçalves Filho, ex-superintendente da Agricultura no Paraná, considerado o responsável por um esquema de propina em troca de vantagens indevidas a frigoríficos de todos os portes. 

Autorizada pelo juiz federal Marcos Josegrei da Silva, a Carne Fraca bloqueou cerca de um bilhão de reais, entre contas e bens de investigados. Nos dias que se seguiram, diversos países ameaçaram restringir a compra de carne brasileira, o que levou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), e o presidente Michel Temer (PMDB) a fazerem eventos e viagens para convencer governos estrangeiros a continuarem acreditando na qualidade dos produtos.

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