sexta-feira, 16 de junho de 2017

Brasileiro é alvo de operação que investiga desvio de US$ 45 milhões do Banco Central de Angola


O empresário brasileiro Valdomiro Minoru Dondo, um dos homens mais ricos e poderosos de Angola, foi alvo na quarta-feira da Operação Le Coq, que mobilizou cerca de 60 agentes da Polícia Federal no Rio de Janeiro para o cumprimento de quatro mandados de condução coercitiva e 12 de busca e apreensão. A pedido da Justiça francesa, o Ministério Público Federal, em parceria com a Polícia Federal, investiga a utilização de intermediários em contratos entre o governo angolano e empresas estrangeiras na produção de papel moeda mediante pagamento de US$ 45 milhões em propina. Duas juízas francesas acompanharam a operação.

Minoro e Oscar Henrique Durão Vieira, um dos sócios do negócio, não foram encontrados pela Polícia Federal, mas os agentes conduziram, sob coerção, Vicente Cordeiro de Lima e Gerson Antônio de Souza Nascimento, com quem foram apreendidos 127 relógios no valor superior a R$ 1 milhão. Os quatro são acusados de participar de esquema que lesou contratos do Banco Central angolano com a empresa francesa Oberthur, especializada na fabricação de papel moeda.

De acordo com investigações iniciadas na França, os brasileiros, associados a angolanos e fazendo-se de representantes da Oberthur, teriam recebido comissões de 35% no valor dos contratos com o Banco Central, entre 2001 e 2012, à revelia da empresa francesa. Para isso, criaram uma cadeia de empresa de fachada, localizadas em Portugal e Hong Kong, que recebiam a propina.

Em sociedade com autoridades angolanas, Minoru construiu um império de negócios de mais de 20 empresas, tendo como cliente o governo do país. Em dezembro de 2011 ele era sócio, como pessoa física, de autoridades, ex-autoridades ou pessoas próximas a dirigentes governamentais, como Pedro Sebastião Teta, então vice-ministro da Ciência e Tecnologia, na empresa Júpiter; do brigadeiro Leopoldino Fragoso, o Dino, na Supermar; e da irmã da primeira-dama, Artemísia Cristina Cristóvão de Lemos, no Bob’s.

A proximidade entre Minoru e a família do presidente José Eduardo dos Santos, há três décadas no comando de Angola, é conhecida no país. Os negócios de Minoru em Angola começaram com a empresa Macon, de transportes coletivos, antes concentrados em lotadas de táxi e caminhonetes. Reportagem da revista “The Economist” questionou a utilidade de investimentos do governo, mostrando que foram comprados três mil ônibus, quando o país só tinha 1.500 motoristas habilitados. No começo desta década, suas empresas lucravam R$ 90 milhões anuais com contratos públicos em Angola.

Minoro não foi localizado para comentar as investigações. A Polícia suspeita que ele esteja em Luanda. Ele foi acusado em Angola de selar negócios com o Ministério da Saúde, a Casa Militar, o Ministério das Finanças e governos provinciais, supostamente transferindo recursos para empresas suas situadas em paraísos fiscais, como Ilha da Madeira, Ilhas Cayman, Suíça e Miami.

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