domingo, 28 de maio de 2017

Conheça o perfil de Andrea Neves, a "primeira-irmã de Minas Gerais"


Tancredo Neves se preparava para disputar o governo de Minas Gerais. O ano era 1982 e o Brasil caminhava rumo à redemocratização, com a primeira eleição direta para governador em duas décadas. Aos 72 anos, o ex-ministro de Getúlio Vargas convocou o neto Aécio Neves para reunião. Queria que o jovem participasse de sua campanha, pois vislumbrava no então estudante de 22 anos um aprendiz. Andrea, a irmã mais velha de Aécio Neves, resolveu acompanhar o encontro e explicou para o avô. "Vim junto, de enxerida", disse ela, que, na época, era mais envolvida com política do que o irmão e participava ativamente do movimento estudantil. Aécio Neves atendeu aos apelos do avô. Andrea o acompanhou e também trocou as praias do Rio de Janeiro pelas montanhas que emolduram Belo Horizonte. Começava ali, efetivamente, a carreira do tucano, e Andrea assumia o papel de esteio político do irmão. Tímida e discreta, sempre atuou nos bastidores. É considerada mentora e braço direito do tucano. No último dia 18, ganhou os holofotes ao ser presa preventivamente pela Polícia Federal durante a Operação Patmos, deflagrada a partir da delação da JBS. Ela é acusada de intermediar pagamento de propina de R$ 2 milhões ao irmão, que foi afastado do mandato e está com pedido de prisão pendente de julgamento no Supremo Tribunal Federal. Andrea é formada em Jornalismo e foi militante de esquerda na juventude — ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio de Janeiro. Em 1985, viajou a Cuba, onde se encontrou com Fidel Castro. Antes, na noite de 30 de abril de 1981, foi testemunha do atentado no Riocentro, ao socorrer o capitão Wilson Machado após a explosão das bombas que o militar carregava em um carro, com a intenção de forjar um ataque de radicais. Sobre a relação com o avô, por quem tinha profunda admiração, Andrea escreveu, em artigo publicado pela revista Vogue em 1984, ano da campanha pelas Diretas Já: "A rigidez do seu caráter, a profunda solidariedade que o liga aos amigos e a fé que ainda consegue ter nos destinos do País são aspectos da sua personalidade que transparecem para todos que partilham do seu convívio. Se é verdade que a minha infância o quis mais por perto e que a minha adolescência lhe cobrou alguns arroubos, também é verdadeiro o profundo encantamento que sua alma sempre exerceu sobre o meu coração". 


Nascida em Belo Horizonte, em fevereiro de 1959, Andrea foi casada com o jornalista Herval Braz, com quem teve uma filha durante período no qual vivia no Rio de Janeiro. Sofreu um duro golpe ao perder o marido, em 1999, vítima de câncer. Com ajuda do irmão, reconstruiu sua vida em Belo Horizonte, para onde regressou, em 2002, ano da campanha de Aécio ao governo de Minas. E redescobriu também o talento político da juventude. Durante os dois mandatos do tucano, Andrea, que se casou com o arquiteto Luiz Márcio Haddad Pereira, filho do ex-governador Francelino Pereira, exerceu duas funções: a de presidente do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) e a de membro do Grupo Técnico de Comunicação. Foi nesse período que comprou briga com jornalistas e ganhou de desafetos apelidos de "Goebbels das Alterosas" e "Golbery do Aécio", alusões ao poder do ministro da Propaganda de Hitler e ao general Golbery do Couto e Silva, eminência parda do governo Ernesto Geisel (1974-1979). Nas redações, também era conhecida como "Andrea Mãos de Tesoura". Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Kerison Lopes, dezenas foram demitidos a pedido dela nos primeiros anos do governo Aécio Neves. Parte da imprensa mineira chegou a comemorar a prisão da "primeira-irmã de Minas". "Gostou da pauta, Andrea? A pauta é boa?", ironizavam os jornalistas que acompanhavam a chegada dela ao Instituto Médico Legal, logo após a prisão. Conforme Lopes, foi uma manifestação espontânea dos profissionais, em tom de desabafo — Andrea costumava perguntar se a pauta era boa quando queria vetar uma matéria. Depois que o sindicato denunciou casos de censura e perseguição ao Ministério Público e à Assembleia Legislativa, ela teria começado a manipular verbas publicitárias para intimidar veículos. Apesar das críticas, Lopes reconhece as habilidades de Andrea: "Ela é muito trabalhadora, ao contrário do irmão. É estrategista, orientava o governo como um todo. É como se fosse uma mãe para o Aécio. Cuidava dele e dos excessos, pois ele sempre teve um comportamento bastante juvenil". Sem nunca ter disputado cargo eletivo, em jantares e reuniões com políticos, Andrea era tratada como se fosse governadora de Minas Gerais. Tamanho era o seu poder que, durante o primeiro mandato de Aécio Neves, em uma missa de fim de ano realizada no Palácio da Liberdade, formaram-se duas filas para cumprimentar os irmãos — a mais extensa era a dela. O PSDB mineiro chegou a cogitar seu nome para suceder Aécio Neves. Há quem diga que desistiu de concorrer para não prejudicá-lo. Considerada uma das mulheres mais poderosas do País, Andrea coleciona versões da obra "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll. Como a personagem, a jornalista tem imagem dúbia e enigmática: pode ser grande e ameaçadora, na visão de opositores, ou pequena e amável, segundo amigos presenteados com poemas. "Cada um de nós tem a oportunidade de ser vários. Penso em quantas Andreas já fui e me pergunto qual delas sussurra no meu ouvido diante de cada decisão, de cada escolha", escreveu, em sua página no Facebook, revelando seu lado poetisa, também flagrado por grampo da Polícia Federal que registrou declamações de poemas entre ela e o jornalista Reinaldo Azevedo. Em outra passagem na rede social, Andrea disse ter "péssima memória", mas acreditar "na força das lembranças e do destino", que "costuma nos alcançar mais depressa justamente nos atalhos que escolhemos para fugir deles".

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