domingo, 16 de abril de 2017

Odebrecht diz estar "incomodado" com "surpresa" da imprensa sobre delações


Em depoimento ao Ministério Público, Emilio Odebrecht disse se sentir "incomodado" com o fato de, segundo ele, a imprensa tratar as revelações da empreiteira que leva seu sobrenome "como se fossem surpresa". "O que nós temos não é de cinco, de dez anos. É de trinta anos. Esse sistema era um negócio institucionalizado, normal. O que me surpreende – e quero enfatizar – é quando vejo todos esses poderes, a imprensa, tudo, como se isso fosse surpresa. Me incomoda isso", afirmou. Por escrito, antes de depor, ele sustentou que "tudo isso acontecia 'nas barbas' das elites brasileiras (políticos, empresários, imprensa, entidades representativas)". "Era do conhecimento explícito ou implícito de todos ou pelo menos da maioria dessas elites. A aceitação era generalizada e todos se acomodavam por motivos individuais e diversos", escreveu. Também anotou nos papéis entregues que há um interesse recíproco no estreitamento de relações entre agentes públicos e o setor privado. "Seja para apoiar projetos e ações legítimas em razão do seu simples mérito, seja para condicionar seu apoio, mesmo a projetos e ações legítimas, a contrapartidas financeiras indevidas", escreveu. Em depoimentos, tanto Emilio quanto seu filho Marcelo disseram em depoimentos que receberam pedidos para ajudar a revista "Carta Capital" e que o grupo aceitou fazer um empréstimo de R$ 3 milhões à publicação. O montante foi providenciado pelo chamado "setor de operações estruturadas", que cuidava do pagamento de propina e de recursos de caixa dois. Pelo relato dos delatores, não foi um empréstimo formal. Emílio afirma que recebeu um pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ajudar a publicação, enquanto Marcelo diz que Guido Mantega fez a mesma solicitação a ele. Segundo os delatores da Odebrecht, a dívida foi paga com espaço publicitário na revista. Em nota, a editora responsável pela publicação afirma que que, de 2007 a 2009, a Odebrecht fez um adiantamento de publicidade no valor de R$ 3,5 milhões à revista e diz tratar-se de uma operação normal no mercado, que não teve intermediários. 

Nenhum comentário: