domingo, 16 de abril de 2017

Delator da Odebrecht diz que entidade indicada por Sérgio Zambiasi recebeu mesada da empreiteira propineira


O ex-senador gaúcho Sérgio Zambiasi, proprietário do PTB no Rio Grande do Sul, recebeu pagamentos sistemáticos para auxiliar a Odebrecht a obter contratos de obras no Porto de Rio Grande (RS). A informação foi dada por dois dirigentes delatores da empreiteira, João Borba Filho e Valter Lana, em depoimento à Procuradoria-Geral da República. Eles mencionam também que "ajudaram" dois outros parlamentares gaúchos, os deputados federais Darcísio Perondi (PMDB) e Paulo Pimenta (PT). Por ter considerado que faltam provas para abrir inquérito contra os três políticos, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, solicitou investigações adicionais por parte da Procuradoria Geral da República. Em depoimento prestado em dezembro, Valter Lana disse que Zambiasi recebeu doações mensais (mesada, mensalinho) de R$ 11 mil no ano de 2012, referentes a ajuda para que a Odebrecht conseguisse receber pagamento pelo prolongamento dos molhes do porto de Rio Grande. Ele era então senador. A obra foi iniciada em 2001, paralisada e concluída em 2012, quando Zambiasi já tinha voltado a ser radialista, sem cargo político. "Os pagamentos objetivavam apoio político e eram feitos a uma instituição de caridade no bairro Serraria, em Porto Alegre, indicada por Zambiasi", acrescentou o dirigente da Odebrecht. Como prova, Lana repassou tabela do Drousys (sistema de informática montado na Suíça, que contabilizava pagamentos ocultos da Odebrecht a políticos) em que consta repasses a Zambão (esse seria o apelido de Zambiasi dentro da empreiteira). Lana salienta que para Zambiasi as doações mensais da Odebrecht eram "não contabilizadas" (caixa 2), canalizadas a um albergue para idosos e dependentes de drogas. Isso foi feito para evitar vínculo da empresa com o político, esclareceu o dirigente da empreiteira. "Não tenho conhecimento se o senador sabia dessa forma de pagamento (que era caixa 2)", falou Lana. O dirigente da Odebrecht informou que os pagamentos eram em espécie e entregues em escritório na Avenida Borges de Medeiros, em Porto Alegre, a um emissário de Zambiasi chamado Brasil. "O albergue existia, visitei e fiquei penalizado com a situação", descreveu Lana. Zambiasi também é citado em uma investigação da Polícia Federal a respeito dos molhes. Em buscas, a Polícia Federal conseguiu cópia de e-mail, de 3 de outubro de 2004, de João Borba (dirigente da Odebrecht) para Benedicto Junior (então presidente da Odebrecht). A mensagem está intitulada "Assunto: recebimentos realizados". A transcrição dela: 
"Dr. Júnior, em função dos recebimentos já realizados em setembro, solicito, se possível, para 5/10, os seguintes valores: 
1 - PORTO DO RIO GRANDE - por conta de recebimento
Recebido - R$ 4.500
Compromissos:
BETÃO - 36 SC (Santa Catarina)
ZAMBÃO -36 BSB (Brasília)
LEGISLADOR - 18 BSB
OPERADOR - 22,6 BSB"
O delator João Borba confirmou a autenticidade do e-mail e disse ter sido encarregado de repassar R$ 112 mil, em 2004, a políticos com aqueles apelidos. O objetivo era garantir apoio para pagamentos à Odebrecht de contratos que estavam paralisados no governo federal, entre eles o dos molhes de Rio Grande. A dívida do governo com a empreiteira era de R$ 4,5 milhões. Ele disse que os pagamentos aos parlamentares foram feitos via caixa 2 (não declarados à Justiça Eleitoral) e que recorda apenas que Zambão era Zambiasi — dos demais, não sabe a quem se referem os codinomes.

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