José de Carvalho Filho, ex-executivo da Odebrecht, disse em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral que negociou pessoalmente com Eliseu Padilha, atual ministro da Casa Civil, a distribuição de R$ 4 milhões para o PMDB em 2014. Segundo Carvalho, parte dos R$ 4 milhões que Padilha distribuiria seriam entregues ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E que a entrega seria feita no escritório do advogado José Yunes, em São Paulo. Esse montante era parte de uma doação maior, de R$ 10 milhões, que a construtora destinaria para o partido naquele ano. Carvalho disse que esteve pessoalmente com o ministro quatro ou cinco vezes para pegar endereços e distribuir senhas. "A sistemática era: eu chegava expor até ele e ele me fornecia o endereço, eu transmitia ao sistema de Operações Estruturadas, a Sra. Maria Lúcia, que uns dias depois, me entregava uma senha. Eu pessoalmente entregava essa senha, entreguei essa senha ao Sr. Eliseu Padilha. E, a partir dali, eu não tinha como e nem sabia como as coisas eram operacionalizadas. Então, esclarecendo que estive com ele quatro ou cinco vezes para pegar esse endereço e voltei novamente para pegar essas senhas". De acordo com o ex-executivo, o dinheiro foi acertado entre a cúpula da Odebrecht e Eliseu Padilha em um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial do então vice-presidente Michel Temer, em 2014. Segundo ele, dos R$ 10 milhões, R$ 6 milhões seriam para a campanha do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que era candidato do PMDB ao governo de São Paulo. Os outros R$ 4 milhões, disse, ficaram sob responsabilidade de Padilha. Carvalho narra as datas e senhas combinadas para a distribuição do dinheiro:
- 13/8, R$ 1,5 milhão (foguete);
- 02/9, R$ 1 milhão (árvore);
- 04/9, R$ 1 milhão (morango);
- 10/9, R$ 1 milhão (agenda).
Durante o depoimento, o ex-executivo disse querer registrar um fato que lhe chamou a atenção. Tratava-se de uma cobrança feita pelo então deputado Eduardo Cunha durante as negociações do repasse da Odebrecht para o PMDB. Carvalho detalha que, durante as tratativas, recebeu um telefonema de Cunha cobrando R$ 500 mil. Ele diz que eles tiveram uma "discussão acalorada" e que comunicou o episódio a Claudio Melo. Eles foram, então, a Padilha, relatou, para tentar esclarecer o episódio. Segundo ele, o hoje ministro achou "estranho" e disse: “Olha, se o endereço que eu dei e se fosse realmente entregue, o Sr. Yunes é uma pessoa de mais ou menos setenta anos, é de minha confiança, dificilmente não teria registrado isso", disse Padilha referindo-se ao advogado José Yunes, um dos melhores amigos de Temer. Este, por sua vez, disse em outro depoimento ao Ministério Público ter sido usado como "mula" por Padilha. O delator disse que voltou à Odebrecht, então, e falou com Maria Lucia Tavares, secretária do departamento de propina da construtora. Pediu a ela algum registro de entrega de valor no endereço, o que foi providenciado. "Alguns dias depois, ela me retornou no e-mail, mandou uma cópia do e-mail. Eu vi o recibo assinado pela Sra. Cida. Ainda assim, o mal-estar permaneceu e a empresa tomou, deliberou fazer outro pagamento de 500 (quinhentos) mil reais no valor, aquele que deu origem ao processo em discussão. Foi feito um novo valor. Tem aqui do dia 10/9, 1 (um) milhão, senha 'agenda', conta Paulistinha e contato José Carvalho. No dia 30/9/14, 500 (quinhentos) mil, senha 'pinguim', na coluna conta não tem nada e observação: entregar à Rua Gerônimo da Veiga, 248, apartamento 1101, ao Sr. Altair ou Zabo". O delator foi perguntado se Padilha era quem tinha o comando por parte do PMDB para a entrega do dinheiro: "Desses 4 (quatro) milhões, me foi relatado pelo Cláudio que a determinação no jantar ficou a cargo dele fazer essa distribuição. Também não sei com quem ele revelou lá que o Eduardo Cunha tinha pago. Não sei esclarecer aqui se os parlamentares tiveram essa possibilidade de receber parte desses 4 (quatro) milhões".
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