sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Servidores da Cedae protestam contra privatização da companhia


Um grupo de servidores da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) protestou ontem (23) contra a privatização da companhia, em frente a sede, no centro da cidade do Rio de Janeiro. No início da semana, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro aprovou a venda de ações da Cedae, que na prática, permite a venda da companhia à iniciativa privada. Em greve, centenas de manifestantes denunciaram os possíveis impactos da privatização, como aumento da tarifa, falta de água e o fim do chamado subsídio cruzado. Com o subsídio, a Cedae aplica a receita com serviços em municípios mais ricos na ampliação da rede de água e esgoto naquelas cidades com menos condições de pagar. A companhia atende a cerca de 12 milhões de pessoas em 64 municípios e tem 5.940 funcionários. Para tentar reverter a decisão do governo do Estado, que privatizará a companhia como uma das condições para receber um empréstimo de R$ 3,5 bilhões do governo federal, os servidores da Cedae esperam contar com ajuda do município do Rio de Janeiro. A capital é responsável por 87% do faturamento da companhia. Nesta quinta-feiera, os manifestantes caminharam entre a Cedae e a sede da prefeitura. O prefeito Marcelo Crivella tem sinalizado a intenção de criar uma companhia de águas municipal. Na campanha contra a privatização, os servidores alertaram para o fracasso da medida em outras cidades pelo mundo e, inclusive, no estado do Rio de Janeeiro, onde municípios tiveram de devolver o saneamento básico à Cedae, como Barra do Piraí, Valença e Macaé. Na avaliação de Flávio Guedes, funcionário da Cedae há 36 anos e que foi diretor da companhia entre 1999 e 2002, a devolução ocorre porque o serviço é caro e as empresas privadas não tem o compromisso de investir. “O lucro que a empresa pública persegue é social, é a saúde, é a vida e o lucro que as empresas privadas produzem é o lucro financeiro, só que saneamento é incompatível com o lucro financeiro”, disse Guedes. Obviamente, ele diz uma estupidez, mas ninguém contesta. Ele acrescentou que o mesmo movimento de reestatização ocorreu em Atlanta e Los Angeles, nos Estados Unidos, e em cidades européias na França e na Espanha. Os funcionários da Cedae também defendem um plebiscito que consulte a população fluminense sobre a venda da empresa, como proposto por 29 deputados que protocolaram o pedido na Alerj. Para passar o plebiscito precisa ser aprovado pela maioria dos 70 parlamenteares. Na votação que autorizou a venda da Cedae, o governo teve 41 votos a favor. “O governo tem dito que vai usar os R$ 3,5 bilhões para pagar a folha salarial do funcionalismo. Só que a folha é de R$ 2 bilhões, ou seja, vai pagar um mês e meio, e depois? Não vai resolver o problema e ainda vai deixar mal a população”, critica o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Saneamento Básico e Meio Ambiente do Rio de Janeiro, João Xavier. Além dos impactos no atendimento à população, os funcionários também temem demissões. Como são contratados por concurso em regime de carteira assinada (CLT), os funcionários podem ser dispensados, caso a empresa que compre a Cedae decida enxugar os serviços e quadros. “Estamos entristecidos, pegos de surpresa”, disse Maria Fernandes Guimarães, há 26 anos na Cedae. A Cedae é uma empresa de caráter misto sendo o governo do Rio de Janeiro o acionista majoritário (com 99%). Em 2015 o lucro líquido foi R$ 249 milhões e custo médio do metro cúbico de água, de R$ 0,80.

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