sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Recuperação judicial da PDG envolve dívidas de R$ 6,2 bilhões e 512 empresas

O processo de recuperação judicial da PDG envolve 512 empresas, entre subsidiárias e empreendimentos, e uma dívida de R$ 6,2 bilhões a ser reestruturada, segundo a petição inicial. No pedido de recuperação, protocolado nesta quinta-feira (23), a empresa culpa a crise e o volume excessivo de clientes que desistiram da compra do imóvel para justificar seus problemas financeiros. Ao longo do dia, diversos anexos eram incluídos no processo, que já somava mais de 35 mil páginas às 17h30 desta quinta-feira. Só a lista de credores da empresa, que relaciona fornecedores, clientes e bancos, tem mais de 2.600 páginas anexadas ao processo. Trata-se de um processo complexo, que tem 512 CNPJs como requerentes do processo de recuperação judicial. Além da própria PDG, também são autoras suas subsidiárias, como a PDG Securitizadora, a PDG São Paulo e a PDG ICUC, além da CHL, Goldfarb e Agre, empresas incorporadas no passado. Na lista estão também as sociedades de propósitos específicos (SPEs), que são empresas criadas para cada empreendimento lançado pela construtora. A PDG justificou a solicitação conjunta de recuperação judicial devido à forte vinculação entre elas. "Ninguém nunca viu um processo dessa magnitude, não existe um caso desses no Brasil ainda", diz Roberto Lima, sócio da Magno Consultores, especialista em reestruturação de empresas. A título comparativo, a Viver, primeira incorporadora de capital aberto a pedir recuperação judicial, no ano passado, tem 65 requerentes no processo. Apesar do volume expressivo de empreendimentos que são parte do processo, algumas dessas SPEs da PDG não foram incluídas no processo. Ficaram de fora aquelas que estão inativas e cujos sócios não quiseram entrar com o pedido de recuperação judicial, por exemplo. A lista desses CNPJs que fazem parte do grupo, mas não estão enquadrados na recuperação judicial será divulgada em 10 dias. No documento, a construtora também afirma que o processo de reestruturação da dívida respeitará o regime de patrimônio de afetação, pelo qual os bens e direitos vinculados a um empreendimento, como terrenos e vendas, ficam separados do patrimônio total da empresa. Das sociedades que fazem parte do processo, 56 estão sob esse regime. A empresa culpa a crise pela sua derrocada, e diz que "jamais presenciou recessão econômica de tal magnitude". Ela cita o desemprego, a dificuldade de acesso a financiamentos imobiliários por parte dos clientes, a inadimplência e o aumento da devolução de imóveis (os distratos) como alguns dos problemas enfrentados. Os cancelamentos de contratos correspondiam a 23% do valor das vendas no terceiro trimestre de 2014, mas saltaram para 101% no terceiro trimestre do ano passado, de acordo com a empresa. Ou seja, a empresa recebia mais unidades de volta para seu estoque do que conseguia vender. Em 2015, 71% das devoluções ocorreram por insuficiência de renda, afirma a incorporadora. Além da queda da receita, a companhia diz que sofreu com o aumento do custo da dívida financeira e a dificuldade de captar novos recursos junto aos bancos para concluir obras em andamento e fazer lançamentos. Além disso, os gastos com manutenção dos imóveis encalhados cresceram. Com grande parte dos ativos e receita comprometidos para o pagamento de credores financeiros, a incorporadora ficou sem caixa para seguir com suas atividades, e mais tarde, começou a atrasar os compromissos. Diversos clientes que devolveram os imóveis não foram reembolsados. "A empresa fala que chegou a esse ponto por conta da crise, mas na prática foi pela ambição de construir algo tão grande, por fazer muita aquisição, muita alavancagem", avalia Lima, da Magno Consultores. Para se adequar à nova realidade financeira, a PDG iniciou um processo de reestruturação. Adotou orçamento base zero nos últimos 24 meses, buscando cortar gastos, alongou o perfil de sua dívida junto aos credores e deu ativos como pagamento de empréstimos. Com isso, de 2014 a 2016, ela conseguiu abater R$ 1,8 bilhão da sua dívida líquida, mas apesar dos esforços seu passivo financeiro ainda soma R$ 5,8 bilhões. A PDG nasceu como o braço de investimentos imobiliários do antigo Banco Pactual, em 2003, e se tornou uma empresa independente no ano seguinte. Em 2007, se lançou em bolsa e captou R$ 648 milhões. Com esse dinheiro, a construtora fez uma série de aquisições entre 2008 e 2010, entre elas dos grupos CHL, Goldfarb e Agre, chegando à liderança do setor. Ela chegou a valer R$ 12,5 bilhões e a lançar R$ 7 bilhões em empreendimentos, mas hoje tem apenas 1% desse valor de mercado (R$ 158 milhões, conforme dados da Economatica) e não lançou nada durante todo o ano passado. No fim de 2010, a empresa informava que tinha um banco de terrenos com potencial de lançamento de R$ 29,6 bilhões em 574 projetos, hoje ela toca apenas 30, segundo informações do terceiro trimestre divulgadas ao mercado financeiro. A companhia tem mais de 1.800 reclamações registradas nos últimos 12 meses no site Reclame Aqui, a maioria delas referente a atraso de obras ou falta de pagamentos dos distratos. Os clientes que compraram imóveis da empresa e querem rescindir o contrato, inclusive, terão de aguardar o desdobramento do pedido de recuperação judicial feito pela empresa para receber algum dinheiro. 

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