sábado, 11 de fevereiro de 2017

Juiz determina prisão de ex-presidente peruano por propina da Odebrecht

O ex-presidente do Peru, Alejandro Toledo, enfrenta uma ordem de prisão preventiva internacional acusado de receber propinas da Odebrecht. Aos 70 anos, Toledo está a ponto de virar o segundo ex-presidente peruano nas últimas três décadas a ser levado para a prisão por um caso de corrupção, depois de Alberto Fujimori, de quem foi um ferrenho opositor.


Toledo, que governou o país entre 2001 e 2006, é acusado pelo ex-representante da Odebrecht no Peru, Jorge Barata, de ter recebido US$ 20 milhões (R$ 62 milhões) para ajudar a empreiteira a vencer a licitação da obra de uma rodovia que liga o Peru ao Brasil. "Se dita a prisão preventiva ao investigado Alejandro Toledo Manrique por um prazo de 18 meses. Como se encontra em liberdade se cursa os ofícios correspondentes para a imediata localização, captura e reclusão", anunciou o juiz da Sala Penal Nacional, Richard Concepción. O magistrado determinou que o ex-presidente seja localizado tanto a nível nacional como internacional, via Interpol. O prazo de prisão começará a ser contado a partir do momento em que Toledo for detido. Há alguns dias, o ex-presidente estava em Paris e, apesar de continuar no Exterior, seu paradeiro exato é desconhecido. O advogado Heriberto Benítez anunciou que apelará contra a decisão judicial. Ele havia solicitado a emissão apenas de uma ordem de comparecimento durante a investigação por considerar que a detenção sem uma sentença é uma violação aos seus direitos. Ele recomendou a Toledo que não retorne ao país por falta de garantias no processo. Depois de tomar conhecimento da decisão do juiz, o Conselho de Ministros anunciou que se nas próximas horas o paradeiro do ex-presidente não for conhecido, a Comissão de Recompensas para procurados por delitos graves o incluirá em sua lista. O organismo também se prepara para um possível pedido de extradição. O gestor da medida foi o procurador da unidade de combate à corrupção Hamilton Castro. Entre outras coisas, o caso é sustentado pelo depoimento do ex-representante da Odebrecht no Peru, Jorge Barata, que fez um acordo com a justiça e delatou o ex-governante e seu amigo Josef Maiman. O dinheiro teria sido depositado em contas offshore de ambos. De acordo com o procurador, o pedido inicial de Toledo era de US$ 35 milhões (R$ 110 milhões), mas a empresa lhe pagou somente US$ 20 milhões (R$ 62 milhões). Embora a empresa tenha ganhado a licitação para construir a rodovia, Toledo não modificou as bases do concurso para prejudicar seus concorrentes. Castro explicou durante audiência na quinta-feira que o suborno foi pago em 18 partes – entre junho de 2006 e junho de 2010 –, mesmo depois de Toledo ter deixado o cargo. O dinheiro foi depositado para uma empresa offshore, a Ecoteva, formada pela Maiman e pela sogra de Toledo, Eva Fernenbug, na Costa Rica. Dali foram feitas as transferências para o pagamento de hipotecas e de propriedades no Peru, segundo o Ministério Público. O caso da Ecoteva já era investigado pela Justiça há vários anos, mas não se pôde determinar de onde foi obtido o dinheiro. Com a confissão da Odebrecht, o círculo se fecha. Toledo admitiu que seu amigo Maiman lhe emprestou dinheiro para os imóveis, sem saber sua origem. Em uma primeira versão, o ex-presidente assegurava que o dinheiro para seus imóveis vinha de um empréstimo de sua sogra por uma indenização após o Holocausto nazista. Essa afirmação foi logo desmentida. A Odebrecht reconhece que pagou US$ 29 milhões (R$ 91 milhões) no Peru ilegalmente entre 2005-2014, período que corresponde aos governos de Toledo, Alan García (2006-2011) e Ollanta Humala (2011-2016). Até agora, há três ex-funcionários do governo de García na prisão, entre eles um vice-ministro de Comunicações e sua namorada – todos eles por aceitarem um suborno de US$ 7 milhões (R$ 22 milhões) para favorecer a empreiteira com a obra da Linha 1 do Metrô de Lima. Já Humala e sua mulher, Nadine Heredia, que enfrentam restrições para sair do país, são investigados por lavagem de ativos por financiarem sua campanha eleitoral com dinheiro procedente da Venezuela e do Brasil.

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