sábado, 18 de fevereiro de 2017

Adiado no Peru julgamento de líder do Sendero Luminoso por atentado em 1992

O novo julgamento de Abimael Guzmán, líder e fundador do grupo maoista Sendero Luminoso, condenado à prisão perpétua no Peru por um atentado com explosivos lançado em Lima em 1992, que deixou 25 mortos, foi adiado na terça-feira devido à saúde do réu. "O Tribunal dispõe suspender a audiência até a terça-feira, 28 de fevereiro, pelo tema de saúde de Abimael Guzmán", disse o juiz René Martínez, presidente da Sala Penal Nacional, que programou a audiência. Guzmán, de 82 anos, não foi levado de sua cela para a sala por sofrer de diarreia aguda, segundo boletim médico das autoridades penitenciárias. O líder do Sendero Luminoso está recluso em uma base naval do Callao (oeste), vizinha a Lima. Capturado em 1992, foi condenado por crimes de terrorismo e crimes contra os direitos humanos por atos cometidos entre 1980 e 1990, conforme seu advogado, Alfredo Crespo. Agora é acusado de atos de terrorismo especificamente pelo caso do atentado de 1992, acrescentou Crespo. A ausência de Guzmán motivou seu advogado, Alfredo Crespo, a solicitar ao juiz a suspensão da audiência. O juiz marcou a nova data para 28 de fevereiro. Segundo Crespo, seu cliente sofre há um mês de problemas estomacais, os quais atribuiu a uma desidratação pelo calor do verão. "Solicito que se reprograme sua audiência e seja levado de imediato a um hospital para receber tratamento", informou o advogado. Guzmán será processado junto à cúpula do grupo, entre eles a número dois do Sendero, Elena Iparraguirre (mulher de Guzmán), Óscar Ramírez Durand, Eleuterio Flores Hala, Osmán Morote Barrionuevo, Margot Liendo Gil, Victoria Cárdenas Huayta, todos detidos com penas entre 25 anos e prisão perpétua. O atentado com carro-bomba alvo do processo ocorreu na rua Tarata, no abastado distrito de Miraflores, em Lima, na noite de 16 de julho de 1992. A explosão matou 25 pessoas, deixou mais de uma centena de feridos e destruiu casas, carros e comércios. Foi a primeira vez que um ato considerado terrorista utilizou um alvo civil. O cenário foi de terror. "Todos saíam com ferimentos no rosto. Todos tinham algum tipo de lesão. No trajeto também era possível ver cadáveres mutilados, pude ver cenas que realmente me faziam pensar que estávamos vivendo uma guerra", contou à Comissão da Verdade Osvaldo Cava, que encontrou seu irmão morto em um dos edifícios da região, lembra o jornal El Comercio. A procuradoria solicita que os acusados sejam condenados à prisão perpétua e ao pagamento de 400.000 soles (122.000 dólares) como reparação civil às vítimas. Os acusados também serão julgados pelo crime de tráfico ilícito de drogas, já que o grupo senderista é acusado de proteger as atividades de narcotraficantes a partir dos anos 80, afirma a nota. Em janeiro, um tribunal rejeitou um pedido de Alfredo Crespo, advogado de Guzmán, de declarar nulo o julgamento por prescrição. O advogado também argumentou que os autores diretos do crime, do qual supostamente a cúpula não teve conhecimento, já haviam sido condenados. No entanto, a juíza Mercedes Cabello rejeitou a medida, ao lembrar que os crimes por terrorismo não prescrevem, e lembrou que o próprio Guzmán havia dito que "o atentado de Tarata foi um erro". Guzmán fundou o grupo em 1969 sob o nome de Partido Comunista do Peru e iniciou, em maio de 1980, o que denominou de uma "guerra popular". A guerra do Sendero Luminoso deixou 70.000 mortos entre 1980 e 2000, após ser lançada uma repressão militar, segundo informe da Comissão da Verdade e Reconciliação. Apesar de a organização ter sido dizimada após a captura de Guzmán, em 1992, o Sendero possui remanescentes na zona central do país, que ainda atuam em aliança com narcotraficantes, segundo as autoridades.

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