quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Vitória de Trump reflete fracasso de Hillary com latinos, negros e jovens



A candidata democrata Hillary Clinton precisava ter ao seu lado o apoio maciço dos latinos, dos negros e dos jovens para vencer Donald Trump na última terça-feira (8). Seu desempenho com os três grupos, no entanto, não só foi pior que o de Barack Obama em 2012, como Trump conseguiu, inesperadamente, se sair melhor entre os hispânicos do que Mitt Romney há quatro anos.  O resultado dessa eleição, numa primeira análise, parece muito mais se explicar pelo desempenho ruim de Hillary em Estados-chave do que exatamente pelas conquistas de Trump. Até o início da noite desta quarta-feira (9), a democrata tinha 228 delegados contra 279 do adversário, que vencia a eleição mesmo com cerca de 200 mil votos a menos que Hillary – distorção permitida pelo sistema de votação indireto. Em todo o país, apenas 65% dos votos latinos foram para a democrata, abaixo dos 71% de Obama na eleição anterior. E o número de eleitores hispânicos no país, percentualmente, só cresceu um ponto nestas eleições, ficando em 11%. Trump, contudo, apesar da retórica agressiva contra imigrantes, obteve 29% do voto latino - seu antecessor na disputa teve o apoio de 27%. Hillary dependia do grupo para vencer na fundamental Flórida, com seus 29 delegados no Colégio Eleitoral, mas os 62% de hispânicos que a escolheram no Estado não foram suficientes na acirrada disputa. Nem para garanti-la no reduto republicano do Arizona, que, pelas pesquisas, parecia aberto a uma virada democrata. O desempenho da ex-secretária de Estado com o eleitorado negro – 88% do apoio–, que inicialmente parecia alto, mas ficou aquém dos 93% de Obama em 2012, ajudou a sacramentar sua derrota em Estados-chave como Ohio e Carolina do Norte. O voto negro somou 12% do total do país em 2016, parcela semelhante à de 2012. Em Ohio, onde o desencanto da classe operária branca com os democratas já anunciava uma possível derrota de Hillary, os 6% de negros e os 11% de jovens menos dispostos a votar nela do que em Obama há quatro anos contaram a favor de Trump. Na Carolina do Norte, onde havia empate entre os dois candidatos até a véspera da eleição, houve um aumento considerável da parcela dos subúrbios no voto do Estado (de 28% para 38%), onde Trump se saiu melhor. Com isso, mesmo vencendo entre os 30% de eleitores não brancos do Estado por uma margem de 62 pontos, a democrata não levou seus 15 votos por uma diferença de 165 mil votos. Para o cientista político John Pitney, coautor de "Epic Journey: The 2008 Elections and American Politics", uma das razões de Hillary não ter se saído tão bem com as minorias é o fato de ela ser vista por uma parcela deles como "parte do sistema sistema econômico e social que tem falhado com os mais pobres".  No caso dos jovens, de 18 a 29 anos (19% do eleitorado), em que Hillary teve o apoio de 54%, contra 60% de Obama, Pitney lembra que a democrata é vista como alguém que "já estava no centro da política americana quando eles nasceram". O golpe final para Hillary viria de Estados em que sua vitória era dada como certa – como o Wisconsin – ou quase certa, como a Pensilvânia. Trump freou a adversária em pelo menos seis pêndulos e no Wisconsin, onde ela tinha tanta confiança da vitória que nem visitou o Estado depois de ser apontada a candidata pelo partido. Resultado: foi a primeira democrata a perder ali desde 1984, quando Ronald Reagan venceu Walter Mondale, com 1 ponto percentual de vantagem para Trump (28 mil votos). Entre os Estados-pêndulo, o principal revés foi a Pensilvânia, onde Hillary tinha chegado a abrir dez pontos de vantagem em setembro, mas perdeu com a menor margem no grupo dos Estados mais disputados: 68 mil votos (1,2% do total). O Estado tem 20 votos no Colégio Eleitoral.  Uma importante conquista de Trump, porém, foi o bom desempenho com os eleitores independentes, que subiram de 29% para 31% do total nos últimos quatro anos. Entre eles, o republicano recebeu o apoio de 47%, contra 42% de Hillary – o que evidencia a percepção do grupo de que Trump é quem mais representa a possibilidade de mudança.

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