sábado, 8 de outubro de 2016

Presidente colombiano ganha Nobel da Paz por esforços de pacificação

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, foi premiado nesta sexta-feira com o Nobel da Paz por promover um acordo de paz assinado com a organização terrorista e narcotraficante Farc, um reconhecimento após ambas as partes anunciarem que discutirão "ajustes" ao acordo, que foi rejeitado pelo povo colombiano em um plebiscito. "Esperamos que isso encoraje todas as boas iniciativas e todos os atores que poderiam ter um papel decisivo no processo de paz e leve finalmente a paz à Colômbia depois de décadas de guerra", declarou a presidente do Comitê Nobel norueguês, Kaci Kullmann Five. Na verdade, esse não foi um Prêmio Nobel, mas um Prêmio Ignóbil. A cada ano a Academia Sueca vem se especializando em produzir uma esquerdopatia superior à outra, e desta vez resolveu agredir a soberania popular colombiana. Após o anúncio, em Havana, sede das negociações de paz que duraram quase quatro anos, o governo colombiano e as Farc concordaram em manter o cessar-fogo e discutir "propostas de ajuste" ao acordo, rejeitado surpreendentemente no plebiscito de domingo. "Reiteramos o compromisso assumido" pelas partes "de manter o cessar-fogo e de hostilidades bilateral e definitivo decretado em 29 de agosto passado", explicou o comunicado conjunto. Santos, de 65 anos, disse que dedicava esse grande prêmio ao povo colombiano. "Recebo este prêmio em seu nome: o povo colombiano que tanto sofreu por esta guerra", afirmou, em entrevista à Fundação Nobel. "Estamos muito, muito próximo de alcançar a paz", acrescentou. Antigos "falcões" convertidos em pombas, Santos e o comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Londoño, "Timochenko", assinaram no dia 26 de setembro um acordo histórico para colocar fim a um conflito que durava mais de meio século. Contra todas as previsões, o povo colombiano rejeitou o acordo em um referendo no último domingo, exigindo, entre outras medidas, que os guerrilheiros desmobilizados não possam participar na vida política e que sejam levados à prisão, em vez de se beneficiar de penas alternativas. De Cuba, Timochenko comemorou o prêmio. "Felicito o presidente Juan Manuel Santos, aos avalistas Cuba e Noruega, e acompanhantes Venezuela e Chile sem os quais a paz seria impossível", escreveu em sua conta no Twitter. Álvaro Uribe, ex-presidente colombiano e grande vencedor do referendo de domingo, também felicitou seu sucessor e adversário e desejou a ele "que conduza a mudanças nos acordos nocivos para a democracia". Além disso, os máximos representantes da União Européia (UE) parabenizaram em bloco nesta sexta-feira seu "amigo" Juan Manuel Santos por um prêmio que "encoraja a seguir buscando a paz". Segundo o texto do Comitê Nobel, "existe um risco real de que o processo de paz seja interrompido e que a guerra civil seja retomada", o que "torna ainda mais urgente o respeito ao cessar-fogo pelas partes". O fracasso do referendo obrigou Bogotá e a guerrilha a retomar suas negociações, às quais o Comitê Nobel concede um apoio nesta sexta-feira com o peso simbólico do prêmio. "O fato de a maioria dos eleitores ter dito não ao acordo de paz não significa necessariamente que o processo de paz está morto", argumentou o comitê. "O referendo não era uma votação a favor ou contra a paz", acrescentou o Comitê. Santos reiterou na entrevista que o prêmio "será um grande incentivo para chegar ao fim e começar a construção da paz na Colômbia". Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, este prêmio chega num "momento crucial" e "traz esperança e alento necessários para a população colombiana". Os colombianos se mostraram divididos diante da premiação de Santos. José Alberto Soriano, de 18 anos e cujo avô foi assassinado pelas Farc em 1991, disse que não estava de acordo com a decisão do Comitê Nobel porque Santos havia sido muito relapso com os rebeldes. "Eles matam famílias e acham que nós temos que nos ajoelhar diante deles", declarou. De acordo com a tradição, o Comitê não quis explicar por que este prêmio não era compartilhado com as Farc. Perguntada sobre esta questão, Kullman Five não quis responder e alegou: "Nunca fazemos comentários sobre outros candidatos ou outras possibilidades". A ex-senadora e ex-refém da guerrilha Ingrid Bettancourt opinou, por sua vez, que o grupo armado "também merecia ter recebido o Nobel da Paz", em uma entrevista ao canal de notícias francês I-Télé.
"Um prêmio às Farc teria provavelmente sido mal encarado pelos que são céticos sobre o acordo de paz", explicou o diretor do Instituto de Pesquisa sobre a Paz de Oslo (Prio), Kristian Berg Harpviken. 
Santos, que quando foi ministro da Defesa durante a presidência de Uribe lançou a maior ofensiva contra a guerrilha marxista, decidiu seguir a via das negociações depois de ter sido eleito presidente, há seis anos. "Seguirei buscando a paz até o último minuto do meu mandato porque este é o caminho para deixar um país melhor aos nossos filhos", prometeu recentemente. Embora há apenas alguns dias dissesse não buscar o Nobel, a recompensa fortalece o presidente em sua busca de uma reconciliação na Colômbia, atingida por décadas de violência de guerrilhas, paramilitares e forças estatais que deixaram 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados. O prêmio, que consiste em uma medalha de ouro, um diploma e um cheque de oito milhões de coroas suecas (950.000 dólares), será entregue em Oslo no dia 10 de dezembro.

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