quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Gigantes da tecnologia investem para armazenar dado em nuvem na Europa


Na batalha pelo domínio do mercado europeu de computação em nuvem, as gigantes da tecnologia dos Estados Unidos estão gastando muito para ganhar credibilidade local.  A Amazon Web Player, líder do setor, anunciou na semana passada que em breve abriria diversas centrais de processamento de dados na França e no Reino Unido. O Google, que já conta com centrais em países como a Finlândia e a Bélgica, deve completar a construção de um novo complexo de dados multimilionário na Holanda, até o final do ano. E a Microsoft, que alguns indicadores apontam como a segunda maior fornecedora de serviços de computação em nuvem na Europa, anunciou na segunda-feira (3) que havia investido US$ 1 bilhão, nos últimos 12 meses, a fim de expandir suas ofertas, levando seu investimento total nos serviços em nuvem instalados na Europa a US$ 3 bilhões de 2005 para cá. "Estamos ampliando nossa infraestrutura mundial de nuvem na Europa para conquistar a confiança dos nossos múltiplos clientes", disse Satya Nadella, o presidente-executivo da Microsoft. "Somos capazes de atender as necessidades de residência de dados de nossos clientes europeus". Já que muita gente na Europa questiona por que as maiores companhias de tecnologia dos Estados Unidos controlam porção tão grande do uso cotidiano de serviços digitais pelos 500 milhões de habitantes da região, não surpreende que empresas como a Microsoft e a Amazon estejam ávidas por ressaltar suas raízes locais. A União Européia continua a restringir o que percebe como uso indevido das informações digitais sobre usuários, e analistas dizem que muitas das gigantes do Vale do Silício estão respondendo a essas preocupações quanto a privacidade ao oferecer a usuários individuais e empresariais a capacidade de armazenar suas informações mais perto de onde vivem, enquanto no passado os dados teriam ficado armazenados apenas nos Estados Unidos. "Países como a Alemanha são bem conscientes quanto à questão da privacidade de dados, e isso os leva a considerar com cautela o local de armazenagem dos dados dos usuários", disse Gregor Petri, analista de computação em nuvem da Gartner, uma empresa de pesquisa sobre tecnologia, em Veghel, na Holanda: "A soberania local sobre os dados se tornou importante, e agora as empresas norte-americanas estão cientes disso". Existe também uma explicação mais básica para a expansão das companhias dos Estados Unidos ao mercado europeu de computação em nuvem: o dinheiro que pode ser faturado com isso está crescendo. O mercado europeu para os chamados serviços de aplicativos em nuvem, ou seja, software que é operado virtualmente via Internet, deve mais que dobrar, para US$ 16,1 bilhões anuais, até o final da década, de acordo com a Gartner. Esse montante representará ainda apenas um terço do valor do mercado da América do Norte, que no mesmo período deve subir para movimentar US$ 47 bilhões anuais. A despeito desse tamanho relativamente modesto, o mercado europeu continua a ser um dos maiores para os provedores norte-americanos de serviços de computação em nuvem, muitos dos quais estão elevando seus investimentos em todo o mundo, à medida que empresas e usuários individuais passam a depender mais e mais de serviços em nuvem — como o iCloud, da Apple, e o Dropbox, um serviço de armazenagem de dados online — em suas vidas cotidianas. Em 2014, por exemplo, a Amazon abriu diversas centrais de processamento de dados na Alemanha, em parte como resposta às rigorosas leis do país quanto à privacidade. No ano passado, a Microsoft seguiu seu exemplo, formando uma parceria com a Deutsche Telekom — operadora local de comunicação que controla a T-Mobile —, atribuindo a ela o controle das centrais de dados, a fim de atender à legislação alemã (a Microsoft cobra uma taxa extra por esse serviço). Rainer Strassner, gerente do programa de computação em nuvem da Microsoft na Alemanha, disse que a lei do país protege dados armazenados em servidores locais contra solicitações de informações por governos estrangeiros, entre os quais o dos Estados Unidos. "Todos os dados ficam na Alemanha", ele disse. A empresa recentemente venceu um recurso em um processo contra o governo dos Estados Unidos, que vinha tentando obter dados armazenados em uma central de processamento de dados da Microsoft na Irlanda. Embora esses investimentos até agora tenham por foco principalmente os clientes empresariais, outras empresas de tecnologia norte-americanas fizeram investimentos de porte semelhante com o objetivo de acelerar o uso de serviços digitais para os usuários comuns nos 28 países membros da União Europeia. 


A Apple, que vem enfrentando uma série de questões regulatórias na Europa, entre as quais a demanda de que pague US$ 14,6 bilhões em impostos sonegados na Irlanda, está investindo quase US$ 2 bilhões para construir duas centrais de processamento de dados na região. As instalações, as primeiras desse tipo que ela operará na Europa, serão inauguradas na Dinamarca e Irlanda até o começo de 2018. O Facebook também está trabalhando em uma central de processamento de dados para computação em nuvem na Irlanda, e expandindo suas instalações já existentes na Suécia. "Estamos começando nas profundezas das florestas do norte da Suécia, com a central de dados de Lulea", disse Mark Zuckerberg, o presidente-executivo da empresa, na quarta-feira (28): "Você provavelmente nem pensa em Lulea ao compartilhar alguma coisa com os amigos no Facebook, mas esse é um exemplo da infraestrutura de tecnologia incrivelmente complexa que mantém o mundo conectado".

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