quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Companhias de ônibus pagaram R$ 3,8 milhões a empresas de Eduardo Cunha


Entre a análise das movimentações financeiras da Jesus.com e da GDAV Serviços e Publicidade, empresas que têm como sócios o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso nesta quarta-feira em Brasília, e seus familiares, chamaram a atenção dos procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato e da Receita Federal pagamentos milionários de empresas da família Constantino, dona da aérea Gol e de empresas de transporte rodoviário. As investigações apontam que oito empresas da holding pagaram ou orientaram o pagamento de 3,8 milhões de reais às empresas de Eduardo Cunha, de sua mulher, Cláudia Cordeiro Cruz, e de seus filhos. A justificativa para os pagamentos são serviços de publicidade. O comandante do grupo, Henrique Constantino, foi alvo de mandados de busca e apreensão na Operação Sépsis, em julho, que investigou corrupção no Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS) e levou à prisão, entre outros, o lobista e doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que é próximo de Eduardo Cunha, e Fábio Cleto, ex-diretor do FI-FGTS indicado pelo peemedebista. As empresas rodoviárias Princesa do Norte e Expresso Maringá pagaram um milhão de reais à Jesus.com, que não tem empregados registrados, entre julho e novembro de 2012. A Gol depositou 1,4 milhão de reais, dividido em sete parcelas de 200.000 reais, entre julho e novembro de 2013. Princesa do Norte, Breda Transportes, Viação Piracicabana e Auto Ônibus Manoel Rodrigues pagaram outros 475.000 reais à empresa de Eduardo Cunha em um único dia em maio de 2015. Naquele ano, o dinheiro vindo dos cofres da família Constantino foram a única receita da empresa do ex-deputado detectadas pela Receita Federal. Já a GDAV Serviços e Publicidade, cujos sócios são Felipe, Camila e Danielle Dytz da Cunha, filhos do ex-presidente da Câmara, recebeu, segundo as investigações, um milhão de reais da agência de publicidade Almap BBDO. “Oficiada, a Almap Publicidade afirmou que o pagamento foi feito a pedido da VRG Linhas Aéreas (Gol Linhas Aéreas)”, esclareceram os procuradores do Ministério Público Federal no pedido de prisão de Eduardo Cunha aceito pelo juiz federal Sergio Moro. “Em suma, praticamente todos os depósitos identificáveis na Jesus.com e na GDAV indicam uma só origem: o grupo econômico Constantino, que comanda a empresa Gol Linhas Aéreas e diversas empresas de ônibus. Não há indício de que as empresas Jesus.com e GDAV tenham prestado algum serviço efetivo de publicidade compatível com os valores depositados”, afirmam os investigadores da Lava Jato. A Receita Federal ainda aponta que foi feita uma busca nos arquivos do site da Jesus.com e “em nenhum destes foi possível identificar a declarada propaganda, seja das empresas de transporte rodoviário, seja da Gol Linhas Aéreas”. Para a força-tarefa da Operação Lava Jato, os pagamentos das empresas comandadas por Henrique Constantino podem ser explicados pela criação, por Eduardo Cunha, em 2015, de uma comissão especial para analisar a isenção da Cide (Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico) às empresas de transporte urbano municipal e transporte coletivo urbano alternativo. “Embora os fatos necessitem aprofundamento investigativo, o auxílio de Eduardo Cunha com projetos de interesse das empresas de transportes urbanos pode explicar os repasses”, afirmam os procuradores. A Receita Federal também apurou pagamentos da Jesus.com a algumas empresas. O relatório apresentado ao Ministério Público Federal aponta que o endereço de uma delas, a SAG Empreendimentos em Informática, que recebeu 45.000 reais da empresa de Eduardo Cunha e Cláudia Cruz em 2012, é um casebre em Porto Alegre. “Diante da possível inexistência de fato da sociedade empresária, importante verificar se houve efetivamente a prestação de serviços declarada”, diz a Receita.

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