quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Maestro envolvido em escândalo no teatro Municipal de São Paulo



Durante pelo menos uma hora, o maestro John Neschling foi afastado do cargo de diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo, segundo o próprio, para prevenir possíveis denúncias que ele poderia fazer sobre corrupção na instituição. O afastamento teria ocorrido em setembro de 2015. Foi o que ele afirmou nesta quarta-feira (17), durante depoimento à CPI que apura irregularidades nas contas do teatro. Neschling chegou a apresentar um documento de demissão, datado de 2015, assinado pelo então diretor do IBGC (Instituto Brasileiro de Gestão Cultural), William Nacked, atualmente afastado da organização social que administra o teatro. Ele disse que Nacked tinha a intenção de calá-lo. "Ele fez algo como 'vamos tirar o Neschling daqui, pois ele vai nos denunciar'", contou aos vereadores que compõem a CPI na Câmara. O maestro afirmou, ainda, que o prefeito Fernando Haddad (PT) não endossou o afastamento; ao contrário, revogou a medida de Nacked uma hora depois. Este maestro foi marido da atriz mais petista, Lucélia Santos. Investigações do Ministério Público do Estado apontam Nacked como suspeito de participar de um esquema de corrupção que, entre 2013 e 2015, desviou R$ 15 milhões dos cofres públicos. Segundo Igor Tamasauskas, advogado de Nacked, a história contada por Neschling "não corresponde à realidade", o que "será demonstrado no momento próprio".  Além de Nacked, está na mira do Ministério Público e da CPI José Luiz Herencia, diretor-geral da casa até o fim do ano passado que fechou acordo de delação premiada e concordou em devolver aos cofres públicos R$ 6 milhões em verbas desviadas. Em sua delação, Herencia mencionou supostas irregularidades cometidas pelo secretário de Comunicação de Fernando Haddad (PT), o jornalista petista Nunzio Briguglio Filho (foi chefe da sucursal da revista Veja em Porto Alegre), que intermediou a contratação de "Alma Brasileira". Briguglio diz que o fez como ação de marketing para promover São Paulo e o Theatro Municipal no Exterior. No depoimento de quarta-feira, Neschling disse que ele próprio levou à prefeitura a suspeita de que havia um esquema de corrupção montado dentro do IBGC, fato que o maestro reiterou durante seu depoimento à CPI. No início da sessão, que durou mais de três horas, houve atrito entre o advogado do maestro, Eduardo Carnelós, e os parlamentares que compõem a comissão. Por orientação da defesa, Neschling não assinou o termo de compromisso com a CPI. O documento atesta comprometimento com a verdade e descreve os direitos do depoente. A justificativa da defesa foi de que o termo estava redigido para alguém que estivesse na condição de testemunhas, não de investigado. A relação de Neschling com o prefeito Haddad foi um dos tópicos mais explorados pela comissão, o que o vereador Alfredinho (PT), relator da CPI, classificou como "tentativa de envolver o governo e a prefeitura" no escândalo. Neschling foi questionado sobre o fato de ter recebido o prefeito no sítio de sua atual mulher, a escritora de romances policiais Patrícia Melo, em 2015. O maestro respondeu que Haddad é alguém que ele "admira muito" e com quem não mantém relação alguma além de amizade. A comissão não apresentou evidências de que Neschling pudesse ter agido no mesmo esquema que tem como suspeitos Herencia e Nacked. Entretanto, o maestro foi confrontado por ter determinado a compra de espetáculos vendidos pelo agente internacional argentino Valentim Proczynski, que também o agencia no Exterior. Um dos contratos fechados com Proczynski previa a apresentação do espetáculo "Alma Brasileira", que recebeu cerca de R$ 1 milhão, mas nunca entrou em cartaz. Há também a suspeita de que Proczynski, por meio de sua empresa Old and New Montecarlo, superfaturou contrato entre o Municipal e o grupo catalão La Fura dels Baus. Segundo o diretor da companhia, Carlus Padrissa, em depoimento à promotoria, o agente teria cobrado do teatro valor maior do que o pedido ao grupo para montar o espetáculo "El Amor Brujo", que estreou em julho. Sobre o possível conflito de interesses na relação com Proczynski, Neschling respondeu que o argentino é apenas "um dos inúmeros" agentes que o Theatro Municipal contrata. A mulher de Neschling também havia sido convocada a depor, mas não compareceu. Ela é sócia majoritária da empresa pela qual o maestro recebe seu salário da prefeitura. Segundo a comissão, Patrícia Melo será convocada novamente. Em novembro de 2015, José Luiz Herencia, então diretor-geral da Fundação Theatro Municipal, pede exoneração do cargo. Em dezembro, após apreensões em seus imóveis, passa a responder inquérito no Ministério Público. A Controladoria Geral do Município identifica rombo milionário nas contas do Theatro, relacionadas a esquema de superfaturamento de óperas. Em fevereiro de 2016, Herencia tem bens bloqueados na Justiça. A Promotoria faz nova apreensão no Instituto Brasileiro de Gestão Cultural, organização social responsável pelas contas do teatro. William Nacked, seu diretor, é afastado do cargo e Paulo Dallari assume a administração geral do Municipal como interventor. Em março de 2016, com acordo de delação premiada, Herencia envolve outros agentes do Theatro na investigação. Aponta conflitos de interesse em contratações que envolvem um agente internacional de John Neschling, diretor artístico Em junho de 2016, a Câmara abre CPI do Theatro Municipal. No mês seguinte, Carlus Padrissa, diretor do grupo Fura Dels Baus, atesta no Ministério Público que o agente de Neschling no Exterior, Valentin Proczynski, cobrou valor maior do teatro do que aquele que deveria ser pago ao grupo. Relatório da Controladoria aponta que rombo nas contas do teatro são de R$ 15 milhões. Agora em agosto a Justiça autoriza a quebra de sigilo dos e-mails do maestro John Neschling, pedida pelo Ministério Público do Estado. A comissão da Câmara dos Vereadores faria o mesmo pedido à Justiça, porém este foi cancelado antes da votação pelo relator da CPI, o vereador petista Alfredinho.

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