domingo, 14 de agosto de 2016

COI faz homenagem a atletas israelenses assassinados por terroristas árabes em Munique, nos Jogos Olímpicos de 1972


O Comitê Olímpico Internacional (COI) homenageou no fim da tarde deste domingo (14), em uma cerimônia no Palácio da Cidade, os 11 esportistas israelenses assassinados por terroristas árabes nos Jogo Olímpicos de Munique, em 1972. Autoridades brasileiras e israelenses que estiveram presentes condenaram ações de terrorismo. E também criticaram a atitude do atleta islâmico egípcio Islam El Shehaby, membro da organização terrorista islâmica Irmandade Muçulmana, que se recusou a cumprimentar seu adversário, o judoca israelense Or Sasson durante uma prova nos Jogos do Rio de Janeiro. Alguns atletas da delegação israelense sentaram-se em lugares reservados no palco, onde autoridades discursaram. Durante a cerimônia, onze velas foram acesas, para lembrar cada uma das vítimas israelenses do terror árabe. A bandeira de Israel foi hasteada no palácio, ao lado da bandeira do Brasil e ao som do hino nacional brasileiro. A ministra da Cultura e dos Esportes de Israel esteve na cerimônia e disse que a prática terrorista "não faz diferenciação entre as pessoas" e atinge vítimas de todas as idades, gêneros e classes sociais. "Enquanto lutamos contra o terror, buscamos a paz", declarou a ministra: "Ainda vemos discriminação contra atletas israelenses. Há países que negam vistos para competidores. Sabemos que misturar esporte e política é contra o protocolo do COI e contrário ao espírito olímpico. O esporte deve aproximar as pessoas". O ministro das Relações Exteriores, José Serra, esteve na cerimônia, e disse que o Comitê Olímpico Internacional "não fez a homenagem que deveria" aos atletas israelenses. Enquanto as famílias deles pedem que as cerimônias de abertura das Olimpíadas tenham um minuto de silêncio em homenagem a essas vítimas, na semana passada, foi feita a primeira homenagem oficial do COI, com a inauguração de um "local de luto" dentro da Vila dos Atletas, o que deve se tornar uma tradição a partir dos Jogos do Rio de Janeiro. O presidente do COI, Tomas Bach, falou na cerimônia e disse que o momento era "de lembrança pelo espírito daqueles que partiram": "O terror não vai vencer. Os Jogos Olímpicos são uma celebração da vida". Bach agradeceu às viúvas e familiares dos atletas israelenses assassinados no ataque. Uma delas também discursou. Ankie Spitzer, viúva do técnico de esgrima Andre Spitzer, por sua vez, também fez elogios a Bach: "Sempre acreditamos que você seria a pessoa que daria esse passo adiante. Embora sempre tivéssemos esperado um minuto de silêncio durante as cerimônias de abertura, estamos agradecidos pela comovente e digna cerimônia na Vila dos Atletas. E o fato de que ela vai ser parte do protocolo olímpico faz com que nossos entes queridos nunca sejam esquecidos. O Rio de Janeiro e o Brasil têm sido muito bons para nós". Durante cerimônia foi encaminhado pela vereadora Teresa Bergher um ofício ao presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, pedindo o minuto de silêncio no encerramento dos Jogos, marcado para o dia 21. As autoridades também criticaram muito o desfecho da luta entre os judocas Islam El Shehaby, do Egito, e Or Sasson, de Israel. Picciani acha que o ato é "lamentável": "Devemos homenagear os bons exemplos e desprezar os maus". Já Serra afirmou que foram manifestações "infelizes" e "deploráveis": "O fanatismo e a intolerância são péssimos ingredientes para que se chegue à paz mundial ou à convivência pacífica entre os povos. Repudiamos este tipo de atitude". Mais democrático, o próprio judoca israelense agradeceu ao seu técnico e ao apoio do seu país e do seu governo. E disse que, como atleta, vai para as provas só pensando em ganhar e deixa a política de lado: "Vou para ser profissional. Não é a primeira vez que acontece com um lutador de judô em partidas contra muçulmanos. Para mim, nada de política. Só penso em meus objetivos e em realizar meus sonhos".

Alegria. Horas antes da invasão dos terroristas à Vila Olímpica de Munique, parte da delegação israelense posa com atores da peça "Um violinista no telhado"

Nos Jogos de Munique, em 1972, os israelenses voltavam a pisar em solo alemão 27 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Desta vez, porém, era para celebrar a vida e o esporte. Para muitos desses atletas, estar na Alemanha era doloroso, uma vez que alguns haviam perdido familiares no Holocausto e outros eram sobreviventes da barbárie. A Olimpíada era vista como a oportunidade de virar essa página, transmitindo uma mensagem de fraternidade, paz e amor ao próximo, valores inerentes aos Jogos e defendidos pelos atletas. No entanto, no dia 5 de setembro, 11 integrantes da equipe israelense foram tomados como reféns pelo grupo terrorista palestino Setembro Negro, que invadiu os apartamentos dos atletas na Vila Olímpica. Nos primeiros minutos do dia 6, o fim trágico: 11 reféns haviam sido mortos, além dos cinco terroristas e um policial. Os sonhos e esperanças de 11 atletas, 11 famílias e uma nação inteira foram brutalmente interrompidos. Uma parte do espírito olímpico e da beleza dos Jogos morreu junto com aqueles homens que viveram para mostrar o valor do esporte. A luta de suas famílias, durante mais de 40 anos, foi para que o Comitê Olímpico Internacional lhes prestasse uma homenagem. Finalmente, no dia 3 de agosto de 2016, foi inaugurado na Vila Olímpica do Rio de Janeiro um memorial aos atletas. E agora no dia 14 de agosto, neste domingo, uma cerimônia na Prefeitura do Rio de Janeiro homenageou as vítimas de Munique, com a participação de autoridades brasileiras e israelenses, enquanto o Maracanã, no encerramento dos Jogos do Rio de Janeiro, no dia 21, fará um minuto de silêncio pelos atletas. Mais do que a homenagem, no entanto, a luta dos familiares é para que atos de terror não se repitam e que a tragédia não seja esquecida. Veja a seguir os perfis das 11 vítimas do que ficou conhecido como o Massacre de Munique. Entre elas estavam o jovem lutador Mark Slavin, de apenas 18 anos, e o veterano Kehat Shorr, de 53 anos, o mais velho do grupo, da equipe de Israel do tiro esportivo.
1) ANDRE SPITZER - Ele tinha 11 anos quando trocou a Romênia, sua terra natal, por Israel, logo após a morte do pai. Posteriormente, ingressou na Força Aérea Israelense, ao mesmo tempo em que entrou na Academia Nacional de Esportes, onde praticou esgrima. Em 1968, foi enviado para a Holanda, a fim de aperfeiçoar os estudos e trabalhar como treinador do esporte. Lá, conheceu a jovem Ankie, uma de suas alunas, com quem se casou em 1971, mesmo ano em que regressou a Israel. O atleta tornou-se o maior nome da modalidade no país e foi um dos fundadores da Academia Nacional de Esgrima de Israel, montada ao Norte do país, perto da fronteira com o Líbano. Em meio à guerra que assolava os dois países, Andre deu uma lição de tolerância e espírito esportivo: percorria as cidades e vilas da região na tentativa de convencer os jovens a praticarem esgrima para canalizar a agressividade e desenvolver o respeito pelo próximo. Para ele, o esporte era a arma a ser usada para mudar de vida.
2) KEHAT SHORR - Também romeno, o funcionário do Ministério da Defesa de Israel era o mais velho dos atletas que perderam suas vidas em Munique. Nascido em 1919, desde cedo demonstrou aptidão para o tiro esportivo, sendo diversas vezes campeão romeno da modalidade. Em 1941, quando a Romênia juntou-se à Alemanha para invadir a União Soviética, Shorr foi convocado para o Exército, mas fugiu e conseguiu se esconder nas montanhas dos Cárpatos. Lá, ajudou a organizar uma espécie de guerrilha judaica que fazia incursões em cidades próximas, a fim de resgatar outros judeus que estavam escondidos. Não se sabe quantas vidas ele ajudou a salvar, mas ele mesmo perdeu a primeira esposa e uma filha no Holocausto. Em 1963, migrou para Israel, ingressando no clube Hapoel Tel Aviv como atleta e, pouco tempo depois, tornou-se treinador, contribuindo para elevar o nível do esporte e para a profissionalização do tiro esportivo no país.
3) YOSSEF GUTFREUND - Outro romeno, também demonstrou ser um bom atirador, mas não no esporte. Ele era veterano do Exército israelense, tendo lutado na Guerra de Suez, em 1956, e na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Gutfreund deixou seu país em 1948, aos 17 anos, depois de ter passado alguns meses na prisão, acusado de “propaganda sionista” pelo governo comunista romeno. Em Israel, ao mesmo tempo em que combatia nas frentes militares, dedicava-se à luta estilo livre na categoria dos pesados. Não obteve sucesso como atleta, mas passou a atuar como árbitro do esporte e, na ocasião da Olimpíada de Munique - a terceira da qual participou - era o único árbitro de Israel certificado internacionalmente. Gutfreund era o mais corpulento da delegação: tinha 1,93m de altura e 140kg, mas era conhecido por sua bondade e generosidade, seguindo à risca o que dizia seu sobrenome: Gutfreund, em alemão, significa “bom amigo”.
4) YOSSEF ROMANO - Colega de Exército de Gutfreund, nasceu em Benghazi, na Líbia, e era o primeiro de 11 filhos. Romano chegou à então Palestina em 1946, instalando-se em uma região que, dois anos depois, seria anexada ao recém-criado Estado de Israel. Designer de interiores, deixou a paixão pelo halterofilismo falar mais alto. Dedicou-se ao esporte e foi campeão israelense da categoria peso médio por mais de dez anos, representando Israel em todos os campeonatos internacionais desde 1967. A ida à Olimpíada de Munique, a primeira da qual participava, era uma realização. Sua estréia aconteceu no dia 4 de setembro, mas seu sonho de ser campeão olímpico rompeu-se junto com o ligamento do joelho. A volta de Romano a Israel estava prevista para o dia 6, onde ele passaria por uma cirurgia no joelho para voltar a competir. Não deu tempo.
5) ZE'EV FRIEDMAN - Nascido na Sibéria, filho único de um casal que perdeu todos os parentes no Holocausto, o halterofilista era o mais baixo da delegação israelense, com 1,56m de altura. A pequena estatura escondia um grande atleta, que chegou a Israel em 1960 e começou a carreira na ginástica artística. Ze’ev Friedman também havia lutado na Guerra dos Seis Dias. Formado em educação física, trabalhou como professor no subúrbio da cidade de Haifa. O talento no halterofilismo o levou a conquistar diversos títulos nacionais e internacionais, sendo considerado o melhor atleta de Israel na categoria galo. Ele conquistou o 12º lugar nos Jogos de Munique, quebrando três recordes israelenses.
6) DAVID BERGER - Americano de Ohio, ele dividia seu tempo entre os estudos e o halterofilismo. Berger era formado em Psicologia, pela Universidade Tulane, e em Direito pela Universidade de Columbia, mesma instituição na qual concluiu o mestrado em Administração de Empresas. Seu pai, Benjamin, costumava dizer que o filho podia não ser o melhor levantador de peso, mas, certamente, era o mais inteligente. Berger começou a competir no halterofilismo ainda na faculdade, conquistando alguns títulos, como o ouro nos Jogos Macabi, uma espécie de Olimpíada judaica. Esta vitória o qualificou para disputar os Jogos de Munique, o que levou o atleta a se mudar para Israel em 1970. Simultaneamente às competições, ele abriu um escritório de advocacia. A estréia de Berger em Munique aconteceu em 2 de setembro, mas ele não conquistou medalhas.
7) YAKOV SPRINGER - Muitas das competições de levantamento de peso foram arbitradas por Springer, que estava em sua quinta Olimpíada. Nascido na Polônia, em 1921, ele era sobrevivente do Holocausto, tragédia na qual perdeu toda a sua família. A princípio, não queria ir a Munique, mas o fez como um gesto de solidariedade aos companheiros de delegação e por amor ao esporte. Anos antes, ao imigrar para Israel, em 1957, dedicou seu tempo livre à organização de clubes desportivos para crianças em favelas na cidade portuária de Jaffa, para reduzir a delinquência juvenil. Springer treinou luta estilo livre e halterofilismo, tornando-se, mais tarde, um árbitro do levantamento de peso reconhecido internacionalmente.
8) ELIEZER HALFIN - Eliezer construiu sua carreira na luta estilo livre na União Soviética, lugar onde nasceu e do qual não podia sair. O governo soviético temia que ele, um “sionista”, fizesse declarações a favor de Israel, aliado dos Estados Unidos, em plena Guerra Fria. O atleta chegou a ser impedido de participar de competições internacionais. Eliezer competiu no estilo livre de luta por mais de dez anos, conquistando o quarto lugar na divisão nacional da juventude. Quando finalmente conseguiu se mudar para Israel, em 1969, ingressou no clube Hapoel Tel Aviv e, posteriormente, na seleção nacional israelense de luta livre.
9) MARK SLAVIN - Também soviético, aos 18 anos era o atleta mais jovem da delegação israelense. Sua aproximação com a luta ocorreu após ser espancado por um grupo antissemita em sua cidade natal, Minsk. Um professor de ginástica que passava pelo local ficou tão impressionado com a reação de Slavin que o convidou a treinar em Moscou. Aos 17 anos, tornou-se campeão soviético júnior de luta greco-romana. Seu maior sonho era defender Israel em uma Olimpíada, mas a URSS não estava disposta a permitir isto. Mark, então, teve que disputar uma nova luta, desta vez com a burocracia soviética, que demorou um ano e três meses para permitir que a família Slavin deixasse o país. Ao desembarcar em Israel, em maio de 1972, Mark beijou o chão em agradecimento por estar ali, e logo ingressou no Instituto Wingate, o Centro Nacional de Educação Física e Desportos. Em poucos meses, tornou-se o favorito a conquistar a medalha de ouro em sua categoria.
10) MOSHE WEINBERG - No Instituto Wingate, Slavin era treinado por Weinberg, que fora campeão israelense de luta estilo livre e greco-romana por mais de uma década. Nascido em 1939 no lugar que se tornaria o Estado de Israel, Moshe conquistou a medalha de ouro no estilo livre nos Jogos Maccabi, em 1965. Weinberg tinha 30 anos quando tornou-se treinador da seleção de luta. Em 2005 o cineasta Steven Spielberg lançou o filme Munique, no qual Moshe é interpretado pelo próprio filho, Guri Weinberg, que tinha apenas um mês de vida quando o pai morreu. Guri falou a um portal de notícias israelense sobre a experiência de interpretar o pai no cinema: “Eu ouvi histórias sobre meu pai por toda a minha vida, mas eram apenas palavras. Quando você o interpreta, a coisa toda, de alguma forma, torna-se real. É como um sonho ruim. Eu estava no set e foi como se mais alguém estivesse lá. É difícil, para mim, explicar. Na maior parte do tempo eu estava em estado de choque. Era difícil sentir o meu próprio corpo”.
11) AMITZUR SHAPIRA - Único das 11 vítimas que não possuía ligação com o universo das lutas ou dos pesos, era natural de Tel Aviv, casado e pai de quatro filhos. Na década de 1950, foi um dos melhores velocistas do país e, quando deixou as pistas, tornou-se técnico do esporte e foi considerado o melhor de Israel. Amitzur trabalhava no Instituto Wingate e em meados dos anos 60 descobriu um grande talento do esporte israelense: a atleta Esther Roth-Shahamorov, que, na época, tinha 14 anos. Shapira a treinou para disputar a Olimpíada de Munique e vibrou de felicidade quando a pupila chegou às semifinais. Apos essa conquista, ele escreveu um artigo para o jornal israelense "Maariv", no qual previu um futuro brilhante para a atleta. Infelizmente, Shapira não teve tempo de ver seu artigo publicado, nem de presenciar a conquista de Esther nos Jogos seguintes. Em Montreal, quatro anos depois, ela fez história e tornou-se a primeira atleta israelense a chegar a uma final olímpica.

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