segunda-feira, 25 de julho de 2016

Reação de commodities pode acelerar volta do crescimento


A retomada do crescimento econômico no Brasil pode ganhar um reforço importante. Nos últimos meses, as cotações de matérias-primas produzidas e exportadas pelo País começaram a se recuperar, em especial o petróleo e o minério de ferro. No caso das commodities agrícolas, os preços se sustentam em patamares já elevados ou sobem ainda mais. O fenômeno beneficia os produtores, que podem acertar novos contratos com remuneração mais alta. Embora estejam ainda abaixo do que foi visto há um ano, os novos valores para o petróleo e o ferro superam com folga o recorde de baixa do início de 2016. Analistas divergem sobre o quão sustentável é esse movimento de retomada dos preços, mas o fato é que os reflexos já são sentidos. As ações de empresas que produzem commodities subiram de tal forma no primeiro semestre que o valor de mercado somado cresceu 60 bilhões de reais, segundo levantamento da Economática. “Os fundamentos positivos (com ajustes de oferta menor e demanda robusta) seguem contribuindo para a alta dos preços das commodities”, escreveram os analistas Artur Manoel Passos e Ivan Lasaro, do banco Itaú BBA, em relatório divulgado no início do mês. O índice de commodities do banco subiu 3% em junho e encerrou o semestre com uma alta acumulada de 18%. Não se trata de uma avaliação isolada. “Os mercados de commodities aparentemente dobraram a esquina e, liderados pelo petróleo, estão acelerando a recuperação de preços em relação às baixas (cotações) do ano passado”, escreveram analistas do Citi em relatório recente. Apesar de alertarem para o risco de oscilações bruscas nas cotações e para o fato de que fenômeno semelhante foi registrado nos seis primeiros meses de 2015, eles dizem não ver sinais de que haverá uma reviravolta tão cedo. O valor internacional do minério de ferro chegou a subir quase 50% de janeiro a maio, antes de retroceder nos últimos dois meses. Ainda assim, encontra-se 27% acima do nível do fim de 2015. É uma melhora que se reflete na confiança de investidores: as ações preferenciais da mineradora Vale mais que dobraram de valor desde fevereiro, saltando de 6,57 reais para 13,94 reais na última sexta-feira. No caso do petróleo, o barril do tipo Brent voltou a se aproximar do patamar de 50 dólares, depois de cair para abaixo de 30 dólares no fim de janeiro. Beneficiada também pela valorização do real, a Petrobras viu as ações preferenciais subirem quase 200%, saltando de 4,20 reais (em janeiro) para 11,94 reais na sexta-feira. O fenômeno de alta dos preços abrange também as matérias-primas do agronegócio. “O ajuste nas (commodities) agrícolas leva em conta quebras de safra no Brasil e revisões de área plantada nos Estados Unidos, fatores que reforçam a perspectiva de queda dos estoques globais no ano-safra de 2016/17”, dizem Passos e Lasaro, do Itaú BBA. Eles revisaram para cima a projeção até o fim do ano para as cotações da soja e do açúcar, dois dos principais alimentos em que o Brasil é uma potência agrícola. Mas há quem não acredite na recuperação dos preços. “É pura especulação. Não existe motivo técnico para a subida dos preços, com exceção do açúcar, que está em falta no mercado”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil. Ele usa o exemplo do minério de ferro para justificar a sua interpretação do que está ocorrendo. “O grande comprador do mercado mundial é a China, e sabe-se que o país tem estoque para alguns meses. Então o que explica a alta do minério? Somente especulação”, afirma. É uma visão semelhante à de Felipe Beraldi, analista de mineração e siderurgia da consultoria Tendências. “Observamos o aumento de preços puxado pela melhoria de expectativa do mercado após alguns estímulos do governo chinês na economia interna. Mas achamos que a alta não se sustenta até o fim do ano”, diz. A produção e a exportação de matérias-primas formaram um dos pilares do crescimento acelerado do Brasil – e de muitas economias emergentes – entre 2004 e 2011. A forte demanda da China fez os preços saltarem para patamares inéditos, em um fenômeno que ficou conhecido como boom de commodities. A partir de 2012, no entanto, a desaceleração no ritmo de avanço chinês derrubou as cotações de forma acentuada, prejudicando países que se preocuparam em utilizar a avalanche de recursos para financiar o consumo – caso do Brasil -, em vez de bancar investimentos de efeitos duradouros.

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