quinta-feira, 28 de julho de 2016

Lucro da Vale despenca 43% no segundo trimestre devido ao rompimento da barragem da Samarco


A mineradora Vale, maior produtora global de minério de ferro, informou nesta quinta-feira que obteve um lucro líquido de R$ 3,585 bilhões no segundo trimestre do ano, 43% abaixo do lucro líquido de R$ 6,311 bilhões registrado no primeiro trimestre. Em relação a igual período do ano passado, o resultado do segundo trimestre foi 30% menor. A queda de R$ 2,726 bilhões no lucro líquido deve-se principalmente a uma provisão anunciada na véspera de R$ 3,733 bilhões relacionada ao rompimento de uma barragem da Samarco, em Mariana. O lucro básico recorrente — ajuste no lucro líquido para os itens não recorrentes — foi de R$ 2,455 bilhões no segundo trimestre, principalmente devido aos ajustes para variação cambial (R$ 6,698 bilhões), provisão para o desastre envolvendo a Samarco (R$ 3,733 bilhões) e swaps de moeda e taxas de juros (R$ 1,608 bilhão). A dívida bruta totalizou US$ 31,814 bilhões em 30 de junho de 2016, registrando um ligeiro aumento em relação aos US$ 31,470 bilhões de 31 de março de 2016, principalmente em função do impacto do câmbio na conversão da parcela da dívida denominada em real para dólar. O impacto do câmbio foi parcialmente compensado pelos pagamentos líquidos de empréstimos de US$ 375 milhões no segundo trimestre. A dívida líquida caiu para US$ 27,508 bilhões em 30 de junho de 2016 contra US$ 27,661 bilhões em 31 de março de 2016, com uma posição de caixa de US$ 4,306 bilhões. A queda da dívida líquida se deveu, principalmente ao fluxo de caixa livre de US$ 761 milhões no segundo trimestre, que foi parcialmente compensando pelo impacto do câmbio na conversão da parcela da dívida denominada em reais para dólares. A Vale destacou que teve bons resultados operacionais no segundo trimestre do ano como a produção de minério de ferro em Carajás de 36,5 milhões de toneladas, produção de níquel de 78.500 toneladas, produção de cobre de 105.600 toneladas e produção de ouro de 109.000 oz.


A receita líquida totalizou R$ 23,203 bilhões no segundo trimestre, aumentando R$ 1,136 bilhão em comparação com o primeiro trimestre, devido aos maiores volumes de venda de finos de minério de ferro (R$ 1,621 bilhão) e maiores preços de venda de finos de minério de ferro (R$ 452 milhões) e pelotas (R$ 344 milhões), sendo parcialmente mitigados pela variação cambial (-R$ 2,007 bilhões). Frente ao mesmo período de 2015, a alta foi de 8%, em meio a maiores volumes de venda de finos de minério de ferro. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado somou R$ 8,341 bilhões, alta de 22% ante o mesmo período do ano passado, diante de maiores vendas de minério de ferro. Na moeda americana, o lucro líquido no segundo trimestre somou US$ 1,106 bilhão, levemente acima do valor médio esperado por analistas, de cerca de US$ 1 bilhão. Segundo a companhia, o volume de minério de ferro (finos) vendido somou 72,678 milhões de toneladas, ante 67,230 milhões no mesmo período do ano passado. A empresa afirmou que o preço realizado de finos de minério de ferro (CFR/FOB) atingiu US$ 48,30/tonelada no 2º trimestre, ante US$ 50,44/tonelada no mesmo período do ano passado, mas ficou acima dos US$ 46,50/tonelada do primeiro trimestre. A provisão relacionada à Samarco, joint venture da Vale com a BHP Billiton que impactou o lucro líquido, foi anunciada em momento em que a empresa já “não consegue estimar com segurança o tempo e a forma com que as operações” na região de Mariana (MG) serão retomadas, devido a dificuldades no processo de licenciamento. A Vale disse ainda que “a atual avaliação da Samarco aponta que a retomada das operações em 2016 é altamente improvável” — inicialmente esperava-se que a empresa voltasse a operar ainda este ano. O desastre com a barragem de rejeitos da Samarco, no ano passado, provocou a morte de 19 pessoas, sendo considerado o pior desastre ambiental do País. A Vale, Samarco e BHP firmaram um acordo bilionário com o governo para reparações, mas sua homologação está suspensa pela Justiça. Mas a Vale explicou também nesta quinta-feira que, tendo em vista as dificuldades de caixa da Samarco, é provável que seus acionistas sejam chamados a cumprir com obrigações, e, portanto, a Vale estima contribuir em torno de US$ 150 milhões para uma fundação neste semestre, que serão deduzidos do valor provisionado de R$ 3,7 bilhões. Em conferência com analistas de mercado para detalhar o resultado trimestral, a Vale informou que não vai pagar dividendos a seus acionistas, independentemente de obter resultados positivos, enquanto não estiver totalmente ajustada a enfrentar qualquer cenário econômico mundial. O foco da companhia neste momento é a redução de suas dívidas. A informação foi dada na manhã desta quinta-feira pelo diretor de Finanças e Relação com Investidores da Vale, Luciano Siane. "A companhia permanece 100% focada na redução da sua dívida, essa é a nossa prioridade principal. Nós geramos um fluxo de caixa positivo e conseguimos amortizar alguns empréstimos, apesar do efeito contrário da valorização do real. Enquanto a gente não tiver clareza e evidência de que teremos um balanço sólido para enfrentar qualquer cenário de preços de commodities nós não vamos antecipar declarações a respeito de dividendo. É claro que o objetivo da companhia é remunerar bem seus acionistas", destacou o diretor. Segundo o executivo, quando a companhia entrar em uma trajetória de redução da dívida , com a ajuda do plano de venda de ativos que está em andamento, a Vale “voltará a estudar e a deliberar uma boa remuneração para seus acionistas”. No início do ano, a Vale apresentou a proposta ao seu Conselho de Administração para não distribuir dividendos aos seus acionistas durante o no de 2016. Já o presidente da Vale, Murilo Ferreira, informou que até o fim do ano a companhia deverá concluir três operações de venda de ativos. Sem entrar em detalhes durante a conferência com analistas de mercado, Murilo disse que já na próxima semana será anunciada a primeira transação que está em fase de ajuste final de documentação. Uma segunda operação também está muito adiantada nas negociações, além de uma terceira que ainda precisa de um avanço maior nas discussões. "Para este terceiro trimestre, nós esperamos concluir duas transações, e temos uma terceira que deve ficar para o último trimestre do ano. Felizmente, as coisas estão dentro da agenda de trabalho que havíamos fixado, e estamos em um cenário positivo", destacou Ferreira. A mineradora planeja vender ativos essenciais e não essenciais para atingir US$ 15 bilhões até 2017 e enfrentar os preços baixos preços do minério de ferro, seu principal produto, e reduzir a dívida.

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