terça-feira, 28 de junho de 2016

Morre Tony Mayrink Veiga, ícone do high society


Filho de Nya e Antenor Mayrink Veiga, Antônio Alfredo, mais conhecido como Tony, nasceu na Copacabana da década de 1930. Na juventude, um de seus programas preferidos era esquiar nas águas da Baía de Guanabara, na companhia do amigo Ermelino Matarazzo. Quando terminou a escola, foi fazer faculdade de economia nos Estados Unidos. Em seu retorno ao Rio, Tony conheceu a paulistana Carmen Terezinha Solbiati, frequentadora dos desfile de alta costura francesa e já famosa no mundo da moda. No noivado, ele a presenteou com um Chrysler branco — o automóvel foi trazido ao Brasil num navio fretado. Tony e Carmen se casaram em 1956, em São Paulo. A cerimônia foi um acontecimento, com cobertura das revistas mais importantes da época. Tony e Carmen Mayrink Veiga formavam um dos casais mais elegantes da alta roda. Certa vez, eles foram considerados por Truman Capote, Diana Vreeland e Anna Wintour, na “Vogue” americana, “o casal mais chique da América do Sul”. No apartamento de mil metros quadros da Avenida Rui Barbosa, com vista deslumbrante para o Pão de Açúcar, o casal costumava receber para jantares regados a champanhe. O casal frequentava o jet set internacional. Avesso a badalações mas não menos acostumado a luxos, um dos programas preferidos de Tony era a caça. Participava de expedições na companhia de gente como os duques e as duquesas de Windsor e Malborough, o barão e a baronesa de Silvia Amélia de Waldner, o barão David de Rotschild, o rei Constantino da Grécia, a princesa Soraya do Irã e até Clark Gable. O programa começava normalmente às sextas-feiras com jantares black-tie. Mas nada que atrasasse o início da busca por faisões, perdizes ou veados, que começava religiosamente às sete horas da manhã. Foi caçador até 1985. Entre uma partida e outra de tênis no Country Club, na Praia de Ipanema, Tony costumava narrar os seus feitos: ele garantiu que, certa vez, matou, numa só caçada, 30 javalis. Outra vez, passou 18 dias no Alasca, a 40 graus negativos, rastreando um único urso. Além de caçar e de jogar tênis, Tony costumava passar as férias com a família em estações de esqui nos Estados Unidos e na Europa. Ele aprendeu a praticar o esporte na neve depois dos 50 anos. O alto padrão de vida foi impactado pelo Plano Collor, na década de 1990, quando a Casa Mayrink Veiga iniciou processo de falência. Fundada em 1864, a empresa representava armamentos para o Exército brasileiro. Nos anos 1980, a Casa Mayrink Veiga passou a ser também fabricante de armas. Tony assumiu a empresa da família em 1969, quando o seu pai morreu. Antes disso, ele trabalhava na empreiteira Sociedade Brasileira de Urbanismo — sua última obra de vulto foi a construção da descida da Serra de Petrópolis, realizada em 1970. A família também foi proprietária da Rádio Mayrink Veiga, fechada após o golpe militar, em 1964. A falência da Casa Mayrink Veiga foi oficialmente decretada em 2002. Cinco anos depois, o anúncio do leilão de bens da família para o pagamento de dívidas agitou o mercado de arte. Na ocasião, foram postos à venda um serviço de porcelana japonesa do século XVI, joias e quadros de Guignard, Milton Dacosta, Volpi, Di Cavalcanti, entre outros artistas de renome. Um dos maiores destaques da venda, amplamente divulgada pelos jornais, foi um Rolls-Royce 1951, que pertencia à família desde que saiu da fábrica inglesa. Em 2013, em um novo leilão, mais de 100 peças de arte e decoração foram arrematadas em São Paulo. No entanto, o item mais cobiçado da venda — o retrato de Carmem, pintado por Portinari em 1959 — não encontrou comprador e continuou com a família. O motivo desse segundo leilão foi a mudança para um imóvel menor, contíguo ao antigo apartamento na Praia do Flamengo. Internado há uma semana no Hospital Silvestre, no Cosme Velho, Tony morreu ontem por falência múltipla de órgãos. Ele deixa a mulher, Carmen, dois filhos, Antenor e Antonia, e cinco netos.

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