sexta-feira, 17 de junho de 2016

Em carta, diplomatas criticam Obama por atuação na guerra civil na Síria

Assinado por 51 diplomatas, um documento do Departamento de Estado americano critica a política de Barack Obama na Síria e pede por mais "ataques militares seletivos" contra a ditadura de Bashar al-Assad. O "Wall Street Journal" teve acesso à carta, canal confidencial e formal usado para expressar uma crescente indisposição interna com a resistência de Obama em tomar partido de forma mais incisiva no conflito sírio.

O "New York Times", que também leu o documento, reproduz a demanda pelo "uso criterioso" de mais ataques aéreos pelos Estados Unidos, "o que embasaria um processo diplomático mais direcionado e durão, conduzido pelos EUA". A estratégia que Obama adota para o Oriente Médio, contudo, enfatiza mais a campanha militar contra o Estado Islâmico do que o desalojamento do ditador sírio. Nenhum funcionário do alto escalão subscreve a crítica — na maioria, são diplomatas de carreira e pessoas com experiência no Oriente Médio. Mas o próprio secretário de Estado, John Kerry, já sugeriu campanhas militares mais robustas na Síria. A guerra, que já dura cinco anos, virou um "todos contra todos", envolvendo governo, terroristas islâmicos que tentam derrubá-lo (muitos deles extremistas) e o Estado Islâmico, que combate os dois lados. A Rússia, que respalda Assad, e os Estados Unidos, inclinado aos insurgentes, negociaram em fevereiro um cessar-fogo no país – quando já se contavam cerca de 470 mil vítimas. A trégua, contudo, está à beira de um colapso. O ditador sírio foi acusado de violá-la repetidas vezes, e forças apoiadas por Moscou atacaram militantes treinados pelos americanos. Comboios humanitários ainda não entram em algumas cidades. Em maio, a ONU reportou dificuldades para fazer chegar comida a cidades famintas. "A falência da cessão das hostilidades foi catastrófica para nosso trabalho", disse Jan Egeland, chefe da força-tarefa. Ainda assim, reclamam os signatários da queixa, Obama se esquiva de autorizar ações militares. Segundo membros do governo, o presidente teme que, se o fizer, arriscará entrar em conflito com Rússia e com outro aliado histórico de Assad, o Irã. Há ainda receio do que aconteceria se o ditador fosse afastado. Muitos especialistas, por exemplo, atribuem o agigantamento do Estado Islâmico à derrubada do iraquiano Saddam Hussein, que reprimia a militância sunita. Em abril, Obama disse à BBC que a Síria é uma "situação de partir o coração, com uma enorme complexidade". A reclamação que circula pelo Departamento de Estado não é incomum. Fora da curva, disseram oficiais ao "Wall Street Journal", é o número de diplomatas que endossaram uma posição abertamente avessa à da Casa Branca. Seria um movimento atípico, que atinge o "coração da burocracia", em geral apolítico. "É embaraçoso para a administração", disse um ex-funcionário.

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