quinta-feira, 2 de junho de 2016

Chefe do BNDES fala em privatização, mas não como nos anos 1990


Após receber o cargo de presidente do BNDES do petista Luciano Coutinho, que ocupou a posição por nove anos, a economista Maria Silvia Bastos Marques defendeu a retomada do papel do banco no fomento nas privatizações, além da ampliação de seu papel social. Ela disse acreditar, contudo, que uma possível rodada de privatizações não teria as mesmas características da ocorrida nos anos 1990, com a venda à iniciativa privada de empresas industriais de grande porte, como Vale, CSN e Embraer. A presidente não especificou o que poderia ser privatizado no País – decisão que caberia ao ministério do Planejamento –, mas afirmou que terá uma reunião sobre o assunto na próxima semana com Moreira Franco. Ele é secretário-executivo do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), criado no governo federal para tratar de privatizações, concessões e parcerias público privadas. O clima durante a transmissão de cargo era de se falar abertamente em privatizações como uma das formas de se destravar o investimento no País, algo tratado como tabu pela administração da presidente afastada Dilma Rousseff. Tanto Maria Silva Bastos Marques, que abordou o tema em seu discurso e também na entrevista coletiva que se seguiu, quanto o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, citaram a opção. A presidente lembrou do papel do banco de fomento na privatização dos ano 1990, mas ressaltou que o momento é outro e que não há mais empresas industriais de grande porte a serem privatizadas. "Não vejo mais privatizações daquela escala vista nos anos 1990. Talvez tenha alguma coisa a nível estadual, mas realmente aquele ciclo de grandes empresas industriais estatais está esgotado", disse. Há no mercado a expectativa de que o governo federal não privatize empresas como a Petrobras ou Eletrobras, mas que venda ativos considerados pouco rentáveis ou deficitários. "O banco possui notória capacidade como gestor, executor e apoiador de processos de diversas formas de desmobilização de ativos, como concessões, parcerias publico privadas e privatizações", disse. Maria Silvia Bastos Marques defendeu também uma abertura maior da economia brasileira para investimentos estrangeiros, seja na compra de ativos estatais, seja na participação de grande grupos internacionais em rodadas de concessões. Sua fala foi em resposta ao questionamento se havia no Brasil condição para se investir, por exemplo, em infraestrutura, setor em que ela disse haver oportunidade. A presidente foi questionada se concessões no setor não poderiam ser dificultadas em função das maiores construtoras do País estarem envolvidas na Lava Jato. "É fundamental ter uma nova leva de concessões e parcerias público privadas e até de privatizações. Se tem empresas brasileiras dispostas ou não a investir neste momento, eu acho que tudo depende. Depende do projeto, das premissas. E acho que tem as empresas internacionais dispostas também. Não podemos esquecer disso. Temos que estar abertos ao capital estrangeiro, ao investimento estrangeiro, que é tão importante e que foi tão importante lá na privatização", disse. Meirelles reforçou em seu discurso o papel do banco na nova forma de conduzir a economia do governo interino de Michel Temer. "O BNDES é também um banco que vai atuar de forma decisiva em algo que no momento é de crucial importância para o Brasil, que é exatamente o processo de concessões e retomada de privatizações. E nesse aspecto o banco pode expandir bastante a sua estrutura de trabalho dentro do processo de concessões e privatizações", disse. Presidente ao evento, o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, elogiou a sinalização da nova equipe no que diz respeito à possibilidade de privatização de ativos estatais. Franco afirmou, contudo, que não está claro como o processo ocorrerá. "Fico muito feliz em ouvir a palavra privatização sendo pronunciada de forma tão enfática. Como exatamente isso ocorrerá, não está claro", disse. Maria Silvia afirmou também que o BNDES buscará financiar projetos que tenham retorno social superior ao "retorno privado". Ela destacou que dará especial atenção a projetos de saneamento e ambiente. Ela afirmou também que o banco irá financiar projetos que tenham papel social forte, mas que teriam dificuldade em conseguir financiamento de longo prazo no mercado privado. Maria Silvia Bastos Marques anunciou nesta quarta-feira (1) sua nova diretoria. A surpresa ficou a cargo da indicação de Marilene Ramos, que foi presidente do Ibama na administração de Dilma. Engenheira, Marilene Ramos ficará a cargo do setor de infraestrutura, embora a diretoria do banco não tenha cargos de áreas específicos. A executiva afirmou que recebeu do presidente interino Michel Temer total autonomia para indicar seus diretores. Segundo ela, foi uma exigência pessoal. Ela disse que não há qualquer constrangimento em ter em sua equipe alguém que fez parte do governo afastado. "Michel Temer nem tá sabendo que indiquei a Marilene. Vai saber pelos jornais", disse. Também ocuparão a diretoria a economista Solange Paiva Vieira; o engenheiro Ricardo Ramos; a engenheira Eliane Lustosa; a economista Cláudia Prates; o engenheiro Claudio Mendes; o contabilista Ricardo Baldin; e o economista Vinicius Carrasco.

Nenhum comentário: