quarta-feira, 22 de junho de 2016

Após escândalos, peronistas procuram se dissociar de Cristina Kirchner

Com a prisão do secretário de obras do período kirchnerista (2003-2015), José López, na semana passada, políticos argentinos que sempre apoiaram Cristina Kirchner tentam agora se desvincular da imagem da ex-presidente e estão enfraquecendo ainda mais a base de apoio dela. A detenção de López, que foi pego com US$ 8,9 milhões (R$ 30 milhões) em espécie quando tentava esconder o dinheiro em um convento na Grande Buenos Aires, prejudicou a já maculada suja da ex-mandatária, que vem sendo investigada pela Justiça sob suspeita de enriquecimento ilícito, má administração de recursos públicos e falsificação de documento público.

Ministro de Saúde do governo de Cristina Kirchner por cinco anos e atual governador da província de Tucumán, Juan Manzur afirmou que o kirchnerismo é "uma fase que passou". Manzur disse a uma rádio local que espera que José Luis Gioja, presidente do Partido Justicialista (fundado por Juan Domingo Perón e do qual Cristina faz parte), sugira novas propostas para o peronismo. José Alperovich, senador peronista e ex-governador da mesma província, destacou que "o kirchnerismo acabou" e que Cristina era ligada a López, tendo o indicado, no ano passado, para representante do Parlasul (Parlamento do Mercosul), em uma eleição que o ex-secretário de obras acabou vencendo. Para Marcos Novaro, do Cepol (Centro de Investigações Políticas), Cristina nunca teve apoiadores reais em províncias distantes de Santa Cruz, reduto do kirchnerismo. "Grande parte dos políticos a acompanhava para obter recursos. Agora eles estão tomando distância", disse ele. A estratégia do peronismo era deixar que o kirchnerismo fosse se dissolvendo lenta e silenciosamente, de acordo com Novaro. Em maio, quando houve as eleições do Partido Justicialista, a ex-presidente já havia perdido influência e não conseguiu colocar nenhum político próximo na nova direção do partido. "Agora, com o escândalo do López, ficou complicado fazer o enterro silencioso e todos querem fugir da associação com os Kirchner", acrescenta Novaro. Logo após a prisão do ex-secretário de obras, três deputados e uma senadora abandonaram a Frente para a Vitória, coalizão do Partido Justicialista. O governador de Córdoba, Juan Schiaretti, peronista que nunca se aproximou de Cristina, afirmou que o kirchnerismo foi "ferido mortalmente" e que "a Justiça precisa agir rápido". "É evidente que todos querem se dissociar de Cristina agora", disse Marcelo Leiras, diretor do mestrado em administração pública e política da Universidade de San Andrés. Segundo o professor, porém, a prisão de López não está debilitando o kirchnerismo: "Provavelmente o enfraquecimento prévio de Cristina é que permitiu a detenção. Já não há mais uma rede de proteção". No fim do ano passado, quando não conseguiu eleger presidente o candidato do PJ, Daniel Scioli, Cristina passou a ver sua base política minguar. Ela foi considerada por muitos a responsável pela derrota. A Justiça esperava que López prestasse depoimento nesta terça-feira (21), mas o politico se negou a falar por "estar estressado". Ainda na terça-feira, a polícia cumpriu mandado de busca e apreensão no convento em que López foi preso. No chão de uma capela foram encontrados sob o carpete três buracos subterrâneo fechados com uma tampa removível — não havia nada no interior deles. As freiras afirmaram que o local seria usado como cripta. 

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