sexta-feira, 8 de abril de 2016

Doleiro vira delator e afirma ter novas provas contra Eduardo Cunha


O doleiro Leonardo Meirelles, parceiro de negócios de Alberto Youssef, fechou um acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República e entregou o que classifica de novas provas sobre a transferência de US$ 5 milhões para contas secretas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O montante, segundo a Procuradoria, foi a propina que Cunha recebeu do empresário Julio Camargo após a Petrobras contratar dois navios-sondas da empresa coreana Samsung e da japonesa Mitsui, em 2006 e 2007. Cunha teria recebido a propina porque o PMDB indicou Nestor Cerveró para a diretoria internacional da Petrobras, que fez o negócio. O deputado nega que tenha recebido suborno e disse que Meirelles terá de provar o que diz. Os documentos mostram que os US$ 5 milhões saíram de banco chinês com que o doleiro trabalhava e foram depositados em contas na Suíça que seriam de Cunha, segundo Haroldo Nater, advogado de Meirelles. Com os novos documentos, os investigadores da Lava Jato dizem ter fechado o círculo de provas em torno de Cunha: há documentos suíços apontando que a conta é dele e documentos chineses mostrando que o dinheiro saiu da conta do doleiro que operava com Youssef. Os US$ 5 milhões foram depositados em três parcelas: duas de US$ 2,3 milhões em outubro de 2011 e junho de 2012, e uma de US$ 400 mil, em julho de 2012. Os dois primeiros depósitos saíram de contas mantidas por uma empresa de Meirelles, a RFY Import and Export Ltd.; o terceiro partiu da DGX Import and Export. As empresas de fachada foram usadas para enviar ou trazer dólares para o Brasil por meio de importações simuladas.


Meirelles, por sua vez, recebeu os valores de Julio Camargo, que fez transferências da Suíça para a China. O doleiro tornará pública as provas em depoimento que deve prestar nesta quinta-feira (7) no Conselho de Ética da Câmara, que analisa o pedido de cassação do deputado por quebra de decoro. Cunha negou no ano passado ter contas na Suíça, mas autoridades daquele país dizem ter encontrado quatro contas do deputado e seus familiares. Delatores citaram outras cinco contas que seriam de Cunha, o que o deputado nega com veemência. Nater, o advogado de Meirelles, diz que a Câmara se comprometeu a pagar a passagem dele e de seu cliente para Brasília, como é a regra no Conselho de Ética, mas Cunha vetou. Meirelles decidiu que bancaria a viagem por conta própria. Condenado a cinco anos e seis meses de prisão e réu em outras duas ações, Meirelles vai cumprir a pena em regime aberto graças à delação e pagará multa de R$ 350 mil. A assessoria do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que Leonardo Meirelles terá de provar que as contas que receberam US$ 5 milhões são do presidente da Câmara. O deputado já teve quatro contas na Suíça, segundo autoridades daquele país, mas duas foram fechadas. O saldo atual das contas é de US$ 2,4 milhões, mas elas receberam US$ 4,8 milhões e 1,3 milhão de francos suíços. Cunha diz que não mentiu ao dizer que não tinha conta na Suíça. Segundo ele, o controle é feito por um trust, um tipo de contrato no qual o dono dos recursos transfere a administração a um terceiro.

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