quinta-feira, 28 de abril de 2016

Crise significa menos refeições e mais carboidrato na Venezuela

Os preços em desabalada escalada e o crônico desabastecimento da Venezuela deixaram a dona de casa Alida González, de 65 anos, com dificuldades para colocar a comida na mesa. Moradores da favela de Petare, na capital Caracas, ela e os quatro familiares agora pulam uma refeição por dia com frequência e passaram a comer mais carboidratos para substituir as proteínas que ficaram caras ou indisponíveis. "Com o dinheiro que nós usávamos para fazer café da manhã, almoço e jantar, agora só podemos comprar o café da manhã, e mesmo assim nem tão bom", disse Alida González em sua casa. Num dia recente, a dona de casa tinha apenas meio quilo de frango, quatro bananas-da-terra, um pouco de óleo de cozinha, um pacote pequeno de arroz e mangas. A família não sabia quando seria capaz de comprar mais. A recessão e uma economia estatal disfuncional estão forçando muitos neste país sul-americano de 30 milhões de habitantes a reduzir o consumo ou a comer refeições menos balanceadas. Em uma pesquisa recente de três grandes universidades críticas ao governo, 87% dos entrevistados dizem que seus salários são insuficientes para comprar comida. O estudo feito com 1.500 famílias encontrou crescentes percentuais de carboidratos nas dietas e descobriu que 12% dos entrevistados não faz três refeições ao dia. Por muito tempo, aliados do governo destacavam a melhora na alimentação sob o governo do líder socialista Hugo Chávez, que usava o dinheiro do petróleo para subsidiar comida para os pobres durante seus 14 anos de governo. Devido a isso, foi elogiado pela ONU (Organização das Nações Unidas). Mas seu sucessor, o presidente Nicolás Maduro, enfrenta um colapso no preço do petróleo, que é a principal fonte de exportações do país. Os venezuelanos estão cansados e irritados. Um salário mínimo cobre hoje algo em torno de 20% do custo para alimentar uma família de cinco pessoas, segundo um grupo de monitoramento. Filas serpenteiam ao redor dos supermercados estatais antes do amanhecer. "Você tem que entrar nestas filas intermináveis — todo o dia, de cinco da manhã até três da tarde — para conseguir dois sacos de farinha e um pouco de manteiga", disse o taxista Jhonny Mendez, de 58 ans. "Dá vontade de chorar". Natalia Guerra, de 45, mora em uma pequena casa em Petare com oito familiares, sendo que só um deles têm um salário decente. Ela lembra que comprava leite para seus próprios filhos, mas agora não consegue encontrar nem um pouco para seus netos: "Nós temos uma família grande e está ficando cada vez mais difícil para que possamos comer". 

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