segunda-feira, 18 de abril de 2016

Argentina lança emissão da dívida para voltar aos mercados

A Argentina lançou nesta segunda-feira uma emissão da dívida de pelo menos 12,500 bilhões de dólares, necessários para pagar na sexta-feira aos fundos abutres. O pagamento marcará sua volta aos mercados internacionais após 15 anos e o fim da política de endividamento. O governo de Mauricio Macri já tem tudo pronto para colocar a emissão de três séries de títulos a 5, 10 e 30 anos, que pode chegar até 15 bilhões de dólares, de acordo com a ação judicial, e uma taxa de juros de aproximadamente 8%. Com esses recursos, o governo espera cobrir os 10,5 bilhões de dólares que deve pagar aos 'holdouts', respaldados por uma sentença judicial em Nova York, e usar o resto para recompôr o déficit orçamentário. Os bancos Deutsche Bank, HSBC Securities, J.P. Morgan, Santander, BBVAFrancés, Citigroup e UBS Securities são os que participarão na operação, segundo uma resolução do Ministério da Fazenda. "A Argentina está de volta, espero que possam desfrutar", se entusiasmou o ministro da Fazenda, Alfonso Prat-Gay, de Washington, onde participou da reunião de primavera (boreal) do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Para se lançar ao mercado, o governo preparou um prospecto confidencial de 256 páginas para eventuais interessados, cujo conteúdo antecipou no domingo o jornal Ambito Financiero. Ali se confirma a emissão de três bônus sob a jurisdição de Nova York e que em caso de default, Buenos Aires deverá voltar a se submeter aos tribunais dessa cidade, onde obtiveram uma decisão favorável os detentores de bônus que litigaram após rejeitar as reestruturações de 2005 e 2010 pela dívida em moratória desde 2001. O documento que inclui uma contextualização política da terceira economia da América Latina determina que os novos títulos vençam em 2021 (Série A), 2026 (B) e 2046 (C) e que novamente o Bank of New York Mellon (BoNY) será o agente de registro, pagamento e transferência. Além disso, se compromete a suspender o processo que o governo de Cristina Kirchner (2007/2015) abriu contra o BoNY, que bloqueou os pagamentos aos credores que aderiram à reestruturação por ordem do juiz Thomas Griesa. Na equipe econômica há otimismo pela "assombrosa demanda" de títulos, como classificou Prat-Gay, que na quarta-feira celebrou a decisão da corte de apelações de Nova York, que autorizou o retorno de Argentina aos mercados. Esta decisão busca facilitar que o país avance em sua oferta lançada em fevereiro e aceita por 90% dos 'holdouts'. A Argentina alcançou pré-acordos por aproximadamente 8,25 bilhões de dólares. "A Argentina é o país da moda para os investidores. A saída do default em tão pouco tempo, voltou a colocar o país entre os interesses dos investidores", afirmou neste domingo, em Washington, Hernán Lacunza, ministro da Economia da província de Buenos Aires, o maior distrito governado pela coalizão de centro-direita liderado por Macri. Nesta segunda-feira, o país começou a receber ofertas para a colocação de bônus de ao menos 12,5 bilhões de dólares em sua volta aos mercados internacionais da dívida, informou uma fonte do Ministério de Fazenda. "Estamos recebendo as ofertas, amanhã (terça-feira) se saberá a 'taxa de corte' (montante da emissão). Não podemos anunciar nada hoje, toda a informação sairá de Buenos Aires na terça-feira", disse a fonte. O FMI elogiou no sábado as medidas tomadas na Argentina para "pôr a casa em ordem". Entretanto, o titular do Comitê Financeiro do organismo, o mexicano Agustín Carstens, advertiu que os argentinos deverão suportar "no curto prazo algumas medidas difíceis de digerir". O governo que assumiu em dezembro prometeu baixar drasticamente no segundo semestre a inflação, que acumula 12% no primeiro trimestre, de acordo a consultoras ante a ausência de estatísticas oficiais. O presidente advertiu neste domingo que os argentinos deverão ser "mais austeros e cuidadosos e emitir menos quantidade de pesos" para frear a espiral inflacionária. A imagem positiva de Macri caiu oito pontos até situar-se em 50,1% na primeira semana de abril, revelou uma pesquisa do consultor Raúl Aragón, o que atribuiu ao "ajuste da economia". As tarifas de serviços como gás, luz, água e transporte sofreram aumentos de 200% a 700% sem que tenham ainda chegado a um acordo sobre os reajustes de salários em negociações coletivas. O FMI anunciou que voltará em setembro à Argentina para a revisão anual econômica conhecida como artigo IV, pela primeira vez desde que em 2006 o ex-presidente Néstor Kirchner (2003/2007) saldará a dívida de 9,5 bilhões de dólares, no marco de sua política de desendividamento. O organismo prevê que a Argentina se contrairá 1% em 2016 e crescerá 2,8% em 2017. Prat-Gay, contudo, afirma que o crescimento será "algo parecido a zero" neste ano e de "entre 3,5 a 4 pontos" no ano que vem. Apesar dos prognósticos desalentadores, em 2015, a economia argentina cresceu 2,1%, segundo estatísticas oficiais.

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