segunda-feira, 14 de março de 2016

Inadimplência explode e cria risco de crise do subprime de carros nos EUA



A inadimplência em financiamentos de automóveis para clientes de alto risco subiu ao seu mais alto patamar em duas décadas nos Estados Unidos, de acordo com a agência de classificação de risco Fitch, o que reforça as preocupações quanto a esse mercado em rápido crescimento. A proporção de financiamentos automobilísticos de risco com mais de 60 dias de atraso nos pagamentos subiu a 5,16% nos Estados Unidos em fevereiro. O indicador ultrapassou a marca mais alta posterior à crise financeira e representa a proporção mais alta desde os 5,96% de outubro de 1996, de acordo com a Fitch. Os financiamentos automobilísticos de risco há muito preocupam os analistas, alguns dos quais temem que o ritmo rápido de concessão de crédito desde a crise e o relaxamento dos critérios de financiamento possam causar problemas no mercado de títulos lastreados por financiamentos automobilísticos. Nele, bancos empacotam os ativos representados pelos empréstimos na forma de títulos lastreados por ativos, e os vendem a investidores, mais ou menos como acontecia com as hipotecas no mercado de crédito imobiliário "subprime" de alto risco nos anos 2000. "O forte crescimento no volume de empréstimos concedido, a competição ampliada e os padrões mais relaxados de subscrição dos três últimos anos contribuíram para o desempenho mais fraco do ano passado", segundo a Fitch. O mercado geral de financiamento automobilístico dos Estados Unidos ultrapassou o US$ 1 trilhão em 2015, propelido pelas fortes vendas de automóveis. A emissão de títulos lastreados por financiamentos de carros subiu em 17% no ano passado e atingiu os US$ 82,5 bilhões, de acordo com dados da Dealogic, o que representa o melhor ano para o setor desde 2005. A Fitch acompanha o desempenho de cerca de US$ 100 bilhões em financiamentos de automóveis que foram convertidos nos chamados "títulos lastreados por ativos" (ABS, na sigla em inglês), dos quais pouco mais de um terço são considerados como de risco. O nível de inadimplência dos ABS automobilísticos norte-americanos de primeira linha foi de apenas 0,46%, em fevereiro, pouco acima do mês anterior, mas sem mudança quanto a fevereiro de 2015. Financiamentos de risco tipicamente envolvem clientes com menos de 620 pontos pelos critérios da FICO, a maior companhia de classificação de crédito pessoal, que avalia os clientes em uma escala de 300 a 850 pontos. A Fitch antecipa melhoras no desempenho dos ABS de primeira linha e de risco no segundo trimestre, devido a restituições de impostos, mas prevê benefícios sazonais mais discretos, dada a queda na qualidade dos financiamentos e a perda de ímpeto prevista para o mercado atacadista de automóveis nos Estados Unidos. "Tanto o segmento de primeira linha quanto o de risco foram estimulados pela força do segmento de veículos usados nos últimos cinco anos, o que contribuiu para uma severidade menor nas perdas causadas por inadimplência", o relatório afirma. "Mas, com as vendas de veículos novos e a oferta de veículos com contratos de leasing encerrados atingindo níveis históricos de alta no início de 2016, a Fitch antecipa fraqueza no mercado de atacado". Depois de mostrar forte recuperação ante a profunda queda causada pela recessão, o Índice Manheim de Valor de Veículos Usados caiu em 1,4% em fevereiro. "Quaisquer futuros declínios do Manheim, como de outros indicadores do mercado, provavelmente contribuirão para uma severidade maior dos prejuízos por inadimplência e causarão perdas maiores", apontou a Fitch. Em nota de pesquisa publicada no mês passado, a consultoria Oxford Economics destacou esse mercado como um possível sinal de alerta para o ciclo do crédito mais amplo. Embora os empréstimos ao consumidor parecessem firmes, a única "área de alguma preocupação é o financiamento automobilístico de risco, onde as inadimplências e os créditos contabilizados como prejuízo devem crescer", a consultoria afirmou. No entanto, os analistas do banco de investimento Jefferies argumentaram que a intensa competição no mercado de financiamentos automobilísticos de risco havia chegado a um pico em 2012 e 2013, e gerado um "miniciclo" e correção em 2014, e eles agora acreditam que oferta e procura estejam reequilibradas. "Acreditamos que as preocupações de crédito quanto às companhias dessa área possam estar sendo exageradas no momento", argumentou o banco em um relatório sobre o crédito ao consumidor em novembro.

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