sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Senhores empreiteiros, mirem-se no exemplo de Kátia Rabello e Marcos Valério

Tão logo Roberto Barroso conceda os perdões judiciais, não haverá mais nenhum político cumprindo pena por causa do mensalão. Faz sentido?

Por Reinaldo Azevedo - Na década de 80, uma música chatíssima de Chico Buarque chegou a fazer sucesso. Chamava-se “Mulheres de Atenas”. Era para uma peça de Augusto Boal, que deve ser o autor da letra. De modo irônico, as mulheres eram convidadas a se mirar no exemplo de suas congêneres de Atenas, sempre tão solícitas, doces, submissas, sem vontades, entregues aos caprichos de seus respectivos maridos. Uma notícia desta quarta me leva a fazer um convite aos empreiteiros enrolados com o petrolão: “Mirem-se no exemplo da banqueira Kátia Rabello (Banco Rural) e do publicitário Marcos Valério”. Ela foi condenada, no processo do mensalão, a 16 anos e 8 meses de prisão; ele, a 40 anos, 1 mês e 6 dias, para ser preciso. Guardaram essa informação? Então vamos a outra. Rodrigo Janot, procurador-geral da República se manifestou de forma favorável, atenção!, ao PERDÃO JUDICIAL para outras seis pessoas condenadas no escândalo do mensalão — quatro são políticos. Ficariam livres de cumprir o resto de suas respectivas penas os seguintes patriotas: Valdemar Costa Neto (PR-SP), Bispo Rodrigues (PR-RJ), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Pedro Henry (PP-MT), além de Rogério Tolentino, que é ex-advogado do operador do esquema, e Vinicius Samarane, ligado ao núcleo financeiro. Ah, sim: o mesmo Janot já se disse favorável ao perdão judicial para Delúbio Soares e João Paulo Cunha. Quem vai decidir é o ministro petizado do Supremo Roberto Barroso, que é o novo relator do mensalão.
Atenção!
Tão logo o senhor Barroso conceda o perdão judicial, não haverá mais nenhum político cumprindo pena por causa do mensalão. Dirceu está preso de novo, mas é por causa do petrolão. Sem esse novo enrosco, é provável que estivesse também na lista. Então veja que coisa formidável! Dirceu à parte, mas por outra imputação, restarão em cana, por causa do mensalão, a banqueira e o publicitário-operador. Fica-se, então, com a impressão de que a dupla é que foi peça-chave no escândalo e que o mensalão foi uma urdidura para atender a interesses financeiros. É como se o mensalão não tivesse sido uma maquinaria política para assaltar o Estado e a democracia. Sim, eu sei que os indutos concedidos se encaixarão em critérios previstos em lei e em decreto padrão assinado por Dilma. Mas os políticos mensaleiros só serão beneficiados porque, obviamente, a condução do processo e a dosimetria das penas acabaram sendo extremamente duras com os empresários e frouxas com os políticos. Os senhores empreiteiros que se mirem no exemplo das mulheres de Atenas… Ou melhor: no exemplo de Katia Rabello e Marcos Valério. Tudo mais constante, num prazo de uns três anos a partir da condenação, não haverá nenhum político em regime fechado por causa do petrolão, mas alguns empreiteiros estarão mofando na cadeia, como se o esquema criminoso que está sendo desvendado não tivesse uma natureza principalmente política. Os depoimentos de João Santana e de Mónica Moura não deixam dúvida: o objetivo é livrar a cara dos políticos e mandar os empresários para o quinto dos infernos. As mulheres de Atenas “secavam por seus maridos”… Pergunto aos empresários: vale a pena “secar” por Lula e Dilma?

Nenhum comentário: