segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O casal Santana aceita euro e dólar


Uma mensagem manuscrita por Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro João Santana, evidencia a desenvoltura com que ela trata com um operador de propinas os métodos para receber recursos em contas secretas no exterior. Em um bilhete endereçado ao operador Zwi Skornicki e ao filho dele, Bruno, Mônica envia uma cópia de um contrato que firmou com outra empresa para receber recursos no exterior, mas reclama que, por ser "muito burocrático". Decide, então, recorrer a uma versão mais simples e - claro - "por motivos óbvios", nas palavras dela, sem identificação da empresa Klienfeld Services, offshore ligada ao grupo Odebrecht. A sócia de João Santana, que a exemplo do marido teve a prisão decretada hoje, é clara: aceita pagamentos em euro ou dólar. Diz a mensagem: "Zwi/Bruno Mando cópia do contrato que firmei com outra empresa como modelo. Acho que o nosso pode ser simplificado, este é muito burocrático, mas vcs que sabem. Apaguei, por motivos óbvios, o nome da empresa. Não tenho cópia eletrônica, por segurança. Espero notícias. Segue também os dados de minha conta com duas opções de caminhos. Euro ou Dolar Vcs escolhem o melhor. Grata. Abs Mônica Santana". Para os investigadores da Lava Lava Jato, o bilhete e a ligação com o operador de propinas Zwi Skornicki evidenciam que "ela não pretendia deixar rastros da comunicação e, futuramente, da operação". "O contexto da investigação conduz à conclusão de que Mônica Regina Cunha Moura, João Cerqueira de Santana Filho, Zwi e Bruno Skornicki pretendiam transferir recursos entre eles de forma oculta e no exterior, fora do alcance das autoridades brasileiras, notadamente pelo caráter ilícito da transação", conclui a força-tarefa da Lava Jato. "Destaque-se que Mônica Regina Cunha Moura foi explícita ao afirmar que se tratam de contas suas ("Segue também os dados de minha conta com duas opções de caminhos. Euro ou Dolar"). Não há, com base nas provas e elementos já colhidos ao longo de toda a Operação Lava Jato, causa lícita e razoável que justificasse a transação bancária acima arquitetada", critica o MP. Depois de o Partido dos Trabalhadores ter tentado emplacar a tese - fracassada - de que os pagamentos do escândalo do mensalão se resumiram a caixa dois de campanha, procuradores da força tarefa da Operação Lava Jato tomaram a frente para minar, desde esta segunda-feira, a possibilidade de o dinheiro recebido pelo marqueteiro João Santana no exterior ser meros recursos não contabilizados à Justiça Eleitoral. Para o procurador Carlos Fernando Lima, o caso de Santana, que recebeu pelo menos 7,5 milhões de dólares em contas secretas, "não é caixa dois". "É corrupção", resumiu ele. Em nota, a defesa de Zwi Skornicki classificou a prisão como "desnecessária", "já que desde a nona fase da Operação Lava Jato, denominada "My Way", Zwi Skornicki sempre esteve no Brasil e à disposição das autoridades públicas para prestar esclarecimentos".

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