sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Francês Jérôme Valcke leva pontapé no traseiro do Comitê de Ética da Fifa, banido do futebol por 12 anos


O Comitê de Ética da Fifa informou nesta sexta-feira (12) que o ex-secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, foi suspenso por 12 anos de qualquer atividade relacionada ao futebol. A medida começa a valer imediatamente e ele terá que pagar uma multa de 100 mil francos suíços (cerca de R$ 408 mil). Ou seja, ele levou um pontapé no traseiro, praticamente está banido do futebol mundial. As investigações foram iniciadas após relatos de irregularidades envolvendo a venda de ingressos da Copa do Mundo. Durante o procedimento, outros atos irregulares vieram à tona. Eles estariam relacionados a políticas de despesas de viagens da entidade, direitos de TV e destruição de provas. Segundo o comunicado, o francês violou vários artigos do código de ética, entre eles os relacionados a lealdade, confidencialidade, conflitos de interesse e oferecer e aceitar presentes. De acordo com o relatório final apresentado em 5 de janeiro no comitê, uma empresa de marketing esportivo levou vantagem na venda de ingressos para a Copa do Mundo. No entendimento da investigação, Valcke nada fez para impedir e ainda incentivou a prática. Outra acusação diz respeito a uma tentativa de venda dos direitos de transmissão das Copas de 2018 e 2022 por preços abaixo do valor de mercado no Caribe. O ex-secretário-geral também é acusado de viajar com objetivos turísticos e em vôos privados às custas da Fifa e de tentar destruir pastas e arquivos relevantes para as investigações, mesmo tendo conhecimento do dever de colaborar com elas. O processo contra o francês foi aberto em 7 de janeiro e inicialmente pedia uma suspensão de nove anos. O ex-dirigente, que tinha sido suspenso provisoriamente no ano passado, acabou demitido seis dias depois da abertura.  Valcke havia sido afastado do seu cargo em setembro de 2015, quando o empresário Benny Alon afirmou na Suíça que o dirigente ficava com parte do dinheiro de ingressos da Copa de 2014 revendido com ágio. Alon, que não apresentou provas de que Valcke realmente lucrou com entradas do Mundial, é sócio da JB Sports & Marketing, que tinha um contrato para fornecimento de ingressos da Copa com a Fifa. Ele afirmou que fez um acordo com Valcke para vender os ingressos do Mundial com ágio de 200% no mercado negro. Em troca, segundo o empresário, a JB Sports e Valcke dividiriam os lucros meio a meio. De acordo com o jornal "The Guardian", a JB Sports tinha envolvimento com a Fifa desde a Copa do Mundo de 1990, na Itália, e assinou um contrato em 2010 para vender 8.750 ingressos para o Mundial do Brasil, em 2014. O acordo garantia ingressos para os 12 melhores jogos do torneio, assim como para os 12 piores. Ainda segundo o jornal, um ingresso para as oitavas de final, com valor de face de US$ 230,00 era vendido por US$ 1,3 mil. O ex-secretário-geral da Fifa já estava sob pressão por causa de uma carta que mostra que ele recebeu o pedido de repasse de US$ 10 milhões que as autoridades americanas alegam ser propina de esquema de corrupção no futebol. Segundo documento divulgado pelo canal sul-africano SABC, Valcke recebeu uma solicitação por escrito no dia 4 de março de 2008 do ex-presidente da Associação de Futebol Sul-Africana, Molef Oliphant, pedindo a transferência desse montante para Jack Warner, então presidente da Concacaf, a Confederação de Futebol das Américas do Norte e Central. Valcke, jornalista com passagens pelos departamentos de esportes de TVs francesas, assumiu cargo na Fifa pela primeira vez em 2003. Era o diretor de marketing e TV quando a Fifa trocou como patrocinadora a Mastercard pela Visa, empresas de cartão crédito, numa negociação que gerou processo nos Estados Unidos e sua demissão. Blatter demitiu Valcke em dezembro de 2006, depois de a Fifa ser multada em mais de US$ 60 milhões porque, segundo a Justiça americana, não respeitou cláusula do contrato com a Mastercard. Para surpresa de todos que acompanharam o caso, sete meses depois, em julho de 2007, Valcke foi nomeado secretário-geral da entidade, cargo que dá autonomia para cuidar dos preparativos da Copa do Mundo. Valcke participou da organização da Copa da África do Sul, em 2010, e da organização do Mundial do Brasil, no qual se envolveu em polêmicas ao criticar costumeiramente os atrasos nos preparativos. Na mais conhecida, em março de 2012, ele afirmou que o Brasil precisava de um "chute no traseiro" para acelerar as obras. O governo federal recebeu mal, cobrou a Fifa, e a resposta foi que a frase, em francês, foi mal-interpretada e significava "acelerar o passo".

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