domingo, 14 de fevereiro de 2016

Ex-donos da Seller planejam cobrar na Justiça R$ 140 milhões do BTG

A família Furlan, que fez o pedido de falência da varejista após o atraso do pagamento de uma parcela em dezembro do ano passado, agora quer cobrar do BTG, que controla a rede, o restante do pagamento, já que o referido atraso teria provocado vencimento antecipado do saldo do contrato. O valor seria de R$ 150 milhões, ou cerca de R$ 140 milhões se considerado o valor já depositado em juízo pela Leader após o pedido de falência, de pouco mais de R$ 7 milhões. 


O entendimento dos fundadores da Seller é de que o endividamento da Leader acabou provocando a deterioração das garantias previstas em contrato. Isso porque, explicam fontes, o BTG, em vez de injetar dinheiro na companhia por meio, por exemplo, de um aumento de capital, ampliou a dívida da empresa. Dessa forma, a empresa foi subcapitalizada, ou seja, ela não possui capital social suficiente que sirva de garantia aos credores, já que passou a existir um descompasso entre o patrimônio e sua dívida. Isso, no caso da Leader, teria ocorrido porque os sócios emprestaram dinheiro à empresa, tornando-se, dessa forma, também credores. Logo após os fundadores da Seller realizarem o pedido de falência da Leader, o BTG informou ao mercado que a Leader já discutia os valores pleiteados pelos antigos donos da Seller, “em virtude, dentre outros motivos, de inconformidades patrimoniais e contábeis da Seller que foram verificadas na conclusão do negócio”. Em contestação na Justiça, a Seller afirmou que tal alegação foi feita apenas depois da cobrança do crédito, de forma a justificar a inadimplência. Uma fonte próxima do BTG afirmou, no entanto, que o contrato de venda da Seller para a Leader previa o mecanismo de arbitragem e que, diante da falta de consenso em relação ao valor devido, por conta de tais “inconformidades”, esse deve ser o caminho a ser seguido. A mesma fonte disse que está sendo formada a arbitragem. Do valor total de R$ 520 milhões do contrato de venda da Seller, restava no início de 2014 um montante de R$ 170 milhões que deveria ser pago em cinco parcelas anuais a partir de novembro daquele ano, conforme previsto em contrato. Só uma dessas cinco parcelas, porém, foi paga em dia e, segundo as fontes, depois disso começaram os atrasos. Os prazos chegaram a ser adiados por cinco vezes, dizem as fontes. O vencimento de novembro de 2015 foi postergado até ser definido um aditivo de contrato. Nele ficou estabelecido que essa fatia seria dividida entre os meses de novembro de 2015 a maio de 2016 – os demais prazos nos anos seguintes foram mantidos. A primeira parte, de novembro, foi paga, mas a de dezembro, assim como a de janeiro, não teve pagamento. Essa foi a razão, inclusive, de os fundadores da Seller pedirem a falência da Leader no final do ano passado. Com essa inadimplência, a família Furlan pede antecipação das demais parcelas, sendo que originalmente a última delas teria vencimento apenas em novembro de 2018. No total, assim, cobra-se cerca de R$ 150 milhões. O BTG queria transformar a Leader numa plataforma de consolidação do setor varejista. A incorporação da Seller marcava esse objetivo, mas, assim como ocorreu com outra aposta do banco no setor de varejo, a Brasil Pharma, dificuldades na integração das redes levaram à deterioração de resultados operacionais, agravados em meio à retração do consumo no Brasil. Na contramão, a dívida foi crescendo para financiar esse objetivo de expansão. Aliado ao alto endividamento, o cenário de venda fraca pressionou o caixa da empresa. A crise da Leader se evidenciou em meio ao processo de venda de ativos pelo BTG iniciado após a prisão de Esteves, em novembro. Mas a venda da varejista é dificultada justamente pela sua crítica situação financeira. O BTG chegou a contratar a consultoria do executivo Enéas Pestana, ex-Grupo Pão de Açúcar (GPA), para reestruturar a empresa. O trabalho, porém, se encerrou no final de 2015. Além da Leader, outras empresas do portfólio do BTG têm o próprio banco entre os principais credores. Um exemplo é a Brasil Pharma, que recentemente realizou uma emissão de ações com esforços restritos, com o BTG investindo o correspondente a R$ 400 milhões, sem nenhum outro investidor interessado. Com isso, a instituição financeira viu sua fatia na rede de farmácia aumentar de cerca de 40% para 96%. Com o dinheiro que foi para o caixa da Brasil Pharma, a empresa pagou antecipadamente debêntures que estavam nas mãos do próprio BTG. Agora, a empresa renegocia, conforme admite em seu formulário de referência, R$ 355 milhões relativos a empréstimos de capital de giro e financiamento com os principais credores. 

Nenhum comentário: