segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Bolivianos rejeitam em referendo nova reeleição do indio trotskista e cocaleiro Evo Morales

Os bolivianos rejeitaram neste domingo por uma apertada maioria uma reforma constitucional, votada em referendo popular, que permitiria ao ditador indio trotskista cocaleiro Evo Morales candidatar-se a um novo mandato presidencial e se manter no poder até 2025, segundo dados extraoficiais, divulgados por canais privados de TV. A emissora ATB deu a vitória ao "Não" por 52,3% dos votos, contra 51% registrados pela concorrente, Unitel. O voto no "Sim" teria obtido 47,7% segundo a primeira e 49% de acordo com a segunda. Se os resultados extraoficiais se confirmarem, esta seria a primeira e mais séria derrota eleitoral direta do ditador boliviano, há dez anos no poder, embora em 2015 seu partido já tenha perdido cargos-chave nas eleições municipais. Isto o obrigaria a passar a faixa presidencial no início de 2020, quando finalizar seu terceiro mandato. "A Bolívia disse não!", disse, eufórico, o governador de Santa Cruz (leste), Rubén Costas, líder de um setor da oposição, enquanto o ex-candidato presidencial Samuel Doria Medina, derrotado duas vezes por Morales, avaliou: "recuperamos a democracia e recuperamos o direito de escolher". "Hoje foi sepultado o projeto de transformar o nosso país em um projeto de um único partido. Esta é a vitória do povo", disse Doria Medina, em coletiva de imprensa. Mais cedo, o vice-presidente Álvaro García havia dito, antes de serem divulgados os resultados extraoficiais: "nós viemos do povo, acatamos o que o povo disser, apoiaremos o que o povo vá manifestar, vá decidir ou vá fazer agora e nos anos seguintes". A presidente do Tribunal Supremo Eleitoral, Katia Uriona, considerou que o dia de votação "transcorreu em absoluta normalidade", exceto "um caso isolado" em Santa Cruz, onde alguns eleitores, incomodados com atrasos, queimaram urnas vazias. Os centros de votação começaram a fechar às 16h00 locais (17h00 de Brasília). Mais cedo, Evo Morales, o primeiro indígena a governar a Bolívia, votou na região de Chapare, no centro do país, e pediu "um recorde" de participação nas urnas. "Meu grande desejo é bater o recorde de 2009, no qual participaram 96% dos eleitores. Seria um dia histórico", declarou. "Gostaríamos agora passar esta cifra, seria um dia histórico que pela primeira vez, com o voto do povo, se modifique uma Constituição e saber se me querem ou não", disse. Em uma consulta em que o voto é obrigatório, cerca de 6,5 milhões de bolivianos devem decidir sobre a reforma da Constituição, que autorizaria Morales a concorrer a outro mandato de cinco anos, de 2020-2025. Outros 300 mil bolivianos o fizeram do exterior. O chefete esquerdista, trotskista, que iniciou seu primeiro governo em 2006 e que já foi reeleito duas vezes, detém o recorde de permanência no poder desde a independência do país, em 1825, apoiado em um sólido crescimento no país que aumentou a sensação de bem-estar de seus habitantes, além da reivindicação da população indígena. Até a semana passada, os partidários da reforma constitucional para permitir que Morales se candidate a um quarto mandato consecutivo estavam empatados. Mas as acusações que o afetam diretamente começaram a mudar o panorama e, segundo pesquisas recentes, os partidários do Não (47%) superariam os do Sim (27%). A consulta popular, que a princípio parecia ser favorável para o governo - Morales esperava vencer com 70% dos votos -, complicou-se nas últimas semanas para o presidente, um dos últimos expoentes do Socialismo do Século XXI no poder, por acusações de corrupção. Morales, de 56 anos, se viu envolvido no escândalo de tráfico de influência em favor de sua ex-amante, Gabriela Zapata, que aos 28 anos é uma alta executiva da empresa chinesa CAMC, com contratos com o Estado no valor de 576 milhões de dólares. A Controladoria e o Congresso investigam o tema. O presidente negou qualquer crime de tráfico de influência a favor de Gabriela Zapata, com quem teve um filho há dez anos, já falecido. Estes fatos eram desconhecidos na Bolívia. Morales também foi prejudicado pelas consequências de um ataque na quarta-feira passada contra a prefeitura de El Alto, em poder da oposição, que deixou seis mortos pela inalação da fumaça após os incêndios, provocados por membros da quadrilha governista Movimento ao Socialismo (MAS).

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