domingo, 24 de janeiro de 2016

José Dirceu indicou Renato Duque para a Petrobrás, diz empresário



O empresário Fernando Moura, ligado ao PT e delator da Operação Lava Jato, afirmou que foi do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula) ‘a palavra final’ da nomeação do engenheiro Renato Duque para a Diretoria de Serviços da Petrobrás, um dos focos do esquema de corrupção instalado na estatal petrolífera entre 2004 e 2014. Ele atribuiu a informação ao ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira. Moura contou que a presidente Dilma Rousseff, então ministra das Minas e Energia, participou de uma reunião ‘na ante sala de José Dirceu’ na Casa Civil, em fevereiro de 2003 – início do primeiro mandato de Lula na Presidência -, para decidir quem assumiria os cargos estratégicos na Petrobrás. As revelações de Moura, que foi preso na Operação Lava Jato em agosto de 2015 e solto por virar delator, contradizem Dirceu, que sempre negou ter sido o responsável pela indicação de Duque para a Diretoria de Serviços. Duque está preso desde abril de 2015, já condenado por corrupção e lavagem de dinheiro e réu em outras sete ações penais na Justiça Federal do Paraná. O empresário disse que um amigo dele, Licínio Machado, ‘trouxe o nome do Renato Duque, através de um ex-diretor da área de Exploração e Produção da Petrobrás’. Fernando Moura declarou que, na ocasião, estava empenhado com o secretário do PT, Silvinho Pereira (o "Land Rover") na tarefa de indicar nomes para escalões importantes das estatais e ministérios. Ele disse ao juiz Sérgio Moro que ‘no computador do PT tinha uma lista de 32 mil cargos de confiança’. Ele disse que ajudou a fazer a ‘seleção partidária’. “Eu ajudei. Quem estava desenvolvendo isso era o Silvio e o Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT). Teve reunião no final de novembro (de 2002), foi numa área social do Banco do Brasil em Brasília, ficava lá a equipe do PT, o Silvio, o Delúbio". Segundo o empresário, houve um encontro com Silvio Pereira no Hotel Sofitel na Avenida Sena Madureira, em São Paulo: “Foi quando tive o primeiro contato com o Duque". Segundo Moura, o nome de Renato Duque ‘foi aprovado’ no dia 1º de fevereiro de 2003. “Pelo que o Silvio me informou teve uma reunião em Brasília. Participaram, além do Silvio, o José Eduardo Dutra, a ministra Dilma, que era ministra das Minas e Energia, o Luiz Gushiken, o Delúbio Soares. O José Dirceu não estava, a reunião foi na ante sala dele na Casa Civil prá indicação de todos os cargos (na Petrobrás). O cargo de presidente ficou com o Dutra, a Diretoria de Abastecimento houve pedido do Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda do Governo Fernando Henrique Cardoso) para o (Antonio) Palocci prá manutenção do Rogério Manso que vinha do governo FHC. Prá área de Gás, o Ildo Sauer, pedido direto do Lula. Prá Exploração e Produção a Dilma indicava o Rogério, não era o nome dele, foi trabalhar depois na OSX. Aí o Dutra discutiu que o sindicato estava indicando Guilherme Estrêla. Havia uma reivindicação de duas pessoas prá área de Serviços, uma era o Varela, que já vinha do FHC. Quem estava indicando era o Delúbio. E o Duque houve esse impasse. Quem vai ser, quem não vai ser. Chamaram o ministro da Casa Civil prá opinar. Ele (José Dirceu) perguntou: quem tá indicando o Varela? O Delúbio não podia falar que era ele, falou é uma indicação do Aécio. Quem pediu pro Delúbio foi o Dimas Toledo, que era de Furnas, uma indicação do Aécio até. Aí o Zé falou: o Aécio já foi contemplado com o Dimas, então fica o Duque". O juiz Sérgio Moro perguntou: “Então, a última palavra foi o José Dirceu?” “Foi, a última palavra foi”, disse o empresário delator. “O Silvio Pereira que me informou tudo isso, ele estava presente". Moura disse que conheceu José Dirceu ‘há uns 30, 40 anos’. Aproximou-se mais do petista em 1985, quando José Dirceu se candidatou a deputado estadual em São Paulo. Quando Lula foi eleito pela primeira vez em 2002 procurou Dirceu e disse que ‘tinha interesse’ em trabalhar com ele na Casa Civil. “Ele (Dirceu) disse que eu era amigo dele, mas não confundia as coisas, não gostaria de me levar para a Casa Civil. Se eu tivesse uma empresa poderia ajudar a fazer alguma coisa com o governo". O juiz Sérgio Moro indagou se a ajuda seria por meio de contratos. “Isso.” “Eu tinha uma ligação com o Silvio Pereira por causa daquela eleição do Zé em 1985. Me aproximei dele e achei condições de arrumar alguma coisa com ele e o Delúbio. Eles estavam fazendo a coordenação dos cargos (de confiança)". “Nessa oportunidade o Lula chamou o Silvio e o Delúbio prá saber o que eles queriam. Eu acompanhei o Silvio, ele queria ser presidente dos Correios. Já tinha conversado com o Luiz Gushiken sobre isso. Eu brinquei com o Silvinho, a liturgia do cargo não se reivindica, se aceita. O Delúbio entrou primeiro e saiu chutando o pé. O Lula perguntou o que ele queria ser. O Delúbio queria ser presidente do BNDES. O Lula disse que ele pediu mais que seu tamanho. O Lula queria que ele ficasse no partido e o Silvinho organizasse todos os contatos com todos os partidos e que teriam livre acesso em todos os Ministérios. O Silvinho entrou, Lula fez a mesma coisa, falou que não ia dar o cargo nos Correios, mas pediu que organizasse a festa da posse para 100 familiares que ele não conhecia direito. Encostei no Silvio, fiquei ajudando ele nos contatos com os deputados dos outros partidos". “Tinha um programa no computador do PT de todos os cargos do governo. Era assim, quem pesquisou, quem indicou e o nome da pessoa prá que cargo correspondia. Aí constava esses 32 mil cargos". O juiz Moro perguntou: “Eles ficaram de fazer essa seleção partidária?” “Eles fizeram essa seleção e depois isso aí era encaminhado não sei se pro Secom para analisar porque cada cargo aparecia assim, 10 ou 12 reivindicações de partidos diferentes e até do próprio PT. Aí fique junto com o Silvinho nisso aí. Foi quando surgiu oportunidade de indicar o Renato Duque".

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