domingo, 17 de janeiro de 2016

Fundos internacionais têm 100 bilhões de reais para comprar empresas no Brasil

Os fundos de investimento que andam à caça de empresas para comprar no Brasil têm US$ 25 bilhões (R$ 100 bilhões) na agulha para aplicar em países emergentes, segundo levantamento do Bradesco BBI, um dos principais bancos de negócios do país. Seus principais alvos são empresas de energia, concessões na área de estradas, aeroportos e saneamento pertencentes a grupos envolvidos na Operação Lava Jato, e também negócios de ocasião nas áreas de educação, saúde e imobiliária. No ano passado, fundos como o brasileiro GP, a canadense Brookfield ou o GIC (fundo soberano de Cingapura) desembolsaram cerca de R$ 23 bilhões apenas nas 12 maiores aquisições de empresas brasileiras. O levantamento do BBI, feito para consumo interno, ressalta que em oito dessas operações os fundos compraram o controle da companhia, e não apenas uma fatia. "É uma mudança marcante", afirma Leandro Miranda, diretor-gerente do Bradesco BBI: "Até pouco tempo atrás, esse tipo de investidor preferia comprar participações minoritárias. Agora, busca o controle e aceita pagar bem mais por isso".

Envolvida na Lava Jato, no ano passado a Camargo Corrêa colocou no mercado duas de suas empresas mais cobiçadas. Num piscar de olhos, vendeu a Alpargatas inteira por R$ 1 bilhão, quase o dobro do que a empresa valia na Bolsa. Já a InterCement, segunda maior cimenteira do país, encalhou porque o grupo queria vender no máximo 18% da companhia. Os investidores, especialmente os estrangeiros, perseguem a posição de controle porque estão com mais poder de fogo por causa da desvalorização do real. Ao mesmo tempo, as empresas brasileiras valem menos em reais porque seu desempenho foi afetado pela recessão. "Hoje é possível comprar uma empresa de R$ 1 bilhão com US$ 250 milhões. Não dava para fazer isso no primeiro semestre do ano passado", afirma Marco Gonçalves, sócio responsável pela área de fusões e aquisições do banco BTG Pactual. Os fundos de investimentos são farejadores de oportunidades, que aceitam correr riscos em troca de retorno alto. Mas a crise brasileira também trouxe para o jogo grandes grupos empresariais que acham que a crise vai passar e querem se estabelecer no país. Os chineses da China Three Gorges pagaram R$ 13,8 bilhões por duas hidrelétricas do governo. O grupo italiano Gavio comprou a maior parte da EcoRodovias, da CR Almeida, por R$ 2,2 bilhões. "O Brasil tem boas empresas, o mercado interno é grande, e está barato", diz Flávio Valadão, diretor da área de fusões e aquisições do Santander. "Os estrangeiros devem manter o interesse aqui, especialmente os asiáticos." Para aumentar a tentação, na semana passada a Petrobras decidiu colocar à venda seus 36% na Braskem, maior petroquímica da América Latina, que a estatal controla com a Odebrecht. A queda no preço do petróleo levou junto o da nafta, principal matéria-prima da petroquímica, enquanto a valorização do dólar multiplicou as receitas de exportação. Segundo os analistas, hoje a Braskem "imprime dinheiro" e só foi colocada à venda porque a Petrobras precisa reduzir sua dívida. "Este parece ser um momento único na história, pela quantidade de bons ativos de empresas brasileiras que podem ser colocados à venda", afirma Alessandro Zema, diretor gerente do banco do Morgan Stanley, um dos mais conectados com investidores estrangeiros.

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