domingo, 24 de janeiro de 2016

Ex-vereador do PT que negocia delação cita ex-ministro Carlos Gabas



No curso da negociação de uma delação premiada, o ex-vereador Alexandre Romano (ex-PT) apontou o ex-ministro da Previdência, Carlos Gabas, teria influência nas indicações para a Petros, fundo de pensão da Petrobras, e que os indicados "sabiam da necessidade do PT em arrecadar". Em depoimento à Polícia Federal, Romano disse que Gabas — hoje secretário especial do Ministério da Previdência — "teria enorme influência nas indicações". No esboço de acordo, ele disse que "todos os indicados sabiam da necessidade do Partido dos Trabalhadores em arrecadar e da importância da Petros" para isso. Apelidado de "Chambinho", Romano foi vereador em Americana (SP) e é réu na Operação Lava Jato. Segundo as investigações, recebeu propina da empresa Consist, contratada pelo Ministério do Planejamento. Em agosto de 2015, foi preso e ficou em Curitiba até outubro. Hoje cumpre prisão domiciliar. Chambinho, que é advogado, disse à Polícia Federal que, em 2012, Lício da Costa Raimundo, amigo de Gabas e do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, se associou a seu escritório de advocacia. Mas teve que deixar a sociedade, em 2013, para assumir a diretoria do Funpresp (Fundo de Previdência dos Servidores Federais) por indicação de Gabas. Hoje, Lício é diretor de investimentos da Petros. O ex-vereador disse também que, com a chancela do ex-presidente da Câmara Marco Maia (PT), indicou a sócia Thaís Brescia para a gerência da Petros. Ela não ocupa mais a diretoria. Em seu depoimento, Chambinho contou ter sido apresentado a Gabas pelo ex-tesoureiro do PT. Segundo documento obtido pela Folha, Chambinho disse que "o senhor João Vaccari seria o responsável, no PT, pela nomeação em diversos fundos de pensão federais, notadamente Funcef e Petros". O ex-petista acrescentou que Vaccari o apresentou a Gabas, "na época secretário-executivo do Ministério da Previdência, pessoa da mais alta confiança do sr. João e do PT". À Policia Federal, Chambinho disse que com a prisão de Vaccari, a Petros "ficou sob responsabilidade do sr Wagner Pinheiro (ex-presidente da ECT e da Petros)", mas que Gabas tinha forte influência. O ex-vereador afirmou que Lício "nunca teve experiência de mercado e não saberia efetuar os necessários contatos com os estruturadores e gestores dos fundos que permitiriam obter comissões". E que a tarefa ficou a cargo de Brescia. Com base nesse depoimento, a Polícia Federal solicitou a quebra de sigilo fiscal, telefônico e bancário de diretores e ex-diretores da Petros. Titular da Previdência entre 2010 e 2015, Gabas é próximo da presidente Dilma Rousseff. Em agosto de 2013, levou a presidente para um passeio na garupa de sua motocicleta Harley-Davidson. Chambinho ainda não teve seu pedido de delação homologado. Em depoimentos, disse que, entre 2010 e 2012, dividia com o ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e com Vaccari, propina oriunda de contratos na pasta. Investigadores dizem que os desvios na pasta chegam a R$ 51 milhões. O secretário Especial do Ministério da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, negou influência nas nomeações para a diretoria da Petros, o fundo de pensão da Petrobras. "Sou órgão fiscalizador. Imagine. Não tenho responsabilidade nisso. A indicação cabe ao presidente da Petrobras". Diferentemente do que afirmou o ex-vereador petista Alexandre Romano, o "Chambinho", Gabas disse que não indicou o economista Lício da Costa Raimundo para a diretoria de Investimentos da Petros. "Nunca ouvi falar desse depoimento. Desconheço. Esse moço andou falando até a tampa. Não tenho responsabilidade nessa história. Lício não é meu amigo, não é meu conhecido, não é meu nada", afirmou Gabas, ressalvando, porém, que, até onde sabe, Lício "não é envolvido em confusão". Gabas disse ainda não ter sido citado pelo Ministério Público nem pela Polícia Federal. A Petros afirmou por intermédio de sua assessoria que "não teve acesso a nenhum pedido de quebra de sigilo de seus diretores, nem tampouco a nenhuma decisão deferindo tal medida". A nota diz ainda que "os nomes da atual diretoria foram indicados pela patrocinadora e aprovados pelo Conselho Deliberativo da Petros". O advogado de Chambinho, Antonio Augusto Figueiredo Basto, disse que não poderia se manifestar. Luiz Flávio Borges D'Urso, advogado de João Vaccari Neto, disse que não poderia se manifestar por desconhecer o depoimento. 

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