quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Separados por ditadura argentina, mãe e filho se reveem após 38 anos


Aos 38 anos, o argentino Mario Bravo conheceu sua mãe biológica nesta terça-feira (1º). Ele é o 119º neto recuperado pelas Avós da Praça de Maio, que busca os filhos, hoje adultos, de militantes políticos que desapareceram na última ditadura militar do país. A mãe de Mario, Sara, está viva e tem 59 anos. É um caso raro encontrado pelas Avós, o sexto desde que esses filhos começaram a ser localizados, ainda nos anos 1980. A história da maior parte dos "netos" é que os seus pais foram mortos pela repressão. Sara foi sequestrada em julho de 1975, meses antes do golpe militar que daria início à ditadura (1976 a 1983). Ela ficou presa cerca de um ano e meio, em delegacias e depois na cadeia de Villa Urquiza, na província de Tucumán, onde engravidou e deu à luz um bebê entre maio e junho de 1976. Segundo Sara contou às Avós, estava encapuzada na hora do parto e só pôde ouvir o choro da criança, entregue a outra família. Líder das Avós, Estela de Carlotto descreveu o encontro de mãe e filho: "Foram longos minutos de um abraço contido por anos por um e por outro", disse: "Achei que não fossem se soltar mais". Mario foi entregue ainda bebê a um casal sem filhos na província de Santa Fe. O pai adotivo morreu quando ele tinha 19 anos; a mãe, há quatro meses. Em casos como o de Mario, os pais adotivos, quando vivos, são processados por apropriação de menores. Mario disse não ter mágoas do casal que o criou. "Não tenho do que me arrepender daqui para trás. Não se pode passar a conta à sua própria família", afirmou. O "neto reencontrado" também descreveu o que conversou com sua mãe biológica quando a encontrou: "Ela me abraçou e me disse que falava comigo quando eu estava em sua barriga, que pensava em mim todos os meses, e chorou. Eu lhe disse que ela fez muito", contou. Mais de três décadas desde a volta da democracia, o paradeiro dessas crianças, hoje adultos com idade ao redor de 40 anos, ainda comove a sociedade argentina. Mario diz que sempre desconfiou de que era adotado, mas ter filhos disparou nele a vontade de conhecer sua verdadeira identidade. "As pessoas se sentem mais sensíveis quando se tornam pais. Isso me moveu", disse. Em fevereiro deste ano, ele procurou as Avós e fez um exame de DNA, que batia com as amostras que Sara havia entregado à entidade em 2007. A partir desta terça (1º), Mario tem seis irmãos - filhos de Sara - e 16 sobrinhos.

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