sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Procurador federal diz que o ex-procurador geral da República, Claudio Fonteles, impediu delações premiadas

O doleiro Alberto Youssef poderia ter delatado políticos já em 2004, em seu primeiro acordo de colaboração premiada, segundo o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos coordenadores da Operação Lava Jato. Mas o procurador-geral da República à época, Claudio Fonteles, não quis, contou Lima. O doleiro fez seu primeiro acordo de delação em 2004 ao ser preso no chamado caso Banestado, que apurava remessas ilegais de dólares por meio de uma agência desse banco em Foz do Iguaçu. "Os assuntos relativos ao deputado José Janene [PP-PR], que era a pessoa com quem ele mantinha o seu pé dentro da política, foram excluídos do acordo pelo então procurador-geral da República, Claudio Fonteles", afirmou ele. Youssef conhecia os negócios ilícitos de Janene porque era quem repassava as propinas pagas em contratos com a Petrobras para parlamentares do PP e diretores da estatal indicados por esse partido. O PP ganhou o direito de indicar diretores da Petrobras quando passou a apoiar Lula. A versão do procurador é uma novidade porque sempre se acreditou que Youssef preservara os políticos em sua delação por estratégia: ele omitira a sua principal clientela para voltar ao mercado de dólares quando estivesse livre. O temor de Fonteles, segundo Lima, era que o Supremo não aprovasse a delação, um instituto novo à época. "Foi dito: façam o acordo na atribuição de vocês aí embaixo. Porque não é possível trazer este assunto ao Supremo e garantir que será homologado". O temor, para Lima, era compreensível porque o país "engatinhava" em relação ao tema das colaborações. Se Youssef delatasse Janene, o caso teria de tramitar no Supremo porque deputados só podem ser investigados por essa instância da Justiça. O congressista, que também foi investigado no mensalão, morreu em 2010. Lima pondera que a omissão pode ter sido produtiva para o combate à corrupção: "Isso pode ter sido uma falha, mas pode ter sido uma decisão sábia. Sem ela, não teríamos a Lava Jato".

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