quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Para Fitch, 79% dos bancos brasileiros enfrentam risco de rebaixamento


Afetados pela deterioração do cenário econômico e pela perspectiva negativa para a nota de classificação de risco do país, 79% dos bancos brasileiros enfrentam risco de rebaixamento. Os dados são de relatório sobre o setor divulgado nesta terça-feira (1º) pela agência de rating Fitch. De acordo com a Fitch, o desempenho das instituições financeiras do país é prejudicado pela perspectiva de recessão econômica prolongada no país, com desemprego, inflação e juros altos, e investimentos reduzidos. Com isso, há redução da demanda por crédito de pessoas físicas e empresas, além de aumento da inadimplência. O quadro pressiona a qualidade de ativos dos bancos, em especial do segmento de varejo. "Boa parte das pessoas físicas e das empresas que tomaram crédito nos últimos cinco anos são empresas novas, pessoas que migraram de classe social, e nunca foram testados em um momento severo de estresse. E esse é um ponto muito importante para ser considerado", diz Claudio Gallina, diretor da área de instituições financeiras da agência. A piora das condições econômicas de parte da população, em especial aqueles com poupança reduzida, pode adicionar ainda mais pressão às carteiras dos bancos, afirma. Além disso, a maior parte dos bancos é influenciado, direta ou indiretamente, pela nota do Brasil, rebaixada em outubro pela Fitch. A mudança deixou o país a apenas um degrau de perder o grau de investimento — espécie de selo de bom pagador —, já retirado pela Standard & Poor's em setembro. A nota foi cortada de "BBB" para "BBB-", com perspectiva negativa, o significa que a nota do país pode sofrer novo corte quando a agência revisar sua avaliação sobre o Brasil. "Se a maioria dos bancos tem sua nota limitada pelo rating soberano do Brasil, isso significa que todos eles também carregam uma perspectiva negativa", afirma Gallina. Assim, caso o país seja rebaixado novamente, a tendência é que a classificação de riscos dessas instituições também sofra alterações. Gallina ressalta, porém, que o movimento não é automático. "Historicamente, é isso que tem acontecido. Mas tudo depende das decisões de um comitê", diz. Segundo a Fitch, bancos pequenos e médios podem sofrer mais com o cenário negativo, já que suas atividades são menos diversificadas e, em geral, concentradas em empréstimos. "Bancos que são muito dependentes de uma única linha de produto ou segmento de cliente sofrerão com o aumento da concorrência dos grandes bancos", afirma a agência. É nesse segmento, também, que surgem as maiores oportunidades de negócios no setor bancário em 2016. Caso haja demora na recuperação da economia, as chances de aquisição de operações dessas instituições financeiras devem aumentar, atraindo bancos da Ásia e do Oriente Médio com interesse no mercado brasileiro. O relatório da Fitch inclui ainda um observação sobre a situação do BTG Pactual após a prisão do presidente e controlador, André Esteves —que renunciou aos cargos no domingo (29). Na semana passada, a agência de classificação de risco colocou a nota do banco sob observação negativa. Eduardo Ribas, analista para o BTG, lembrou que a Fitch está monitorando os desdobramentos da detenção de Esteves. O pior cenário, de acordo com a agência, é um envolvimento das operações do banco nas acusações. O pedido da Procuradoria-Geral da República para manter Esteves preso por tempo indeterminado, feito no domingo, descreve uma anotação apreendida segundo a qual o BTG Pactual teria pago R$ 45 milhões ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje presidente da Câmara, para ver interesse do banco atendido em uma emenda provisória. "O envolvimento do banco, se comprovado, em algum tipo de ato ilegal, é muito mais grave do que o envolvimento do acionista e presidente-executivo. O que estamos monitorando é ver até que ponto as acusações têm fundamento", diz Ribas. Na avaliação da agência, no entanto, ainda que o BTG tenha problemas sérios nos próximos meses, isso não deverá afetar de forma significativa o sistema bancário. Isso porque, em caso de emergência, não há risco de o governo ter de socorrer o banco. "Ele não tem uma franquia de depósitos de varejo. É óbvio que ele é uma contraparte importante nas mesas de tesouraria e teria impacto grande, mas o impacto sistêmico seria aquele em que haveria efeito dominó e isso quebraria vários bancos", o que não é o caso, afirma Ribas. Gallina ressalta, ainda, que a agência não trabalha, atualmente, com a possibilidade de o banco quebrar.

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