sábado, 12 de dezembro de 2015

Indústrias atrasam pagamento de crédito subsidiado do BNDES


Com as vendas em queda por causa da recessão, as empresas estão atrasando as prestações de empréstimos subsidiados pelo governo para a compra de máquinas e querem condições ainda mais favoráveis de pagamento. O pleito, encampado pela Abimaq (que reúne os fabricantes de máquinas), é que as indústrias beneficiadas pelo PSI (Programa de Sustentação do Investimento), operado pelo BNDES, possam ficar 12 meses pagando só os juros sem amortizar a dívida. A associação já levou o pedido aos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Armando Monteiro (Desenvolvimento). "As empresas investiram em aumento de capacidade, mas, devido à crise, as máquinas estão paradas ou subutilizadas. Não há condições de pagamento", diz José Velloso, presidente-executivo da Abimaq. 


Lançado em 2009 pelo governo Lula para estimular o investimento, o PSI foi várias vezes renovado com juros negativos e um custo importante para o Tesouro Nacional. O programa colaborou para evitar que a crise da quebra do banco americano Lehman Brothers, em 2008, contaminasse o Brasil, mas suas constantes prorrogações foram criticadas pelos especialistas devido ao peso fiscal. Só neste ano, com as contas públicas comprometidas, o governo elevou os juros do programa para patamares mais próximos do mercado. Hoje as taxas do PSI variam de 6,5% a 11%. No ano passado, estavam entre 4% e 8%, informou o BNDES. Mas as taxas já foram menores no passado. Pelos cálculos do especialista em contas públicas Mansueto de Almeida, os juros médios do programa entre sua criação e o fim ano do passado foram de 3% ao ano. Segundo o BNDES, o governo desembolsou no período de taxas mais favoráveis (2009 a 2014) R$ 324 bilhões com o PSI. Não há dados isolados para a compra de máquinas. O PSI beneficia também a compra de caminhões e outros itens ligados a investimento. Pelas estimativas de Mansueto, o desembolso informado pelo BNDES representa um volume total de subsídio do governo federal de R$ 23,4 bilhões ao ano. 


Desse total, R$ 9 bilhões teriam que ser repassados diretamente do Tesouro para o BNDES por causa da diferença entre a TJLP (taxa que baliza os juros do empréstimos do banco de fomento) e os juros do PSI. O restante é o custo financeiro indireto da distância entre a TJLP (7%) e a Selic (14,25% ao ano). O BNDES não comenta sobre o pleito dos fabricantes de máquinas. O banco não decide diretamente sobre mudanças na forma de pagamento do programa e executa o que for determinado pelo governo federal. A Fazenda disse que não teve acesso ao pleito e que as condições continuam iguais até o fim do financiamento. A inadimplência do PSI não é divulgada pelo BNDES, por ser uma operação indireta e, portanto, o risco é dos bancos repassadores. Um dos principais bancos atuantes no PSI, o Banco do Brasil, não informa a inadimplência por programa. A Abimaq diz que os atrasos nos pagamentos "ainda não são generalizados". "É para evitar a alta inadimplência que estamos pedindo esse prazo", afirma Velloso. Segundo a associação, a "trégua" de um ano no pagamento da dívida seria acrescentada no fim do empréstimo a juros de mercado, e não subsidiados.

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