terça-feira, 15 de dezembro de 2015

IBGE argentino está em "terra arrasada", diz novo governo


Terra arrasada, caos. Foi dessa maneira que o novo presidente do instituto de estatísticas argentino, o Indec, disse que encontrou o local, apenas 48 horas após a sua posse, na última sexta (11). O economista Jorge Todesca, indicado por Macri para assumir o instituto após oito anos de intervenção kirchnerista, afirmou que os que produziam os dados atuais de inflação "fugiram". 


"Os responsáveis [pela inflação] fugiram antes que chegássemos, a diretoria é terra arrasada", afirmou Todesca. "Nunca imaginei que fosse me deparar como uma situação como essa. Se há uma palavra para definir o quadro que encontramos, essa palavra é caótico", disse ele. "Não há manual, não há metodologia, não há pessoal", resumiu Graciela Bevacqua, nova diretora técnica do Indec. A técnica volta ao instituto após quase nove anos de exílio. Ex-gerente de inflação, Graciela foi intimidada e levada a deixar o instituto em 2007, após a intervenção violenta do governo de Cristina Kirchner para alterar os números apurados pelo Indec. No início, o alvo era o índice de inflação, usado na correção de títulos da dívida pública. Com o tempo, a manipulação se espalhou para outras estatísticas, como pobreza e o cálculo do PIB. Todos esses números serão revisados, avisou Todesca. O primeiro será o de inflação, cuja próxima divulgação, prevista para quarta (16), foi cancelada. 


Não há data para a retomada da divulgação, embora o presidente reconheça a urgência do dado de inflação, pelo número de investimentos financeiros que corrige: "Sabemos que não podemos deixar planilhas em branco, mas ainda não sabemos quando vamos poder preencher esses quadros". Segundo ele, foi iniciado um trabalho técnico para verificar em qual parte do processo de apuração do dado ocorreu a manipulação — na coleta ou no processamento dos preços ao consumidor. A falta de estatísticas confiáveis é um dos pontos que afastaram o país do mercado internacional. Em 2013, o FMI (Fundo Monetário Internacional) censurou o país por alterar seus dados e, na Argentina, nem empresários, nem investidores levam em consideração os números apresentados pelo instituto. No ano passado, enquanto o Indec apurou uma taxa de inflação de 23,9%, o índice Congresso (criado por parlamentares opositores para apresentar um dado quase oficial) marcou 38%. "É incompreensível como uma instituição que funcionava bem tenha se degradado ao ponto em que a encontramos", afirmou Todesca. O economista também é um sobrevivente do kirchnerismo. Dono da consultoria econômica Finsoport, ele passou a fazer estimativas próprias de inflação, o que desagradou o governo. Não tardou para receber uma multa de meio milhão de pesos. A intimidação o levou a buscar a Justiça, processando (e vencendo) o então secretário de comércio, Guillermo Moreno. Por isso, foi considerado um corajoso entre empresários, que mantinham silêncio contra o governo para evitar sanções.

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