terça-feira, 1 de dezembro de 2015

BTG corre para vender empresas


O BTG Pactual está acelerando a venda de seus ativos considerados mais atraentes no mercado para levantar recursos em momento considerado crítico para o banco. Além da fatia de 12% da rede D’Or, que já está em conversas avançadas com o fundo soberano de Cingapura, o GIC, as vendas das participações do banco na rede de estacionamentos Estapar, no Uol e na Petro África também estariam em andamento. Fontes dizem que o banco talvez tenha de aceitar deságios de 15% a 20% para encontrar compradores. O banco pretende se desfazer de todos os negócios que estão sob o guarda-chuva de “principal investments”, que incluem investimentos diretos do BTG em participações em empresas, títulos e ativos imobiliários, informou uma fonte próxima ao banco. Entre 2010 e 2012, o BTG entrou em mais de 40 negócios, nos mais variados setores, de óleo e gás a mineração, de lojas de departamentos a redes de farmácias e empresas de lixo. 


Algumas das empresas que o BTG tem participação já estavam à venda, mas a prisão do banqueiro André Esteves, na quarta-feira passada, dentro da Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobrás, acelerou o processo. O primeiro ativo a ser vendido, como publicado no domingo no estadao.com.br, é a rede D’Or, que administra hospitais. É considerado o melhor ativo em private equity (fatias de companhias) do BTG – a fatia de 12% que a instituição detém valeria cerca de R$ 2 bilhões. O principal interessado no ativo é o fundo soberano de Cingapura, o GIC, que adquiriu 16% da D’Or em maio, por R$ 3,2 bilhões. Depois da D’Or, a rede de estacionamentos Estapar, que está no portfólio do banco desde 2009, é a que atrai mais interesse. O ativo poderia render cerca de R$ 400 milhões à instituição (o BTG tem 75% da empresa). O banco também estaria negociando sua fatia de 5,4% na empresa de mídia UOL e a Petro África, parceria com a Petrobrás que administra refinarias em países africanos. A venda da rede D’Or tem chances de sair mais rápido porque o GIC já conhece bem o ativo. “Eles estão muito satisfeitos com o investimento”, diz uma fonte com conhecimento do assunto. A Estapar também já teria interessados, incluindo a rede de estacionamentos concorrente Moving. Apesar desta negociação, a aposta do mercado é que a venda do negócio ainda leve algum tempo. “Acho que não deve sair imediatamente”, afirma uma fonte. Parte do restante do portfólio de empresas do BTG é considerado problemático pelo mercado – o interesse de investidores pelos demais ativos é limitado. A BR Pharma, braço de varejo farmacêutico do banco, tem dívida superior a R$ 800 milhões e problemas de administração. A instituição havia se comprometido a aportar mais R$ 600 milhões para dar nova vida ao negócio. O investimento deveria ser formalizado agora em dezembro, mas, de acordo com fontes, a prisão de Esteves deve inviabilizar a operação. Outro negócio de varejo, a rede fluminense Leader, também é vista como uma compra ruim do BTG e está passando por um processo de reestruturação comandado por Enéas Pestana, ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar. A BR Properties, empresa de ativos imobiliários e que tem o grupo canadense Brookfield como um dos fortes interessados, vai fazer nesta terça-feira, 1º, em Bolsa venda de um bloco de ações – 17,8 milhões de papéis ordinários (ou 5,9% do total) como forma de levantar recursos rapidamente para a operação. Mesmo esses ativos pouco atraentes precisariam ser vendidos o mais rápido possível pelo BTG. “Se alguém quiser levar, mesmo pagando muito pouco, seria vantagem, pois o banco poderia desativar a área de private equity e cortar custos”, diz uma fonte de mercado. “Não dá para o BTG fingir que está fazendo essas vendas em condições normais.”


Correr contra o tempo para vender ativos nunca foi posição vantajosa para banco algum, ponderou outra fonte do setor. “O BTG está fazendo o que deve ser feito para resolver o problema de curto prazo (venda de ativos), mas não sabemos se será suficiente para recuperar a credibilidade perdida com a prisão de André Esteves”, disse um banqueiro. Mesmo que o banco arrecade o suficiente para manter a operação e a participação de Esteves seja comprada, outro banqueiro diz que há a questão da credibilidade da marca. “São muitos escândalos juntos. Será que os investidores terão coragem de confiar seu dinheiro ao BTG?”, questiona.

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