domingo, 8 de novembro de 2015

Recuperação ambiental na região de Bento Rodrigues vai demorar de 10 a 15 anos


Se a tragédia que devastou o subdistrito de Bento Rodrigues vai demorar a ser superada pelos moradores, a natureza também vai cobrar o seu tempo pela recuperação. Especialistas estimam que vá demorar pelo menos uma década para que a vegetação se restabeleça na região engolida pela lama, possibilitando o desenvolvimento de um novo ecossistema. A revitalização total, porém, é difícil de determinar, já que foram atingidas margem e leito dos rios e a própria comunidade. “O que aconteceu foi uma degradação total pelo rompimento da estrutura vegetativa. Daqui um tempo, o solo vai aproveitar este material que veio com a lama: ferro, sílica, fósforo, manganês, alimentos naturais das plantas. As experiências que temos mostram que, depois de 10, 15 anos, a recuperação da vegetação é quase plena”, explicou o gerente de meio ambiente da Fiemg, Wagner Soares Costa. “O que pode acontecer é que algumas espécies tenham sensibilidade maior, sendo extintas naquela região.” Segundo Wagner, a partir desta revegetação, animais como roedores retornam, reequilibrando a cadeia alimentar. “Neste momento, pelas imagens, ficamos assustados, mas depois tudo se adequa. Vamos ter uma várzea, que é rica organicamente e, em três, quatro anos, se tudo ocorrer bem, alguma evolução”, detalha. Para o geólogo Allaoua Saadi, do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFMG, o tempo de regeneração é difícil de determinar. “São muitos fatores envolvidos. Temos a questão da natureza e da sociedade, que caminham juntas. Leitos e margens dos rios foram afetados e cada um vai ter uma reação diferente. A gente só vai saber quando tiver acesso à área”, afirmou. “Do ponto de vista social, a questão também é complexa: essas pessoas vão querer continuar vivendo lá? Fechar a mina é impensável, pois sabemos o impacto econômico”, completou. Há avaliações bastante negativas, como a da coordenadora do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (Gesta) da UFMG, Andréa Zhouri. “Em geral, são trabalhadores que viviam ali que terão de ser realocados, porque será inviável voltar a morar na área devastada. São mais de 10 quilômetros de lama, não tem recuperação”, alertou. “A região está saturada da mineração e não é mais prudente licenciar obras. É um modelo colonial, ultrapassado, que precisamos discutir e rever.”


Especialistas afastaram, em princípio, a hipótese de haver materiais tóxicos. “Esse tipo de mineração só faz lavagem do minério. Em primeira avaliação, o poluente não é muito grave. Tem que se fazer análise, pois se tiver algum material tóxico, como arsênio, zinco, por exemplo, precisará ser investigado e cobradas explicações”, afirma Saadi.

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