segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Odebrecht põe à venda negócios de R$ 4 bilhões e tenta renegociar dívidas



Navegando pela crise econômica com uma dívida de R$ 98 bilhões a bordo, o grupo Odebrecht trabalha para levantar pelo menos R$ 4 bilhões com a venda de empreendimentos e tenta renegociar R$ 11 bilhões em débitos mais urgentes.  Quarto maior grupo privado do País, com cerca de R$ 110 bilhões de faturamento, a companhia quer reforçar o caixa para investir sem depender dos bancos em 2016 — ano já carimbado pela recessão, dificuldade para conseguir crédito novo e encarecimento na rolagem de empréstimos. Para a Odebrecht, há uma complicação a mais, disseram executivos do alto escalão de seis bancos que têm negócios com o grupo. Dependendo dos desdobramentos da Lava Jato, o mercado, já restrito por causa da crise, pode dificultar ainda mais a concessão de empréstimos. A empreiteira é acusada de corrupção em negócios com a Petrobras e enfrenta investigações em outros países onde atua. O presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, está preso há cinco meses. Para se proteger de um aperto na situação financeira, os executivos da Odebrecht começaram a esquadrinhar os projetos do grupo para definir quais podem render mais e com rapidez. Uma das maiores apostas é a venda da hidrelétrica de Chaglla, que a Odebrecht constrói no Peru. O grupo avalia as primeiras propostas e espera conseguir cerca de US$ 900 milhões (R$ 3,4 bilhões). No Brasil, a operação mais adiantada é a da Odebrecht Ambiental, que tem concessões de saneamento em 18 Estados, em Angola e no México. A empresa montou um pacote com quatro contratos de concessão e ofereceu a investidores uma fatia avaliada em cerca de R$ 300 milhões. Outras duas empresas à procura de sócios são a Odebrecht Transport (concessionária de portos, aeroportos rodovias e metrô) e a Odebrecht Defesa (fabricante de equipamentos militares). A Transport quer um parceiro para assumir de 30% a 40% de sua operação de concessões de rodovias. Avalia ainda sondagens de investidores interessados na compra de outros negócios, como sua fatia na concessionária que explora a linha amarela do metrô de São Paulo. O banco Lazard foi contratado para ajudar nas negociações. Com R$ 1 bilhão em caixa, a empresa planeja investir R$ 3,7 bilhões em 2016. A Odebrecht Defesa, por sua vez, contratou um banco para vender 40% da Mectron, fabricante de mísseis e sistemas de comunicação militar. Uma parte dos recursos da venda da hidrelétrica no Peru será usada na Odebrecht Agroindustrial, segundo a vice-presidente de finanças do grupo, Marcela Drehmer. Endividada, a produtora de etanol precisa de dinheiro novo.  O grupo afirma que o movimento de venda não é motivado pelo alto endividamento e que sempre buscou sócios. Um trunfo são os R$ 25 bilhões em caixa, diz Drehmer. Se for preciso, afirma, o grupo tem patrimônio para vender, como participações numa mina de diamantes na África e a hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia. Os bancos acreditam que a situação financeira do grupo está sob controle, mas que o movimento de venda não é fortuito e a Odebrecht precisa fazer caixa para os próximos anos. Drehmer admite que a empresa está cautelosa. Congelou investimentos novos, cortou funcionários, viagens e serviços terceirizados. Economizou R$ 300 milhões até junho. "Quando você está crescendo, ninguém é muito austero", diz Drehmer. Depois de dez anos de expansão acelerada, em que o grupo quintuplicou de tamanho, a austeridade chegou à Odebrecht.

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