quarta-feira, 4 de novembro de 2015

"É um ajuste tosco, no qual não se está cortando onde seria conveniente"

Ricardo Paes de Barros é um dos maiores especialistas em pobreza e desigualdade do mundo. Ajudou a formular o Bolsa Família, apesar da distância ideológica que o separa do PT. Hoje, ele disse ao Valor o que acha do "ajuste fiscal" do governo Dilma Rousseff: "Pelo que parece é todo um ajuste tosco, no qual se está cortando onde dá para cortar, e não onde seria conveniente. No Brasil, se gasta uma fortuna com a universidade pública. O primeiro ajuste é: vamos cobrar pela universidade pública a mesma coisa que a pessoa pagava quando o filho estava no ensino médio. Eu sei quanto você gastava, porque você pedia dedução no Imposto de Renda. No que eu estou prejudicando o mais pobre? Em nada. O Fundo de Financiamento Estudantil tem um monte de problemas, mas você corta o Fies do cara pobre e mantém universidade gratuita para o rico? Uma família organizada diria: ok, pessoal, nós estávamos dando essa moleza de universidade gratuita para vocês, mas agora apertou. Você tem seguro de saúde? Então, se você usar o SUS, seu seguro de saúde vai ter que pagar o SUS. Por que não? Por exemplo: hoje a desigualdade salarial no setor público é enorme. Então há um ajuste fiscal simples: não aumentar os salários altos. Vai reduzir desigualdade no país, porque esses salários altos só contribuem para a desigualdade. Não acho que o que está sendo feito tenha essa lógica". Na verdade, não tem lógica nenhuma. Na régua que mede a desigualdade entre os países, a lógica deveria ser um fator a ser levado em conta.

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