quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Dilma se pendura em liminar de dia e em discurso radical à noite. Ou: Presidente é estrela de encontro que grita “Fora, Levy!”

O Brasil tem uma presidente da República que, durante o dia, tem de se pendurar em absurdas liminares do Supremo, fingindo decoroso respeito à lei, e, à noite, põe um casaquinho vermelho e deita falação em congresso da CUT, chamando a oposição de golpista, convocado trabalhadores para a resistência — sem dizer exatamente o que isso significa — e acusando o falso moralismo dos adversários, que, segundo ela, não têm moral para derrubá-la. Quem estimulou Dilma a tamanha arrogância? Quem deu a Dilma a certeza de que ela pode desafiar, com esse desassombro, o que vai na Constituição e nas leis, que prescrevem a impeachment em caso de crime de responsabilidade — e, obviamente, não é ela a dar a palavra final? Ora, quem a estimulou ao desatino foi, claro!, o Supremo, com uma decisão francamente incompreensível, que cassou da Câmara o direito de aplicar o seu Regimento Interno. Ayres Britto, ex-ministro do Supremo, ao opinar nesta terça falou, com a devida vênia, uma bobagem da obviedade: lembrou que a presidente só pode ser afastada com o apoio de dois terços da Câmara e só pode ser cassada com o apoio de dois terços do Senado. Mas isso é evidente! Ora, caso Eduardo Cunha recusasse a denúncia da oposição e caso um deputado recorresse ao plenário, não se estaria afastando a presidente ainda, mas apenas, se conseguidos os votos, instalando a comissão especial. NENHUM JURISTA NESTE PAÍS SERIA CAPAZ DE DIZER QUE PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL ESTAVA SENDO VIOLADO PARA QUE O SUPREMO TIVESSE DE SAIR EM SOCORRO DE DILMA. Que fique claro mais uma vez! Cunha conserva, sim, o seu poder de aceitar um pedido de impeachment. E fim de papo. Isso não foi alterado. Age bem a oposição quando decide apresentar uma nova denúncia, incluindo nos motivos do impeachment as pedaladas de 2015 — antes que o Supremo resolva optar, mais uma vez, por exotismos. Dilma, nesta terça-feira, perdeu a tramontana num Congresso da CUT. Demonstrou que esse é um governo que padece de uma síndrome muito dolorosa: chama-se “SARR”: Síndrome da Arrogância Reprimida pela Realidade. A presidente adoraria dar soco na mesa. Mas com que poder? Bastaram três liminares do Supremo para que a mulher, na presença de Lula, chegasse à beira de pedir a luta armada. A seu lado estava Lula, aquele que decidiu, de novo, ser seu tutor, embora, intimamente, adorasse vê-la pelas costas. Ele não teve dúvida: comportou-se como o chefe político da presidente e mandou brasa, discursando quando ela não estava mais presente: “Deixamos de ter apenas uma presidenta para termos uma líder política do Brasil. Dilminha veio para cá outra Dilma. Ela veio dizendo a todos: ‘Eu sei de onde vim e para onde vou’ (...) ‘Não se enganem aqueles que pensam que virei uma mulher apenas preocupada com o mercado’, porque o mercado não votou nela. Quem votou nela foi a peãozada”. Os cutistas presentes urraram de satisfação. E ele foi além. Chamando às falas o ministro Miguel Rossetto, afirmou: “O que Dilma tem de saber é que este País não pode ouvir falar em corte mais uma semana ou um mês. Ele tem de ouvir falar em crescimento e emprego”. Por incrível que pareça, Lula reconhece o estelionato eleitoral de sua sucessora, embora conserve a delinquência política característica de seu partido ao atribuir maldades a adversários: “Nós ganhamos a eleição com um discurso, e os nossos adversários perderam com um discurso. A impressão que nós estamos passando aqui é que nós estamos com o discurso de quem perdeu e eles adotaram o nosso”. E foi adiante: “Não é aquele discurso que parece o Aécio falando, que parece que o Serra falando, não é aquele discurso para parecer que o Bradesco ou o Itaú estão felizes. Não fomos eleitos para isso”. E a plateia gritou “Fora, Levy”. Assim, meus caros, a presidente que pretende ficar mais três anos e dois meses no poder foi a estrela de um evento no qual bateu no peito, arrotou arrogância e se disse a mais moral dos morais. Esse mesmo evento teve como um de seus pontos altos o “Fora, Levy”, que é, a rigor, a única âncora que sobra à governanta. E depois alguns bananas pretendem que o Brasil recupere a confiança. Estamos sendo governados por um bando de incompetentes, por um bando de trapalhões, por um bando de irresponsáveis. Por Reinaldo Azevedo

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