quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Delegado de Polícia diz que não houve crime de ódio no assassinato de haitiano em Navegantes


Após interrogar um adolescente de 17 anos e um homem de 24 anos, o delegado Rodrigo Coronha descartou a hipótese de crime de ódio no assassinato do haitiano Fetiere Sterlin, de 33 anos, em Navegantes. De acordo com ele, o menor confessou ter sido o mentor do ataque e afirmou que a motivação teria sido ciúmes. "Ele confessou o crime e disse que não foi preconceito racial, porque Fetiere teria mexido com a namorada dele. Já pedi a prisão preventiva do maior e a internação do adolescente, além da busca e apreensão de outros três menores de idade", explica. O jovem que assumiu o assassinato contou à polícia que o haitiano teria assediado sua namorada e que os dois teriam discutido. Como o haitiano estava em um grupo maior, o adolescente reuniu alguns amigos e retornou ao local onde estavam os imigrantes, no bairro Nossa Senhora das Graças, para um acerto de contas. Conforme Coronha, o jovem ainda sustentou no depoimento que estava alcoolizado e foi agredido por Fetiere durante a discussão. A versão difere da relatada pela mulher da vítima, a brasileira Vanessa Nery Pantoja. Segundo ela, o casal ia a uma festa no bairro com amigos, também de nacionalidade haitiana, quando três pessoas passaram pelo grupo gritando frases em crioulo — entre eles, o termo "macici", gíria para gay. "O meu marido disse apenas "macici são vocês". Isso foi motivo para eles o jurarem morte. Uns 10 minutos voltaram em umas 10 pessoas e foram pra cima da gente", conta. A mulher do haitiano contou que o grupo portava facas, uma pá e outras ferramentas. Para o delegado, os insultos trocados com os haitianos teriam sido uma forma dos adolescentes provocá-los para a briga. "Além dos depoimentos, testemunhas confirmaram as versões dos menores. O adolescente ainda admitiu ter dado uma facada em Fetiere", observa. Somente nessa quarta-feira mais de 10 pessoas foram ouvidas pela polícia. Os três adolescentes de 14, 15 e 16 anos, que tiveram o mandado de busca e apreensão solicitado pelo delegado, serão ouvidos novamente para esclarecer qual foi sua participação no crime. Outro ponto que ainda precisa ser apurado é o roubo do celular que estava com Fetiere — o adolescente de 17 anos negou que o grupo tenha levado o aparelho. A esposa do haitiano, Vanessa Nery Pantoja, diz que a versão contada pelo adolescente que assumiu a autoria do crime é mentirosa. De acordo com ela, quando ele passou pelo grupo estava acompanhado por outros dois jovens e não por uma mulher. "Isso é mentira, é equivocado o que ele falou. Não existe essa possibilidade. Foi xenofobia sim, foi racismo. Tem cinco testemunhas para falar isso. Eles não chegaram discutindo, chegaram golpeando", garante. A morte do haitiano Fetiere Sterlin teve grande repercussão no País nos últimos dias e levou o Ministério da Justiça a emitir nota oficial na noite de terça-feira. O ministro José Eduardo Cardozo também havia determinado que a Polícia Federal auxiliasse nas investigações. Na nota oficial, o Ministério afirma que o episódio “ofende nossa histórica tradição de acolhida e respeito aos imigrantes que vêm ao Brasil construir suas vidas e que ajudaram, e ajudam, no desenvolvimento socioeconômico do País”. O governo de Santa Catarina e a Secretaria de Assuntos Internacionais também emitiram nota repudiando a agressão que vitimou o haitiano. O texto expressa solidariedade aos familiares da vítima e a todos os imigrantes que escolheram o Estado como residência. A nota destaca ainda que a “diversidade cultural e étnica é um dos diferenciais que engrandece Santa Catarina” e afirma que “é papel do Estado estimular a integração entre os povos e combater toda espécie de preconceito, em especial a xenofobia”. Após quase quatro dias de espera, o corpo de Fetiere foi liberado na tarde desta quarta-feira pelo IML de Itajaí. Como a vítima não era casada legalmente, apenas um parente de primeiro grau poderia retirar o corpo. A mulher dele chegou a conseguir uma declaração de união estável no cartório da cidade, porém o IML não aceitou o documento. Após receber informações do consulado do Haiti no Brasil, o órgão fez a liberação do corpo. Fetiere era isolador naval e trabalhava em um estaleiro de Navegantes desde fevereiro deste ano — ele chegou à cidade há dois anos e logo se casou com Vanessa. Na empresa, era querido pelos colegas e considerado uma pessoa de bom caráter, tranquilo e ótimo profissional. 

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