quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O Partido da Mulher Brasileira e o Partido das Pessoas Alérgicas a Gergelim, que é o meu…

Ai, ai… Observem: toda grande democracia do mundo é bipartidária. E o que se tem? Um grande partido com uma inflexão mais à esquerda e outro grande partido com características mais conservadoras. O que eles exibem em comum? Centros ideológicos que costumam convergir em muita coisa. Por isso, alternam-se no poder sem grandes traumas. No Brasil, ao contrário, os partidos vão se multiplicando. Entendo, muitas vezes, a razão: a realidade nas legendas que temos é de tal sorte amesquinhada que parece impossível fazer política de maneira decente. Parte da responsabilidade cabe, sim, ao presidencialismo — dada a maneira como ele é exercido no Brasil —, ao tamanho do estado e à legislação que garante um dinheirinho do Fundo Partidário para as siglas. As legendas vão brotando de olho no butim do estado e também para, como é mesmo?, “garantir a governabilidade” ao presidente de turno — em troca, claro!, de ministérios, estatais, autarquias, boquinhas… Nos países que são basicamente bipartidários, as duas grandes agremiações contam com suas respectivas correntes. No EUA, existem alas do Partido Republicano que estão mais à esquerda, como existem alas do Democrata que estão mais à direita. Às vezes, um direitista democrata é mais direitista do que um esquerdista republicano… 
O PMB
O PMB é, pasmem!, o 35º partido do país. Digam-me cá: ser mulher é categoria de pensamento? Ser mulher, e só por sê-lo, empresta a alguém uma visão necessariamente de conjunto que, de outro modo, não se consolidaria? É claro que a resposta é negativa, não é? Por isso mesmo, o partido se encarrega de explicar em seu site que o PMB é um partido de “mulheres progressistas” e de “ativistas de movimentos sociais e populares” e que, junto com homens, “manifestaram sempre a sua solidariedade com as mulheres privadas de liberdades políticas, vítimas de opressão, da exclusão e das terríveis condições de vida”. Ah, bom! Uma mulher, digamos, conservadora não poderia pertencer a PMB, certo? Venham cá: ser mulher, então, para o PMB implica ser “progressista”… Se não for, o tal ser é o quê?
No site da legenda, encontro esta maravilha:
“A balança da história está mudando; a força perde seu ímpeto e, com satisfação observamos a Nova Ordem Mundial que será menos masculina, mas permeada pelos ideais femininos ou, melhor dizendo, será uma Era na qual os elementos masculinos e femininos estarão em maior equilíbrio.
Para o estabelecimento da paz mundial, um dos pré-requisitos mais importantes é a emancipação da mulher, ou seja, a concretização da plena igualdade entre os sexos; a negação dessa igualdade perpetra uma injustiça contra metade da população do mundo e promove entre os homens atitudes e hábitos nocivos que são levados do ambiente familiar para o local de trabalho, para a vida política e em última esfera para as relações internacionais.”
Claro, claro… Boa parte dessa metade do mundo que é discriminada, como se sabe, está nos países islâmicos, em que a questão da igualdade não se coloca. E não por uma questão de gênero, mas de religião. A ser assim, só um PGB (Partido do Gay Brasileiro) terá condições de lutar pelos gays; só um PNG (Partido do Negro Brasileiro) terá condições de lutar pelos negros. Ah, sim: alguém poderia propor criação do PBB (Partido dos Brancos Brasileiros). A gritaria seria grande. A propósito: um PHB — Partido do Homem (macho) Brasileiro —, suponho, pareceria um despropósito, né? Afinal, o ser homem já o torna naturalmente um opressor. Vou criar o PPAG (Partido das Pessoas Alérgicas a Gergelim). Só o PPAG terá condições de lutar por pessoas alérgicas a gergelim… Às vezes, o Brasil dá uma pregui… Por Reinaldo Azevedo

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