terça-feira, 15 de setembro de 2015

CPMF: Baixa no governo a Síndrome de Maria Antonieta, e senador governista fala até em elevar a alíquota!

Sei lá que diabo se passa com o governo — além de não saber para onde vai. Afinal de contas, Dilma Rousseff tinha um plano só para ganhar a eleição, como a gente vê. Não tinha um programa de governo. Aliás, entre a irresponsabilidade e a alienação da realidade, parece que ela escolheu as duas. Daí a impressionante lambança oficial do governo com o Orçamento deste ano e com o do ano que vem. A propósito, não custa lembrar: estamos vivendo em pleno déficit fiscal, certo? Todo o debate que remete à recriação da CPMF diz respeito a 2016, amiguinhos. Neste ano, passamos de um superávit anunciado de 1,15% para 0,15% do PÌB — e ele não será feito. O buraco anda pela casa dos R$ 10 bilhões. E déficit foi o que se produziu no ano passado também, escamoteado pelas pedaladas. Tenham a santa paciência! É preciso que se tenha claro o que foi o discurso de Dilma na eleição de 2014: uma grande mentira sobre o passado, sobre o presente e sobre o futuro. Ainda que não houvesse razões legais para o impeachment — e as há em penca! —, haveria as razões morais e éticas. É certo que esse terreno é mais gelatinoso, mais escorregadio, menos objetivo. Mas podemos nos dar por seguros: ninguém precisa apelar a ele para justificar a saída de Dilma, embora a traição, tanto quanto ou mais do que a roubalheira, indigne amplas camadas dos brasileiros. O governo perdeu o eixo, perdeu o norte. Vive em plena Síndrome de Maria Antonieta. A rainha, coitadinha, que era muito menos abestada do que acusava a corte francesa, hostil àquela austríaca, oriunda de uma linhagem de inimigos históricos da França. Mas entrou para a história a frase que ela nunca disse, emblema da alienação política. Segundo a versão, alguém lhe disse que o povo pedia pão, e ela então teria disparado: “Ora, se não tem pão, que coma brioches”. A frase, dada a estupidez, tem cara de uma típica difamação jacobina. Mas aproveito o simbolismo. A Maria Antonieta do dia foi Delcídio Amaral (PT-MT), líder do governo no Senado. De modo muito realista, ele advertiu para as dificuldades de se aprovar a CPMF no Congresso. Hoje, ele sabe que não existem votos para isso. Eis uma maioria que o governo tem de construir. O senador foi claro: “Precisamos trabalhar muito, ainda não podemos falar em aprovação, pelo menos nas atuais circunstâncias”. Certo! Mas aí baixou em Delcídio aquela Maria Antonieta que nunca houve, e ele teve uma ideia para ver se amplia o leque de apoios ao imposto: AUMENTAR A ALÍQUOTA. É, isso mesmo! Vocês entenderam direito. Na forma atualmente proposta, com um 0,2% sobre qualquer transação financeira, o que já não passaria no Congresso, o dinheiro iria todo para a esfera federal — no caso, para a Previdência. O governo acena com a possibilidade de repassar uma parcela para Estados e municípios — nesse caso, então, seria preciso arrecadar mais. Sim, Dilma jantou ontem à noite com 17 governadores e dois vices da chamada “base aliada”. O Planalto insiste na tolice de que os chefes dos Executivos estaduais têm influência relevante sobre as respectivas bancadas federais de cada estado, o que é um outro mito. Isso nunca funcionou. E não vai funcionar agora. Eu fico cá a me perguntar que espírito anima uma tropa que, dada a dificuldade de aprovar um imposto com alíquota de 0,2%, imagina, para sair da dificuldade, que a saída talvez seja aumentar essa alíquota. Eis aí a evidência de um governo que está impossibilitado de encontrar um eixo porque está assentado numa mentira. E outra dificuldade se anuncia, não é? Em momentos difíceis, no passado, o governo petista sempre se safou oferecendo prebendas à base aliada. Essa sempre foi a tônica da negociação. O PT nunca precisou negociar nada com base em princípios, tendo como mediação uma pauta. Se precisava de uma maioria no Congresso, mandava comprar com cargos. Mas, agora, essa moeda de troca também não existe. O momento pede que se cortem cargos, em vez de proceder a uma farta distribuição. Nunca, como agora, foi necessário alguém capaz de falar a língua da articulação política. E, até agora, não se descobriu o nome dessa pessoa. Não tem jeito. Não vai ser um plano de ajuste fiscal, riscado no joelho, elaborado por quem não tem alternativa, que vai abrir a vereda da salvação para Dilma. Por Reinaldo Azevedo

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