quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Governo continua a tomar olé de Cunha e perde até quando o deputado não tem nada com isso. Ou: Uma nova vereda para o impeachment de Dilma

Sei que alguns gostariam que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deixasse de fazer política, para que fosse essa uma tarefa exclusiva do Planalto. Mas não parece que será assim. Na segunda, enquanto Dilma oferecia churrasco à base aliada no Palácio da Alvorada, ele recebia em jantar a mesma base aliada em outro canto. Alguns saíam do convescote com a governanta e iam se encontrar com o presidente da Câmara. Resultado do embate: o PT ficará fora dos cargos de comando das CPIs do BNDES e dos fundos de pensão. Alguma ilegalidade nisso? Nenhuma! Até que o Planalto — com a ajuda do Ministério Público — não consiga tirar Eduardo Cunha de lá, ele vence. Segunda batalha: a Câmara votou nesta terça, contra a vontade dos governistas, regime de urgência para a análise de quatro projetos de decreto legislativo que recomendam a aprovação das contas dos governos Itamar, FHC e Lula — nesse caso, duas. Sem isso, não se podem apreciar as contas de Dilma, que chegarão do TCU — com uma possível recomendação de rejeição. A situação do governo é tão vexaminosa que a tarefa de enfrentar Eduardo Cunha coube ao já folclórico Sílvio Costa (PE), vice-líder do PSC. Aos berros, como é de seu estilo, chamou Eduardo Cunha de “arrogante, ditador, petulante e burro”. Previu que o presidente da Câmara vai se dar mal e insistiu que sua questão com Dilma é pessoal. Resultado do embate: o regime de urgência foi aprovado, e a Câmara fica mais perto de votar as contas de Dilma. A Folha desta quarta informa que, na reunião de segunda, Cunha conversou com deputados sobre uma forma de fazer com que o início da tramitação de uma denúncia por crime de responsabilidade contra Dilma passe pelo plenário. Ele nega o estratagema. Em que consistiria, segundo o jornal? Ele rejeitaria o início da tramitação das denúncias que estão na Casa — são 12 —, mas algum deputado recorreria, o que é permitido pelo Regimento Interno, e a decisão sobre o envio da denúncia para a uma comissão especial seria tomada pelo plenário — nesse caso, por maioria simples. O voto, por óbvio, seria aberto. E, como se sabe, votar a favor de Dilma hoje em dia não é exatamente um ativo que os políticos busquem. Ouvido a respeito, disse o deputado ao jornal: “Alguém pode fazer um ou outro comentário, cada um tem o direito de opinar ou falar o que quiser, mas, da minha parte, eu desminto que tive qualquer discussão acerca disso. Isso é uma coisa muito séria para ser tratada de uma forma jocosa como está sendo colocada”. Vamos ver. Que é regimental, é. Nota: se o parecer da comissão especial concluir que procede a denúncia contra a presidente e se ele for aprovado por pelo menos 342 deputados, Dilma tem de ser afastada da Presidência. A situação do governo no Congresso é de tal sorte caótica que as derrotas se acumulam mesmo quando Cunha não tem nada com isso. A Câmara vai votar nesta quarta o primeiro item da chamada pauta-bomba: a PEC 443, que equipara salários da Advocacia-Geral da União e de delegados aos do Judiciário. Acordo fechado pelo governo com o próprio presidente da Câmara e com líderes partidários adiava a votação para o fim do mês. Na hora do vamos ver, no entanto, deputados não seguiram a orientação. Para Cunha, informa a Folha, o resultado mostra que governo e líderes partidários não têm mais controle sobre as suas bases. “A verdade é que seus liderados não estão dispostos a segui-los. Não se tem controle do plenário". É claro que o País enfrenta uma crise econômica das bravas e que a política se confunde com uma delegacia de polícia. Mas o que realmente espanta, hoje, é a crise de liderança por que passa o governo. Por quanto tempo mais? Por Reinaldo Azevedo

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