terça-feira, 11 de agosto de 2015

Depois de ter família ameaçada, ex-deputado Argôlo cogita fazer delação


Depois de saber de uma suposta ameaça contra sua família, o ex-deputado federal Luiz Argôlo, preso desde abril na Operação Lava Jato, cogita fazer uma delação premiada com a Justiça. A defesa do ex-parlamentar baiano já teve uma conversa preliminar com o Ministério Público Federal, na semana passada. Os procuradores demonstraram interesse em ouvi-lo. Segundo o advogado Sidney Rocha Peixoto, Argôlo tomou a decisão após ouvir o relato do publicitário Aricarlos Nascimento, que trabalhou em suas campanhas na Bahia. Em depoimento à Justiça na semana passada, Nascimento disse que recebeu uma ameaça destinada a Argôlo feita pelo deputado federal Mário Negromonte Júnior (PP-BA). "Ele me disse que, se o Luiz ficasse pianinho, quietinho e não entregasse ninguém, assim que ele saísse de Curitiba seria ajudado para ter um retorno breve à vida política. Mas, se ele não fizesse, já sabia qual era o destino de delator", contou o publicitário. No depoimento, o advogado de Argôlo pediu mais detalhes à testemunha sobre "o destino de delator", no diálogo com Mário Negromonte Júnior. "(Ele) Disse isso, que delator tinha família, tinha mãe, tinha pai, e depois quando aconteciam as coisas, não sabia por quê", relatou Nascimento. Filho do ex-ministro das Cidades, Mário Negromonte Júnior é do mesmo partido ao qual pertencia Argôlo, o PP, até 2013. A sigla é apontada como uma das principais favorecidas pelo esquema de corrupção na Petrobras. Negromonte Júnior chegou a fazer uma "dobradinha" com o investigado na campanha de 2010 na Bahia – Argôlo saiu como candidato a deputado federal, e Mário, como deputado estadual. O depoimento de Nascimento sobre a ameaça foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República, responsável por investigar aqueles com prerrogativa de foro. Segundo Peixoto, o ex-deputado ficou "muito abalado" com a notícia. "Ele levou a sério (a ameaça). Ficou muito mexido, porque tem dois filhos pequenos, uma esposa", disse o defensor. Argôlo, de acordo com o advogado, está relutante a admitir crimes numa eventual delação, mas diz que pode apontar quem participava do esquema. "Ele não tem o que confessar, mas tem informações do tipo 'eu não participei, mas sei como funcionava'", afirma Peixoto. O ex-deputado é acusado de ter recebido vantagens indevidas do doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema de corrupção na Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal, o doleiro pagou móveis, gado, um helicóptero e até cadeiras de roda para Argôlo. Do outro lado, Argôlo teria agido para favorecer os negócios do doleiro na Bahia, a quem chamava de "amor". O ex-parlamentar é réu sob acusação de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro. Sua defesa nega envolvimento no esquema e diz que o relacionamento do ex-deputado com Youssef era puramente comercial.

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